Me sinto culpada e com dó do meu pai mesmo depois de muito desgaste emocional

Feita por >luana · 13 abr 2023 Abordagem psicológica

Minha infância foi boa até determinado momento. Quando eu era adolescente fui entendendo algumas questões sobre o casamento do meu pai e da minha mãe, e uma dela era sobre traição, da parte dele. Meu pai sempre justificou traições por conta da ausência de carinho por parte da minha mãe, por ela ser uma mulher mais fria, e eu acredito que ela ficou assim por conta das traições dele que sempre perdoava, mas mantinha o casamento por medo de não ter condição financeira. Por anos o casamento se manteve assim, muitas vezes eu acordava com briga dos dois, por motivos fúteis. Meu pai muitas vezes descontava a raiva dele em mim, ou no meus irmãos, era agressivo e logo depois se arrependia, poucas vezes se desculpava, ou forçava a barra e fingia que nada tinha acontecido, fazendo todos ficarem de boa com ele. E eu sempre cedia e ficava certo, nunca fui uma pessoa rancorosa. Acontece que um pouco antes dos meus pais se separarem de fato, ele estava traindo ela novamente, e ela fez o mesmo, mas para ele aquilo foi o fim do mundo, ele ficou bastante abalado, porque não achou que ela faria o mesmo. Mudei de casa e passei a morar com minha mãe, meu pai ficou sozinho na casa onde morávamos, e passei a visitar ele poucas vezes. Sempre enrolei muito de visitar ele porque ele reclamava muita da minha mãe e da família dela, e aquilo me irritava, e sempre defendia as traições dele. Apesar de tudo, toda ajuda que eu pedia ao meu pai ele me fornecia, e era um bom pai, não um bom marido. Sempre me senti culpada porque eu não conseguia visitar muito ele por conta das reclamações. Recentemente ele disse que iria se mudar de cidade, porque se sente humilhado por todos saberem da traição da minha mãe com ele, porque se sente só, sem vontade de sair de casa, e os filhos o visitam poucas vezes. Sai com ele algumas dias e tenho chorado muito me sentindo uma péssima filha porque fiquei ausente e agora ele vai se mudar. Minha mãe sempre me falou que eu iria me arrepender por não ter dado tanta atenção a ele. Acredito que meu pai esteja com depressão, e tem bipolaridade, ele é uma pessoa bastante complicada de conviver, mas sempre fico com dó apesar de tudo. Não sei o que fazer, pensei em contar a ele meus sentimentos, mas não sei se consigo porque nunca fui de contar muitas coisas, mas depois que estou numa fase mais religiosa, tenho sentido mais a vontade em contar meus sentimentos

Resposta enviada

Em breve, comprovaremos a sua resposta para publicá-la posteriormente

Algo falhou

Por favor, tente outra vez mais tarde.

A melhor resposta 15 ABR 2023

Olá, Luana. Como você está?
Posso perceber o quanto essa situação tem sido desconfortável para você, espero poder te ajudar de alguma forma.

A relação familiar tem um impacto significativo em nossa história, através do que vivemos, presenciamos e interpretamos em nosso convívio familiar, desenvolvemos maneiras de nos comportar diante de alguns conflitos, estratégias que nos façam sobreviver neste ambiente. Nestes casos, nem sempre temos os melhores recursos para lidar com uma situação, ou seja, tentamos nos proteger da maneira que é possível. Com você não foi diferente.

Em primeiro lugar você aponta que, ao entrar na adolescência, com um pouco mais de maturidade e consequentemente uma nova perspectiva, sofreu o impacto de perceber que a sua figura paterna era diferente da versão que, provavelmente, você tinha construído na infância.

Logo depois você fala sobre as brigas que presenciou no relacionamento de seus pais. Chamamos isto de Trauma Geracional e/ou Secundário. Apesar de você não estar no núcleo destes conflitos, você participou deste trauma presenciando e interpretando toda essa situação. E isso tem que ser levado em consideração, pois é uma dor que precisa ser cuidada.

Me parece, em sua fala, que você tem uma interpretação estabelecida sobre a postura de seu pai quanto ao relacionamento com sua mãe. Deixo aqui alguns questionamentos que você precisa esclarecer dentro de si:

Qual a sua visão sobre casamento?
Quais comportamentos você espera que as pessoas dentro de um casamento tomem?
Qual é a sua opinião sobre os comportamentos de seu pai?
Qual é a sua opinião sobre os comportamentos de sua mãe?

Por mais que você tenha expressado um pouco sobre isso em seu texto, essas perguntas podem te auxiliar a ter mais clareza sobre suas próprias interpretações diante desta questão.

