Como ter propósito na vida sendo um depressivo grave
Olá, tenho 20 anos (cronológicos, pois minha mente tem 60 anos) e sempre tive sintomas de depressão e ansiedade. Tenho diagnóstico de transtorno de ansiedade generalizada e fazia uso de citalopram 20mg. Porém, conforme minha vida foi andando e fui fracassando (fracasso de acordo com os meus parâmetros), fui me sentindo irritada e triste mesmo com o medicamento e, portanto, parei de tomá-lo (sim, péssima escolha). Desde então só venho piorando, e aguardando a consulta com a psiquiatria do SUS pra pelo menos voltar a tomar algum remédio.
Falando de sintomas, eu até consigo levar a vida, mas é só isso mesmo, levar. Vivo por um mero senso de "não posso chutar o balde, pq ninguém vai me ajudar", e isso obviamente é extremamente desgastante. Passo uma parte considerável do dia chorando e sentindo uma angústia absurda. Nunca nada está bom. Me arrependo de uma péssima escolha que fiz, e fico imaginado diversas hipóteses do que teria acontecido se eu tivesse tomando uma decisão melhor. Porém, ao mesmo tempo, quando eu imagino uma possibilidade de poder voltar atrás nessa escolha e recuperar parcialmente o que eu tinha, também imagino hipóteses em que eu não ficaria completamente realizada, que eu não teria senso de propósito de uma forma ou de outra. Fico ruminando escolhas péssimas e imaginando passados e futuros, porém, no estado em que me encontro, só vejo desfecho ruim para todas as possibilidades. Coisas que me deixavam minimamente felizes, agora sequer trazem uma mudança no meu humor. Coisas que me deixavam tristes e nervosas, respondo com o mesmo humor. É como se meu sofrimento fosse tão grande ao ponto de não me afetar nenhum pouco pela cena mais violenta e triste do mundo. Não descrevo como apatia, mas sim como uma sensação constante de angústia e falta de propósito tão intensos que me impedem de ter uma reação humanamente normal. O que mais me afeta é o sentimento profundo de desesperança e falta de propósito, pois isso me impede de ter qualquer apreço pela vida. Aos 12 anos de idade eu tive um episódio de depressão maior moderado-leve, em que eu sentia tudo isso, porém de uma forma mais branda, e ainda sentia propósito na vida. Umas das pouquíssimas memórias que eu tenho sou eu falando para mim mesma "estou sofrendo agora", mas isso vai passar e vou ajudar pessoas que estão sofrendo com isso (nessa época nem sabia que era um episódio depressivo). Mas hoje, não sinto esperança, propósito, absolutamente nada que me dê motivos para viver. Nessa vez eu encarei o sofrimento como algo ruim, porém necessário e passageiro. Hoje, vejo o tempo passando, as coisas dando errado, meu sentimento de vazio crescendo e só penso em sumir. Infelizmente me afastei de qualquer rede de apoio possível, sequer tenho alguém pra expressar toda essa angústia. Como consequência de tudo isso, claro, confesso que já pensei em diversos métodos de sui*****, porém não tentei nada pois tenho medo de falhar e causar comoção. Sendo bem sincera, só não fiz nada pois ainda não tenho acesso a um bom método, e também porque tenho pouco energia (o cansaço é constante).
Entendo perfeitamente que essa maldita doença tem tratamento, e que as péssimas decisões e os péssimos acontecimentos, embora às vezes irreversíveis, não devem causar um sofrimento maior que o moderado, e que o apoio terapêutico nos ajuda a lidar com esse tipo de situação horrível. Sei também que os medicamentos ajudam muito nesse processo. Porém, mesmo com tudo isso, nada pode mudar o passado e a realidade cruel do mundo em que vivemos. Simplesmente não consigo mais sentir esperança. Queria, ao menos, ter pelo menos uma pessoa confiável pra poder chorar em paz e ser ouvida. Tenho algumas melhoras de humor, mas duram muito pouco, e eu não aguento mais.
O último aspecto disso tudo é linha surpreendente baixíssima autoestima e pessimismo. Me pergunto toda hora "seria capaz mesmo de fazer isso? Mesmo sendo capaz, eu aguentaria isso? Mesmo aguentando, eu seria feliz com isso?".
Além de apoio terapêutico e medicamento, existe alguma outra forma de encontrar pelo menos um propósito pra viver sendo vítima dessa doença? Eu gostaria muito de ajudar pessoas em situações complicadas, porém isso exige um investimento de tempo e dinheiro que eu não tenho. E se eu investisse tudo isso pra descobrir que sou péssima até pra ajudar? Minha condição me impede até de fazer algo que eu me sinto feliz fazendo, que é ajudar na medida do possível. Não tenho muitas opções.
PS.: realmente sinto muito pelo texto gigante, só queria compartilhar como eu e milhares de pessoas se sentem. E, quem sabe, alguém tem um bom conselho.