Vivo uma relação extremamente distante da minha mãe, mesmo morando debaixo do mesmo teto. Tenho 24 anos, vivo com HIV desde os 18 e escolhi passar pela dor do diagnóstico sozinho, pois não consigo confiar na minha própria mãe.
Sou um jovem de perfil extrovertido, mas já sofri de agorafobia, com diversas situações de crises de pânico. Meu diagnóstico pela psiquiatria seria de um suposto Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), que apesar de ter sido orientado, jamais segui à risca o tratamento, que abandonei duas vezes.
No processo terapêutico me veio à tona que grande parte da minha insegurança, sentimento de inferioridade e as síndromes de impostor foram frutos do que vivi na infância.
Além disso, tornei-me uma pessoa extremamente difícil quando se trata de expressar os meus sentimentos amorosos. Acredito que haja uma relação traumática de quando, aos 4 anos, busquei abraçar a minha mãe e a resposta foi uma repulsa física da mesma, que brigou comigo como se eu tivesse feito algo errado.
Tenho memórias semelhantes a estas, assim como de falas do gênero: "você não serve para nada". Houve muita ausência física e de palavras de "eu te amo".
Mesmo trazendo ao meu consciente todas essa crenças, buscando destravar obstáculos que atrapalham minha vida amorosa e profissional, não sei o que fazer de fato na prática.
Como perdoá-la e realmente não viver a mercê dessas feridas que que ficaram marcadas?
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7 FEV 2023
· Esta resposta foi útil a 4 pessoas
Poxa, sinto muito por tudo que viveu, realmente sua mãe cometeu erros que te custam muito agora. Com certeza ela fez o que conseguia, com as dores que ela mesma deve ter passado. Ninguém dá o que não tem, parece que ela não teve e não tem muito a dar. Mas se lembre que ela te deu uma coisa, a primordial - oportunidade de viver - condições de ser o que você é, uma pessoa que consegue avaliar essas vivencias, pensar e querer algo melhor.
O Ideal é que você reflita e trabalhe sobre isso, num processo terapêutico, com algum Psicólogo de sua preferência. Mas aqui, vou buscar te ajudar...Imagino que já passou pela fase de falar sobre tudo que viveu, sentir raiva e por pra fora, se não fez, pode assumir isso tudo; depois - alimente em seus pensamentos, a gratidão por ela ter lhe colocado no mundo, por ter te dado o que deu de bom, seja condições de habitação etc - depois disso a perdoe (intencionalmente - nesse processo é de fora pra dentro) por ela ter feito e até hoje fazer, o que lhe causou ou causa dor. Aí pode dizer a si mesmo, que você pode viver algo melhor, ser diferente, ser mais saudável e que buscará isso; não pra agradá-la, mas por si mesmo e pelas relações que irá construir daqui pra diante. A fala dela do passado, diz a respeito dela mesma, e não a seu respeito; deixe o que é dela para que ela lide, você é livre pra viver por si e pelos que você escolherá amar, cuidar e ser cuidado.
Lucas,
Sua mãe conseguiu lidar contigo da forma como ela entendia e logicamente ficaram as sequelas.
Entretanto, voce está aí, vivo, com 24 anos e está agora em vias de autenticar a si mesmo, isto é, ser, de acordo com as coordenadas da vida.
Portanto, seja grato por tua mãe, apesar das condições dela, em concordar ser mãe tua.
Precisa agora entender e corrigir o que aprendeu pela experiência vivida desde o primeiro dia da tua gestação... tua mente se organizou para funcionar de uma forma, foi a mais adequada possível... voce tinha que sobreviver.
Agora, precisa resgatar a tua inteligência de vida... voce foi forçado a substituí-la pelas determinações do ambiente familiar, escolar, social e da imposição das crenças.
Todas estas demandas são desafios à tua inteligência.
Seja curioso e responsável em buscar as soluções para a sua vida pois cada escolha que faz gera suas consequências, pelas quais é responsável. Se precisar de ajuda, solicite e faça Psicoterapia.
Olá Lucas.
Acredito que você tenha chegado a essa conclusão com apoio psicológico.
O importante no processo psicoterápico é a dessensibilização do trauma, lembrar-se sem sentir dor.
Estou disponível para ajudar.
Célia Jovanka.
Olá Lucas! Obrigado por escrever. Certamente você precisa falar mais organizar mais, ressignificar mais as coisas.
A partir do seu texto é possível ponderar algumas coisas importantes:
- A partir de uma etapa da vida, precisamos aprimorar a autonomia e não explicar mais as coisas a partir de outras pessoas;
- Quem perdoa é o grande beneficiário do perdão;
- A construção da tua vida é de responsabilidade tua;
- Diagnósticos, com uso inadequado, direcionam mentes, empobrecendo a complexa potencialidade das pessoas;
- Mães, a seu jeito, querem o melhor para seus filhos.
Estou a disposição para consistência dos argumentos.
Abraços! A Covid, a Dengue, exigem cuidados e atenção. Vacine-se, vacine as crianças. Valorize mais a Ciência. Ela não é perfeita mais permite avanços. É impressionante como falsos políticos e falsos religiosos usam a fé dos mais simples. Cuidemos do atual resgate da civilização e da democracia. Não há meios de comunicação neutro ou perfeito, mas há instituições mais sérias, mais abertas. Verifiquemos as informações com maior critério. Vejamos o que falam as TVs educativas, os canais abertos com maior tradição de cultura. Valores aprimorados por décadas, não podem ser descartados por interesses de pequenos grupos radicais. Quem apoia terrorista, antidemocráticos, bárbaro, se faz um deles.
Ary Donizete Machado - psicólogo clínico e orientador ocupacional.
Ola, Lucas
Eu sinto muito que você tenha essa experiência. De verdade.
Entretanto, não sei se é possível apenas "perdoa-la" e seguir a relação como se nada houvesse acontecido. Não digo que não seja possível perdoa-la, mas existem muitos sentimentos derivados, entende? Não se trata apenas da relação de vocês, mas na forma como isso te construiu como sujeito e na forma como te ensinou a estar no mundo e em outras relações.
Te proponho não buscar uma resposta específica, mas encontrar um caminho possível, entendendo que as soluções se constroem, mesmo que ainda com alguma dose de sofrimento presente.
Não sei se já teve a experiência de um processo de terapia, mas acredito que possa ser interessante para ti, uma vez que os medicamentos, apesar de essenciais em alguns casos, não "curam" nossos sentimentos, mas nos fortalecem para lidar com eles.
Boa sorte no seu caminho
Se precisar de ajuda, fico por aqui, ok?