Agora, gostaria de chamar atenção para este ponto no texto:

"Meu pai muitas vezes descontava a raiva dele em mim, ou no meus irmãos, era agressivo e logo depois se arrependia, poucas vezes se desculpava, ou forçava a barra e fingia que nada tinha acontecido, fazendo todos ficarem de boa com ele. E eu sempre cedia."

Percebo, neste trecho de seu discurso, que apesar de você querer resolver os conflitos familiares (o que é algo positivo), você fazia de forma passiva.
É possível resolver uma discussão, perdoar e, ainda assim, expressar seus pensamentos e sentimentos.
Sentir raiva, querer um tempo para pensar antes de conversar, querer que a pessoa te ouça ou que peça desculpas, querer que alguém pare de te fazer sofrer não te faz uma pessoa rancorosa.

Você tem o direito de sentir. Seja o que for.
Não existem emoções ruins, cada emoção tem uma função. Elas são mensageiras, são nossa primeira forma de linguagem.
A raiva, por exemplo, nos sinaliza quando um limite está sendo ultrapassado, quando um direito nosso está sendo violado, quando situações injustas estão acontecendo.
Expressar raiva não é ser uma pessoa agressiva, é identificar o incômodo e comunicá-lo de forma assertiva.

Uma psicoedução sobre Emoções também poderia te ajudar a entendê-las, aceitá-las e expressá-las. Não só com o seu pai, mas em qualquer outra relação que você venha a construir. Você pode pesquisar sobre emoções e suas funções.

Existe uma técnica na Psicologia que chamamos de Comunicação Assertiva. Ela é benéfica em inúmeras ocasiões, especialmente para resolução de conflitos.

Quando não expressamos nossos sentimentos sinceros e "cedemos" nossos direitos em nome de uma "paz" dentro das nossas relações, estamos tomando uma postura passiva.

Quando expressamos nossos sentimentos de forma desrespeitosa, sem se importar com os outros, tomamos uma postura agressiva.

A postura assertiva é o equilíbrio ideal entre se expressar e resolver o problema.

Toda vez que você quiser se expressar você pode usar esse modelo de conversa:

1. Descrever a situação que você considera um problema - Quando, onde e como ela acontece?

2. Expressar o que você sentiu/sente sobre essa situação - Raiva, tristeza, medo, nojo ou alegria. Use frases em primeira pessoa como "Eu me senti" e/ou "Eu sinto".

3. Deixe claro os motivos porque essa situação te fazer sentir da maneira acima, liste um ou mais motivos.

4. Faça uma sugestão de mudança para a pessoa.

5. Diga as vantagens que você e a outra pessoa teriam caso houvesse a mudança esperada.

Ex: "Pai, percebo que quando você briga com a nossa mãe, acaba descontando a sua raiva em mim ou no meu irmão, além disso, nunca percebe ou pede desculpa. Toda vez que isso acontece eu me sinto triste e com raiva. O respeito que eu sinto pelo senhor fica abalado, pois considero essa situação injusta. Eu gostaria que você não descontasse a raiva em mim e quando fizesse algo parecido tentasse conversar comigo e resolver as coisas. Acho que isso poderia melhorar a nossa relação como pai e filha, podemos nos aproximar mais e resolver nossos conflitos de uma maneira mais madura."

Opte sempre por uma comunicação mais respeitosa. Espere os ânimos se acalmarem. Não acuse, diga o que você sente. Fale sobre os comportamentos que a pessoa tem, não, propriamente, sobre a pessoa que ela é.

Aqui, podemos dar mais atenção a um padrão de comportamento:
Percebi que você desenvolveu uma resposta de enfrentamento evitativa quanto ao seu pai.
Você não conversa, não expressa seus sentimentos. Agora que moram em casas diferentes, você o evita. Me parece que essa é a maneira que você encontrou de lidar com essa situação. Acha que isso faz sentido?

Você não é uma filha ruim, só não está se comportando de maneira assertiva frente a seus desconfortos.
O que é completamente válido.
Nem sempre temos os recursos ou sabemos qual é a melhor maneira de lidar com uma situação. Essa foi a maneira que você encontrou e que funcionou para você evitar pensamentos e sentimentos conflitantes em relação ao seu pai.
No entanto, agora que você conhece essa técnica de Comunicação Assertiva, acha que ela pode te ajudar a tomar comportamentos mais funcionais em sua relação com seu pai?

