A importância da avaliação e acompanhamento psicológico para candidatos à cirurgia bariátrica

Breve esclarecimento sobre os procedimentos de avaliação psicológica para candidatos à cirurgia bariátrica

21 SET 2020 · Leitura: min.
A importância da avaliação e acompanhamento psicológico para candidatos à cirurgia bariátrica

A cirurgia bariátrica, vem sendo considerada uma alternativa efetiva no manejo da obesidade. No Brasil, o número de cirurgias bariátricas praticamente quadruplicou, aumentando de 16.000 em 2003, para 60.000 em 2010

Para ser considerado candidato à cirurgia bariátrica é necessário que seu índice de massa corporal (IMC) seja maior que 40 kg/m² e ter havido tratamento clínico prévio insatisfatório por pelo menos 2 anos ou ter IMC de 35 kg/m² associado a doenças relacionadas à obesidade como diabetes, hipertensão arterial, patologias cardiovasculares, apneia do sono, colesterol alto, insuficiência respiratória entre outros.

A cirurgia oferece benefícios que vão além da perda significativa de peso, inclui redução das comorbidades associadas à obesidade, remissão de sintomas de depressão e ansiedade, melhora na autoestima e imagem corporal, funcionamento sexual, aumento do nível de atividade e redução do sedentarismo e otimiza a qualidade de vida do indivíduo submetido a cirurgia.

A ocorrência cada vez mais frequente de sobrepeso e obesidade está relacionada à oferta abundante de alimentos de elevado valor calórico e de rápido consumo (fast food), bem como a vida cotidiana cada vez mais sedentária, contrasta com um ideal cultural de magreza socialmente imposto, que pode influenciar substancialmente a adoção de atitudes e comportamentos relacionados ao corpo.

Com o crescimento no número de procedimentos bariátricos, a atuação do psicólogo, no campo da avaliação pré-operatória e no acompanhamento pré e pós-cirúrgico se tornou essencial.

De acordo com o Conselho Federal de Medicina e o Consenso Bariátrico Brasileiro, o psicólogo e/ou o psiquiatra que integram a equipe responsável pela avaliação multidisciplinar pré-operatória, devem estar atentos para a ausência de uso de substâncias, bem como de quadros psicóticos ou demenciais. Também são esses profissionais os responsáveis em certificar de que o paciente possui nível intelectual e cognitivo de compreensão acerca dos riscos da operação e cuidados inerentes a esse procedimento no período do pós-operatório imediato e em longo prazo.

Para determinar a aptidão de um candidato à cirurgia bariátrica, diferentes aspectos da vida do paciente são avaliados pelos psicólogos. Os fatores psicossociais merecedores de atenção e deverão ser observados são: compreensão do paciente quanto à operação e as mudanças de estilo de vida necessárias; expectativas quando aos resultados; habilidade de aderir às recomendações operatórias; comportamento alimentar (histórico de peso, dietas, exercício físico); comorbidades psiquiátricas (atuais e prévias); motivos para realizar o procedimento cirúrgico; suporte social; uso de substâncias; status socioeconômico; satisfação conjugal; funcionamento cognitivo; autoestima; histórico de trauma/abuso; qualidade de vida e ideação suicida.

O uso da nicotina pode adiar a aprovação do candidato à cirurgia bariátrica, sendo recomendado psicoterapia no pré-operatório.

Dentre as comorbidades que inabilitam o candidato, num primeiro momento, podemos citar o abuso e dependência de substâncias e álcool, transtornos alimentares, transtornos psicóticos, transtornos obsessivo – compulsivo, depressão e tentativas de suicídio.

Quando houver a presença destas comorbidades na avaliação psicológica, é recomendado a psicoterapia para amenizar essas comorbidades para poder posteriormente se submeter a nova avaliação psicológica.

Cerca de 50% das pessoas com depressão apresentam sintomas de ansiedade e são processos inter-relacionados. Vivências estressoras estão implicadas na etiologia tanto da ansiedade quanto da depressão. Há correlações fisiológicas entre o funcionamento da depressão e da ansiedade e estresse, produzindo efeito similar no cérebro. Por sua vez, o estado emocional interage com o comportamento alimentar, buscando regulação e equilíbrio dos sistemas. Mas não se tem clareza por que algumas pessoas, diante de emoções intensas, restringem sua ingestão alimentar, enquanto outras aumentam, ingerindo especialmente alimentos doces e ricos em calorias.

O estresse, cada vez mais presente no contexto social, evidencia - se como um fator que pode desencadear um aumento na ocorrência de compulsões alimentares. A explicação biológica para isso seria que, durante situações estressantes, o cortisol é liberado, estimulando a ingestão de alimentos e o aumento do peso.

