Atitudes de moradores de São José dos Campos em relação a diferentes modelos de constituição familiar

Um estudo que tem como objetivo identificar as atitudes, por parte de moradores do município de São José dos Campos-SP, acerca de diferentes modelos familiares.

1 JUL 2016 · Última alteração: 8 JUL 2016 · Leitura: min.
Atitudes de moradores de São José dos Campos em relação a diferentes modelos de constituição familiar

No decorrer da história humana, o grupo familiar pode ser considerado a organização mais primitiva que talvez tenha se mantido até os dias atuais, porém, as maneiras como se constituiu e vem se constituindo e as considerações sociais acerca dessas mudanças também sofreram variações dentro deste contexto histórico.

Este estudo tem por objetivo refletir acerca dos modos como moradores do município de São José dos Campos – SP descrevem um grupo familiar e como se relacionam com outras possibilidades de constituição deste grupo. Para tanto, foram entrevistadas 102 pessoas residentes do município, com idades entre 25 e 30 anos, considerando o gênero, estado civil, a classe socioeconômica e a orientação religiosa como variáveis associadas às diversas formas de representação do grupo familiar.

Através dos dados coletados, tornou-se possível a reflexão acerca de como os modelos de constituição familiar vem sofrendo transformações não somente sociais, mas também dentro deste contexto em relação à aceitação de suas novas possibilidades de reestruturação. Os resultados da pesquisa revelaram que apesar de as famílias ainda serem consideradas uma instituição tradicional, pela ótica popular à atitude frente a ela veem se modificando ao longo da história, tornando assim possível a aceitação de novas concepções de família.

Análise e conclusão

Esta pesquisa visou compreender os diferentes modelos de família considerando seu caráter histórico e contemporâneo na sociedade. Com isso, tornou-se necessário, em primeira instância, realizar um levantamento bibliográfico, identificando-se assim que a concepção de família é um termo muito complexo e de diversas percepções.

Foi possível perceber que há uma vasta conceituação sobre o que vem a ser uma família, assim como suas características, dados históricos e de que forma ela foi se modificando até os tempos atuais. O levantamento bibliográfico possibilitou observar que o tema família possui uma vasta gama de pesquisas, das mais diversas naturezas, que abordam o assunto a partir de diferentes formas de compreensão.

De posse desta bibliografia e das mais diversas formas de se abordar o tema, criou-se uma ideia de que, se há diversas formas de se perceber a temática escolhida, a mesma poderia ser igualmente pluralizada, possibilitando varias formas de ser. Com isso, tornou-se instrumento de investigação da presente pesquisa a identificação dos modelos de família que coexistem atualmente para os moradores do município de São José dos Campos – SP como forma de identificar as atitudes destes em relação ao tema.

A partir da identificação da temática a ser trabalhada, o próximo passo foi identificar o público alvo da pesquisa. Após diversos debates entre os membros do grupo acerca do assunto, percebeu-se que uma investigação dentro de uma parcela da população mediante diferentes configurações familiares sobre as atitudes, seria o melhor caminho para se chegar aos resultados esperados com o desenvolvimento da pesquisa.

Após o contato com a bibliografia notou-se que, em suma, em sua grande maioria, faz referências à liberdade feminina e a luta dos direitos homossexuais como principais contribuintes para a modificação dos conceitos de família na contemporaneidade. Em vista disto, notou-se que esses temas seriam de extrema relevância para se compreender as concepções da temática.

Além destes dados colhidos na bibliografia é de extrema importância ressaltar que discussões e cenários políticos atuais, movimentos de grupos sociais e grupos de defesas dos direitos homossexuais também foram considerados em relação à formulação de alguns questionamentos presentes em nossa pesquisa.

De posse de todo o material analisado, foi possível levantar duas hipóteses, que acabaram por permear a pesquisa. A primeira afirma que não existe, atualmente, uma perspectiva cristalizada de que família é um núcleo monogâmico, heterossexual, tradicional. A segunda é que novos modelos de famílias estão mais socialmente aceitos.

Com essas hipóteses levantadas, tornou-se importante estabelecer qual seria a metodologia utilizada para se analisar o cenário atual de famílias e confirmar ou refutar as mesmas. Para isso, foi pensado em investigar as representações sociais de sujeitos entre 25 a 30 anos, pois estão em idade produtiva e na idade média na qual o individuo constitui uma família, sendo uma população tida como ideal para se analisar. Contudo, diversas outras variáveis foram surgindo ao longo da elaboração da pesquisa, entretanto, essas variáveis foram sendo incorporadas e, aos poucos, estas deram forma ao instrumento que foi utilizado.