Aqui fica um lembrete: Caso você opte por tentar conversar, lembre-se que você não pode controlar os comportamentos de ninguém. Se ele vai te ouvir com paciência e tentar mudar, isso é algo que você não tem controle. Sua única responsabilidade é se expressar, não por ele, mas por você mesma. Por ter respeito pelo seus próprios sentimentos.

Sempre se pergunte: O que está dentro do meu controle? Qual é a minha responsabilidade? E se concentre nisso.

Em último lugar, gostaria de chamar atenção para algo recorrente em sua fala: A culpabilização. É perceptível o quanto você se culpabiliza pelo que sente e pelos comportamentos que você toma.

Aqui é preciso enfatizar: Ninguém é 100% responsável pelo sucesso ou fracasso de uma relação.

Existe um exercício que você pode fazer.

1. Primeiro se questione: De zero a 100, quão culpada você se sente pelo afastamento entre você e seu pai?

2. Depois pegue um papel e uma caneta.
Escreva a situação que você se sente culpada: "Afastamento entre mim e meu pai".

Depois, escreva assim:

- Motivos
Eu:
Motivo 2:
Motivo 3:
Motivo 4:

E assim por diante. Tente pensar e escrever outros motivos que também possam contar para que você e seu pai tenham se afastado.

Considerando 100% de culpa, você vai colocar a porcentagem que você acha que cada motivo tem nessa culpa.

Mas atenção: Você vai deixar a sua porcentagem do para o final.

Ex:
Eu:
Traições: 50%
Brigas: 20%
Não pedir perdão: 10%

E assim por diante. No final você vai dar a porcentagem para você mesma. Os valores podem ser alterados para a soma no final dar 100%.

Esse exercício faz você distribuir essa culpa e perceber que, na realidade, você não é totalmente culpada por uma situação. Há, quase sempre, inúmeros outros motivos.

Todos nós estamos nessa jornada da vida tentando se apegar ao que temos, funcionar como podemos, resolver nossos conflitos da maneira que se apresenta mais compensatória.

O passo mais importante é sempre o primeiro. Aqui, ficou evidente a sua bravura em querer romper com os ciclos mal adaptativos da sua dinâmica familiar. Desenvolver novas formas de responder às dificuldades e se relacionar.

Caso sinta vontade, busque terapia, pois ela poderá facilitar todo esse processo.

Muita luz. Estou torcendo por você!

Darlen Garcia Psicólogo em Rio de Janeiro

8 respostas

32 pontuações positivas

Contatar

A resposta foi útil a você?

Obrigado pela sua avaliação!

25 ABR 2023

olá! Você estar precisando de ajuda? Então é só agendar uma sessão comigo que irei lhe responder o mais rapido possível

Rafaela de Arruda Custódio Psicólogo em Belém

2409 respostas

531 pontuações positivas

Fazer terapia online

Contatar

A resposta foi útil a você?

Obrigado pela sua avaliação!

15 ABR 2023

Oi Luana
Teu pai está experimentando a dor da traição; assim, aprendeu que dói e é tão covarde que não reconhece que ele provocou isso.
Se ele está com depressão ou bipolaridade, ele que procure corrigir e se curar. O máximo que pode fazer é pedir para ele buscar tratamento. Não tem poderes sobre ele.
Voce precisa apenas se desligar do apego emocional dele e buscar conquistar a tua realidade.
Voce apenas veio através deles, mas não é deles, e veio para conquistar os teus sonhos, construir a tua realidade.
Pode sim expressar teus sentimentos, mas não com o teu pai porque, nesse momento ele vai manipular voce, vai te fazer sentir culpada... deixe ele resolver as suas coisas, com a sua mãe, fica fora dessa contenda. Ele procura te fazer sentir culpada para ter um aliado.
Realize a tua vida, busque a realização dos teus sonhos e deixe que eles resolvam as suas contendas,

Abraços

Geime Rozanski Psicólogo em Brasília

5822 respostas

11278 pontuações positivas

Fazer terapia online

Contatar

A resposta foi útil a você?

Obrigado pela sua avaliação!

15 ABR 2023

Oi, Luana, ter dó do seu pai só o coloca na posição de coitado e vítima, e pelo que vejo você já é adulta e o saudável é você buscar sua própria vida , ainda que tenha contato com seu pai , mas ficar presa nisso é tóxico e não ajuda em nada, ele não sai do lugar em que ele mesmo se colocou e você não busca viver sua vida, ter planos, projetos, relacionamentos, se mantendo ainda numa dinâmica infantil , tendo que dar atenção a pai, tendo que contar coisas suas e mil outras coisas. Ele já é adulto, você é adulta, e ele deve se colocar no lugar dele de buscar ajuda profissional, sua mãe parar de jogar coisa em você, responsabilidades que não são suas. As questões problemáticas foram entre eles, você tem que seguir sua vida. Entre em contato, caso queira trabalhar mais isso.
Steffany Alves
CRP22/01308

Steffany Emanuelle Alves Psicólogo em São Luís

453 respostas

237 pontuações positivas

Fazer terapia online

Contatar

A resposta foi útil a você?

