Minha família não me respeita
Precisava vir aqui pedir algumas direções...
Tenho 26 anos, sou filha única e ainda moro com meus pais, com o plus de que no mesmo terreno moram outras 7 pessoas, entre avós, tios e primos. Nenhuma privacidade e muita dor de cabeça. Minha vontade maior é de me mudar, mas a pandemia chegou e barrou todos meus planos. A maior das minhas feridas psicológicas se acentuou nesse ano de 2020 e é diretamente ligada ao jeito da minha família de ser.
Contextualizando, tive depressão e TEPT após um abuso sexual que sofri em 2013 quando entrei na faculdade. Acrescentando aí um quadro de transtorno de ansiedade generalizada que é genético e surgiu na minha primeira infância. Foi tão absurdamente trágico e terrível esse episódio de abuso que minha vida mudou naquele segundo. Corri pra minha família pra ter o mínimo de apoio e continuar a viver, mas não acreditaram em mim. Duvidaram que isso poderia ter acontecido. Mesmo extremamente doente, machucada e traumatizada, procurei terapia e ajuda psiquiátrica SOZINHA e justiça por mim, aos 20 anos. Todo tipo de humilhação, descrédito, insultos e violência psicológica eu sofri. É difícil de acreditar em tudo que passei sendo tão nova.
Durante todo o processo montanha-russa de recuperação, absolutamente 0 ajuda. Pelo contrário, só descrédito, dúvida, bestialização, questionando minhas dores e minhas imposições. É impossível de um ser humano aguentar isso. Consegui me recuperar por mérito próprio, voltei a trabalhar e me formei na faculdade, mas não me falaram que o "pós-depressão" seria ainda pior. De repente nada do que eu sou, construí ou digo tem algum valor. A justificativa: 'mas não é a depressão falando?'. Tiraram meu direito de questionar, de sentir raiva, tristeza ou qualquer emoção. Perdi o respeito da minha família por um fato que eu não escolhi, mas também porque talvez nunca me respeitaram realmente. Toda opinião sobre qualquer assunto é desacreditada, me tiram o direito da fala e recentemente me tiraram o direito da própria vida.
Eu tenho uma profissão que cuida de mediação de conflitos sociais por meio do diálogo de conciliação, mas isso não acontece na minha vida pessoal. Muito irônico. Para piorar, sou de risco por causa do COVID-19. Na minha infância por ter asma e bronquite crônicas, meus pais já me viram ir para o respirador inúmeras vezes. Eu tenho um gostinho do que é ter COVID, de ter a vida ameaçada. Mas isso não pesa pra eles, já que perdi meu direito de ser um ser humano. Meu cansaço está extremo, mesmo assim abri mão de mim pra poder cuidar e alertar ao máximo a minha família. Não adianta. A desculpa 'você já teve depressão' sempre vem pra me contrapor. Tudo que eu falo eu elaboro antes, trago infos pesquisadas e seguras pra me dar respaldo. Cuido de todos com dinheiro, suporte psicológico (cômico), resolvo pendências, tento não deixar faltar nada pra ninguém e não tenho medo de me impor pra absolutamente ninguém. Nada adianta. Parece que ao desrespeitar a gravidade do COVID, estão me mandando uma mensagem do tipo: não nos importamos com você e também temos em mãos o seu direito de adoecer ou não.
Dói terrivelmente duas coisas: ver sua família em risco de morte por negligência e dói o tanto que não sou ninguém, sem respeito e mais pequena que um grão de areia. Sei que mereço muito mais, mas sempre que tento dar um passo maior como mudar de casa, a culpa bate e eu acabo voltando pro cantinho confortável da bosta.