Para se chegar ao instrumento que é constituído de um questionário socioeconômico e uma escala Likert, constituída de 26 questões de múltipla escolha, foram analisadas todas as possibilidades de variáveis encontradas no decorrer da elaboração do projeto de pesquisa. Por fim, após a confecção do instrumento, bastava apenas determinar a população investigada.

Para fins práticos, a população entrevistada foi a de residentes do município de São José dos Campos, município este que abriga o campus da Universidade Paulista, onde foi confeccionado o projeto de pesquisa e onde residiam os pesquisadores. Como o município escolhido contava na dada da pesquisa com uma população média de cerca de setecentos mil habitantes, tornou-se necessário que a amostra tivesse uma quantidade apropriada de participantes.

Cogitou-se inicialmente uma amostra de setecentos participantes, para que a amostragem fosse de 1% da população residente, contudo, o tempo disponível para a apresentação da pesquisa não permitia uma amostragem desta dimensão. Por isso a amostragem foi reduzida para cem participantes, entretanto o numero exato de participantes ficou em cento e dois indivíduos.

Após a realização das entrevistas, o que podemos dizer a respeito dos resultados em relação às nossas hipóteses é que foram confirmadas, mas com algumas restrições. De modo geral, foi percebido que a grande maioria das pessoas não possuem a concepção de que família é um núcleo cristalizado, monogâmico, heterossexual e que a concepção de famílias estruturadas de forma não tradicional – famílias que fogem a regra tradicionalista, que concebem família como um núcleo constituído de um casal heterossexual com filhos – são mais socialmente aceitas atualmente, contudo, a visão mais voltadas a valores tradicionais, ainda existe e se faz muito presente ainda para muitas pessoas.

De modo geral, vimos que o gênero dos participantes não influenciou nos valores obtidos, já que ambos tiveram uma postura neutra em relação a valores modernos e tradicionais. Por outro lado, ficou evidente que a religiosidade teve influência nas respostas dos sujeitos de pesquisa. Estes por sua vez, que se declararam evangélicos ou católicos, tiveram uma postura muito diferente dos sujeitos que se declararam ter outras religiões assim como não declarantes.

Nestes últimos foi evidenciada uma postura com valores mais modernos, enquanto que os sujeitos de pesquisa que se declararam católicos ou evangélicos tiveram uma postura voltada mais a valores tradicionais, demonstrando assim, que a variável religiosidade é um forte determinante para a concepção de família.

Outro aspecto peculiar que apareceu nas respostas foi diante questões envolvendo a liberação feminina e novas constituições de família, onde as respostas emitidas favoreceram a confirmação das hipóteses, pois, de forma geral, os participantes demonstraram uma postura mais favorável a valores modernos ou menos tradicionais. Por outro lado, foi curioso o fato de que sujeitos de pesquisa com status civil casado tiveram uma posição mais conservadora em muitos temas tais como o divórcio, presença de dois genitores no lar, constituição familiar e a própria homoafetividade.

Por fim pode-se afirmar que, para a amostra de residentes de São José dos Campos, a possibilidade de aceitação de modelos mais contemporâneos de família já é uma realidade. Sendo esta uma cidade de população densa, mas ainda preservando toques de interior, o convívio com novos modelos de família surgem de todos os lugares.

Isso pode gerar nos munícipes da cidade um ambiente mais favorável à convivência com estes novos modelos de família e consequentemente a sua melhor aceitação. Contudo, há de se levar em consideração a existência de a possibilidade das mais diversas configurações de famílias emergirem em qualquer lugar e em qualquer momento, tornando assim importante a extensão desta pesquisa a diferentes lugares.

Como foi possível observar nesta pesquisa, novos modelos de famílias estão sendo melhores aceitos pela sociedade e isso é um processo aparentemente irreversível. Diversas formas de configuração e de se conceber uma família já foram catalogadas e explicadas e muitas ainda estão por serem criadas.

Diante disto, como será que a sociedade está lidando com essas novas famílias? Quais as novas possibilidades de configurações familiares existem ou poderão existir? Para qual rumo de configuração familiar a sociedade caminha? Como a sociedade concebe e percebe a família homossexual? Estas tornam-se temáticas interessantes para o desenvolvimento de outras pesquisas como forma de contribuição científica para a sociedade humana.

Foto: por Christopher Rose (Flickr)

Autores: BARROS, A. F. G; SILVA, B. C; SOUZA, F. S.; JUNIOR, M. G. P.; MENNOCCHI, L. (orientador)

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Escrito por

Bruno Caldas Psicólogo e Hipnoterapeuta Clínico

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