Luto por pessoas que nunca conheci
Sofro muito com a perda de pessoas que nunca conheci.
Em 2016, por exemplo, passei um ano de luto por uma moça de 22 anos, cujo falecimento soube através da internet. Ela era uma figura pública, uma cantora, e eu nunca tinha ouvido falar nela antes de descobrir o que havia lhe acontecido. Eu sofri muito, muito mesmo. Como se fosse uma amiga íntima ou uma parente. Chorava TODOS os dias ao lembrar dela, e não conseguia entender o porquê. Com o tempo a dor passou, e hoje em dia consigo ver seus vídeos ou falar sobre ela sem me sentir triste.
No entanto, há sete dias, voltei a experimentar o mesmo luto que vivenciei em 2016, agora com a morte da cantora Marília Mendonça. Eu não sou uma fã, conhecia apenas seu nome e seu rosto, e duas ou três músicas apenas porque as ouvia constantemente através de vizinhos ou comerciais.
Sei que é normal que nos sintamos tristes com a morte de qualquer pessoa, porque a morte em si, principalmente precocemente - como foi o caso -, é difícil de ser compreendida. Sei também que por se tratar de uma figura pública, é comum haver uma comoção maior pelo acontecido. Mas não acho que nenhuma das situações se encaixem no meu caso, porque experienciei a situação mais do que apenas estas duas vezes.
Para simplificar bem: tenho MUITA dificuldade de seguir em frente. É muito, muito difícil ouvir qualquer pessoa falar sobre o assunto, mas ainda assim, é como se eu não pudesse evitar. Se alguém está falando sobre isso, eu quero, eu preciso ouvir. É como se eu não conseguisse me desligar da pessoa. Como nas outras vezes, me agarro fortemente à memória dela - pesquiso vídeos, publicações antigas, depoimentos de familiares e amigos sobre quem a pessoa era, etc. Parece até uma forma de tentar compensar o que eu não conheci em vida. É como um stalker mórbido.
Já tentei falar sobre o assunto com algumas pessoas, como a minha mãe, amigos, tias e prima, mas ninguém consegue entender o que eu sinto. Todos dizem o mesmo: "É. Foi uma coisa terrível mesmo. Mas essas coisas acontecem", e logo esquecem o tema e engatam uma conversa qualquer, enquanto eu não sou capaz de esquecer de forma alguma. Eu imagino como a pessoa era, penso na dor de seus familiares e amigos, imagino o que lhe passou pela cabeça antes de acontecer, o que a pessoa estaria fazendo agora se ainda estivesse aqui, enfim. Basicamente, me martirizo sem piedade. Mas também tento encontrar formas de "colocar" a minha dor em outras coisas; escrevo textos, componho músicas, faço algum desenho.
Cheguei a conversar com um psicólogo uma vez, e ele ficou muito surpreso quando lhe contei sobre o acontecido de 2016. "Um ano?!", ele me perguntou. Em seguida, me disse que minha reação provavelmente se devia a alguma experiência anterior de luto que não foi vivenciada devidamente. Como se eu não tivesse superado a perda de alguém como deveria.
Perdi minha tia em 2011, e minha avó em 2012. Eu tinha, respectivamente 11 e 12 anos quando aconteceu, e na época não entendi muito bem. Somente 5 anos depois, em 2016, foi que eu senti que realmente vivi a perda das duas. Hoje em dia não me sinto triste ao lembrar delas, e já não tenho a mesma necessidade de antes de ficar vendo fotos ou vídeos para matar a saudade.
Por isso o meu questionamento: Eu me sinto bem resolvida emocionalmente com a perda de duas das pessoas mais importantes da minha vida. Por que ainda me sinto completamente desestabilizada pela morte de alguém que sequer conhecia?
Peço que, por favor, me ajudem a compreender do que se trata toda esta situação, porque me sinto como alguém que já perdeu uma família inteira, devido a quantidade de vezes que experimentei a mesma situação. É profundamente doloroso.