Obrigado pela sua avaliação!

14 ABR 2023

Oi Luana! Que bom que você escreveu. A mente humana é muito complexa, percorre caminhos muito particulares. Certamente você não é responsável pelos caminhos trilhados por seu pai. De outro lado, ele é um ser humano, é seu pai. Caso você se sinta segura, confortável, certamente será enriquecedor para ele, ouvir você falar o que pensa e sente. De outro lado, o fato de ele querer mudar-se de cidade, apresenta para ele, um símbolo completamente diferente daquele que você supõe por ele. Pode representar uma movimentação, talvez novos motivadores para ele.
Pondere! O melhor jeito de aperfeiçoar as coisas é o diálogo verdadeiro e disponível para aprimoramentos.
Abraços! A Covid e a Dengue estão vigentes: sejamos cuidadosos. A maior parte dos políticos não são confiáveis. Dentre os religiosos, há muitos que se dizem religiosos, mas na verdade, são falsos: querem é dinheiro. Fazem teatro para enganar os descuidados. Os meios de comunicação não são neutros, mas aqueles que apresentam tradição de muitos anos ou recebem o selo educativo/cultural, e não estão a serviço de alguma seita religiosa, são razoáveis. Tenha sabedoria para filtrar. A Ciência não é perfeita, mas como fez o avião, a geladeira, o rádio, o celular, faz as vacinas. Confie na Ciência! Vacine-se, vacina as crianças.
Ary Donizete Machado - psicólogo clínico e orientador ocupacional.

Ary Donizete Machado Psicólogo em Limeira

8654 respostas

9098 pontuações positivas

Fazer terapia online

Contatar

A resposta foi útil a você?

Obrigado pela sua avaliação!

14 ABR 2023

Olá Luana. O discurso sobre a linha do tempo de sua vida denota a descoberta, a partir da adolescência, dos desencontros na vida conjugal de seus pais, incluindo traições e agressões. Ao que parece, você se mantém solidária à sua mãe. Já com a figura paterna tem ocorrido um gradual afastamento. Você traz em sua demanda o desejo de reatamento com seu pai e revisão dos seus sentimentos. De todo jeito, a busca pelo apoio e orientação imediata de um(a) psicólogo(a) irá trazer benefícios próprios da Psicologia, no sentido de re-significar os conteúdos que estão em dissonância.
Estou inteira a seu dispor para o início do acompanhamento psicoterapêutico.

Anamaria Barros de Almeida Psicólogo em Salvador

104 respostas

86 pontuações positivas

Fazer terapia online

Contatar

A resposta foi útil a você?

Obrigado pela sua avaliação!

14 ABR 2023

Realmente é muito difícil trabalhar questões relacionadas e sinto muito que tenha que ter vivenciado tudo isso. Trabalhar essa culpa em um setting terapêutico é extremamente importante e irá lhe ajudar a entender todos os pontos e conduzir a vida com mais leveza.

Hellen de Souza Ferreira Psicólogo em São Paulo

10 respostas

4 pontuações positivas

Contatar

A resposta foi útil a você?

Obrigado pela sua avaliação!

Psicólogos especializados em Abordagem psicológica

Ver mais psicólogos especializados em Abordagem psicológica

Outras perguntas sobre Abordagem psicológica

Explique seu caso aos nossos psicólogos

Publique a sua pergunta de forma anônima e receba orientação psicológica em 48h.

50 Você precisa escrever mais 19300 caracteres

Sua pergunta e as respectivas respostas serão publicadas no site. Este serviço é gratuito e não substitui uma sessão de terapia.

Enviaremos a sua pergunta a especialistas no tema, que se oferecerão para acompanhar o seu caso pessoalmente.

A sessão de terapia não é grátis e o preço estará sujeito às tarifas do profissional.

A sessão de terapia não é grátis e o preço estará sujeito às tarifas do profissional.

Coloque um apelido para manter o seu anonimato

Sua pergunta está sendo revisada

Te avisaremos por e-mail quando for publicada

Esta pergunta já existe

Por favor, use o buscador para conferir as respostas

Psicólogos 20200

Psicólogos

perguntas 19300

perguntas

respostas 67600

respostas