O prazer no mundo contemporâneo

Na sociedade contemporânea existe o hiperativo: Tudo rápido, já, e para ontem! As pessoas estão em uma condição temporal em que é preciso estar mais presente no futuro do que no presente.

18 JAN 2018 · Leitura: min.
O prazer no mundo contemporâneo

O sentido do prazer toma perspetivas para além do que já foi vivenciado ao longo da história humana.O sociólogo Bauman diz que vivemos em uma sociedade em que as relações são fluidas, instáveis e desta forma a concepção do espaço e do tempo não se associam mais de forma tão óbvia. O tempo na visão atual pode estar vinculado a uma ideia de velocidade e o espaço pode ser superado pelas tecnologias que nos permitem conhecer o mundo de forma instantânea.Assim, a velocidade passa a ser uma dominante que marca a contemporaneidade. Então, o que é o prazer em um mundo que a maioria das pessoas correm desenfreadamente em busca da felicidade?! Correm, velozes, sem sentir e se deleitar sobre as belezas que a vida proporciona, sem saborear o gosto das coisas e das sensações. As pessoas hoje em dia, correm abruptamente para obter mais qualidade de vida, mais sucesso, mais dinheiro, mais reconhecimento e mais prazer. A quantidade prevalece sobre qualidade das relações e tudo isso em um espaço curtíssimo de tempo. Para quê, para quem?Para a visão científica, a história da humanidade associava o prazer ao mundo físico e a satisfação de uma necessidade fisiológica que, pelo olhar da biomedicina, tinha uma vertente reprodutiva para perpetuar a espécie. Estudos subsequentes associaram o sexo com processo de saúde-doença e controle da espécie humana.Já, a partir do século XX, foi possível perceber as mudanças na interpretação sobre o que é o corpo, prazer, sexo e desejo. O historiador Michel Foucault, foi um estudioso que proporcionou grandes contribuições à sociedade, ao analisar como o prazer se associa à satisfação das necessidades quanto uma existência política, controle, desejo e constituição do Eu.O prazer que estava no imaginário do corpo físico, serviu por muito tempo como uma forma de controlar as pessoas, em ditar o que pode sentir ou não, o tipo de comportamento mais adequado, o que deve ser falado e o que deve permanecer tabu. Porém, com a grande influência do sistema político/económico percebeu-se que estes poderes relacionaram o corpo como algo que pudesse ser disciplinado. Assim, a sociedade passou por momentos de grande resistência e questionamento sobre quem controla o seu próprio corpo, quem realmente tem o poder, e qual é a forma mais ideal de sentir prazer.Constatou-se ao longo da história, inúmeras referências que marcaram a forma como lidamos com a satisfação de nossos desejos. Passamos por visões filosóficas sobre o sentir prazer ligado ao bem-estar físico e espiritual, fazer o bem, como a obtenção e constituição de caráter, até a visão da Igreja que determinaram por gerações quais prazeres eram sinônimos da salvação e qual prazer era considerado pecado. Nota-se que todas estas conceções procuraram definir um conceito para a função sexual (seus contextos favoráveis, sua forma de organização), em detrimento de uma perspetiva de que o indivíduo pudesse cuidar ativamente de seu corpo, buscando integrar, da melhor forma possível, suas condutas sexuais ligadas à gestão da vida e da saúde.Hoje, na cultura da pós-modernidade, o sentido para além do prazer pode se relacionar ao consumo. É o prazer que transcende ao mundo físico e se instala no desejo de pertencer. O consumo faz com que as pessoas se sintam pertencentes à alguma cultura, classe social ou status. Queremos sempre estar à frente de nosso tempo, consumindo roupas, bens até o consumo de valores e padrões.A estudiosa Suely Rolnik nos fala que a sociedade consumista criou kits perfis-padrão e figuras prontas para usar, que significam padrões de comportamentos, estilo de vida saudável e moda que influenciam o quotidiano das pessoas sugerindo maneiras específicas para sentir prazer. É sob este viés que podemos encontrar a mídia de modo geral como canais que tem uma forte atuação sobre a formulação de opinião das pessoas. São meios que a maioria da população tem fácil acesso, pronto para ser consumido e perpetuado. Com isso, cada vez mais o prazer se torna efémero. Na sociedade atual, as pessoas são menos tolerantes, às tendências saem rapidamente de moda, e muitos não ficam nada satisfeitos com aquilo que acabaram de conquistar. As pessoas valorizam mais o ter e esquecem de ser.A fim de resgatar a essência humana, houve a necessidade de estimular o contato interior em busca da realização pessoal. O prazer está em vivenciar cada momento como se fosse único de modo a encontrar a homeostase, a paz interior. Estudos na área da psicologia, filosofia, até a medicina oriental, comprovam que estar presente no aqui e agora ajudam a conectar o corpo e a mente, o que aumenta a capacidade de concentração e equilíbrio emocional. Ter a atenção plena, expande a consciência e proporciona maior clareza para satisfazer as necessidades e as múltiplas formas de sentir prazer.

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Escrito por

Carine Barreto Psicóloga

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