A autopercepção de excesso de peso corporal, usada como uma forma de expressar insatisfação com o corpo, poderia levar a um transtorno alimentar a partir da indução ao uso de dietas restritivas ou desencadeando emoções negativas relacionadas à baixa autoestima.

O episódio de compulsão alimentar (ECA), é caracterizado pela ingestão de grande quantidade de alimentos em um período de tempo delimitado (até 2 horas), acompanhado da sensação de perda de controle sobre o que ou o quanto se come. A compulsão alimentar é um comportamento eventual, que pode não apresentar incômodo ao indivíduo, somente quando houver frequência e trouxer grande desconforto, é necessário acompanhamento psicológico.

Já o Transtorno Alimentar Periódico (TAP) é definido igual à compulsão alimentar, porém difere e caracteriza o diagnóstico é que esses episódios devem ocorrer pelo menos dois dias por semana nos últimos seis meses, associados a algumas características de perda de controle. As distorções da imagem corporal, distorções cognitivas e práticas purgativas mantêm e perpetuam o Transtorno Alimentar Periódico.

Após verificar a influência destas comorbidades e o candidato estando apto para a cirurgia, o psicólogo deverá dar continuidade ao processo, devendo estar presente na equipe multidisciplinar no pré e pós – operatório.

No pré – operatório a preparação psicológica também é importante nesta fase, é fundamental que o paciente comece a se conscientizar da nova realidade que lhe acometerá, das mudanças que estão por vir. Quanto mais cedo o paciente começar a entender como será sua nova vida, melhores serão suas chances de bons e mais rápidos resultados.

Neste período questões ligadas ao emocional e a autoimagem começam a ser trabalhadas. Essas questões podem levar o paciente ao isolamento social e a mais uma série de situações que interferem diretamente na qualidade de vida delas.

É fundamental também entender os hábitos alimentares do paciente, isso ajuda a compreender melhor como ele adquiriu tanto peso, e quais serão os principais pontos psicológicos a serem trabalhados depois da cirurgia.

Entre as recomendações pré-operatórias estão presentes a diminuição ou eliminação do vício do cigarro. Isso fará com que as chances de problemas pulmonares no período pós-operatório diminuam. Além disso, reduzindo o consumo do cigarro a oxigenação dos tecidos aumentará e a capacidade de cicatrização também será melhor.

A Cirurgia Bariátrica é um procedimento muito invasivo, que gera muita dor e incômodo. O processo de recuperação é lento e o paciente deverá adotar novos hábitos e comportamentos que deverão ser seguidos criteriosamente. Por ser uma cirurgia muito delicada, é também muito restritiva, pois no período posterior a cirurgia, não poderá num prazo de 2 anos engravidar, fazer cirurgias plásticas ou tatuagem na região abdominal.

O período pós-operatório, é uma fase complicada, onde mudanças físicas acontecerão sem a escolha do paciente como, por exemplo, a capacidade de ingestão de alimentos que diminui. É comum que muitas pessoas se sintam confusas e desamparadas nessa fase, muitas vezes chegando a desistir de continuar o tratamento, devido às dificuldades diárias encontradas.

Ocorre também, que em ppuco tempo, o paciente começará a perder muito peso de maneira rápida, e junto com a animação pelo emagrecimento poderão surgir alguns problemas.

Muitas pessoas que realizam o procedimento bariátrico sofrem com problemas como queda de cabelos, unhas quebradiças e o mais perigoso de todos, distúrbios de autoimagem.

Por isso, um acompanhamento psicológico é tão importante nessa fase. Ele ajuda o paciente a entender melhor as mudanças que estão acontecendo com seu corpo, as alterações necessárias em sua rotina e como tudo isso impactará no seu dia a dia, além de manter o paciente motivado a dar continuidade ao tratamento.

O tratamento psicoterápico no pós-cirúrgico tem como objetivo auxiliar o paciente a lidar com as dificuldades que vão muito além da sua forma corporal, por exemplo implementando programas de prevenção de recaída, treinamento e identificação de emoções negativas e situações de risco para ingestão inadequada e a psicoeducação do paciente sobre as mudanças implicadas à cirurgia bariátrica, oferecer apoio psicológico e preparar o candidato para as mudanças comportamentais exigidas na fase pós-operatória.

Assim, podemos concluir que a importância de se fazer uma boa avaliação psicológica e o acompanhamento psicológico no pré e pós- operatório proporciona uma maior otimização no sucesso da operação e um melhor bem- estar da saúde do paciente.

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Escrito por

Tatiane Andrade da Silva

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