Viciado em pornografia? Como recuperar o controle?

Como em outros vícios, o vício da pornografia é difícil de ser interrompido. Então por onde devo começar?

24 MAR 2021 · Leitura: min.
Viciado em pornografia? Como recuperar o controle?

Lucas era um cara que procurava sites pornôs quando tinha um dia estressante no trabalho, quando estava com tesão ou quando estava curioso. Mas ao longo dos meses, e agora anos, o que começou como algo em que ele podia mergulhar e controlar agora o está controlando: ele passa várias horas por dia em sites pornôs.

O cérebro de Lucas assumiu o controle, ele está no piloto automático, o trabalho não rende, onde os intervalos e os almoços são preenchidos com os vídeos. Lucas está viciado.

E ele não está sozinho. Estima-se que muitas pessoas são oficialmente diagnosticadas com dependência de pornografia. É claro que a internet alimentou o problema, já se foram os dias em que você precisava entrar discretamente em alguma livraria para adultos. Hoje está tudo ali no seu smartphone, gratuitamente.

Desregulação do seu cérebro

Como na maioria dos vícios, o tratamento é apenas na parte da atração dos hábitos, mas é preciso olhar com atenção também para a química do seu cérebro. O uso excessivo de pornografia reconecta o seu mesencéfalo - os centros de prazer do seu cérebro. Você pode encontrar muitas pesquisas online sobre pornografia e problemas sexuais. Agora, há muitos jovens de 20 anos viciados em pornografia que precisam tomar Viagra regularmente. Não é porque eles estão cansados e suas namoradas não são tão gostosas quanto as mulheres nos sites pornôs, mas sim porque seu mesencéfalo é quimicamente desregulado, afetando sua capacidade de ficar excitado.

Uma má solução para um problema subjacente

Embora algumas pessoas sejam mais propensas ao vício, como compulsão alimentar, jogos de azar, substâncias ilícitas entre outros, (devido à genética e a química do cérebro) o motivador inicial para a maioria das pessoas é situacional, ou seja, o vício servindo como uma solução ruim para outro problema, como depressão ou ansiedade.

Infelizmente, o vício funciona. No exemplo de Lucas, ele se sente vigoroso e feliz quando clica em seus vídeos. Assim começa a espiral descendente.

Impacto nos relacionamentos

Existem vários. Obviamente, a desregulação sexual é um deles, pois o comportamento viciante toma conta do dia do indivíduo. Isso traz o isolamento e afastamento dos relacionamentos reais, porque o mundo virtual se torna a prioridade. As pessoas que estão ao redor também sofrem, tanto pela descoberta do vício, quanto pelos comportamentos e atitudes da pessoa.

Quebrando o padrão

O ponto de partida aqui é você controlando seu cérebro, em vez de seu cérebro controlando você. A ideia é frear o comportamento automático. Seguindo algumas dicas é possível controlar essa situação. Vamos às dicas.

Monitore seu humor - Para alguns, a atração pelo pornô é mais forte em alguns dias do que em outros. Se esse é seu caso, trate de monitorar seu humor. Verifique consigo mesmo a cada hora e veja como você está se saindo emocionalmente. Consegue dizer ao acordar de manhã ou ao sair do trabalho que hoje é um daqueles dias, que está se sentindo vulnerável e estressado e com risco de entrar no piloto automático?

Ao verificar a si mesmo, você está se afastando de suas emoções e ao perceber cedo, você pode agir antes que seus desejos assumam o controle.

Ter um plano - A internet é o gatilho. Para Lucas é a net chamando seu nome, mas para outra pessoa pode ser a geladeira, bebidas, cigarro entre outros. O antídoto aqui é ter um plano para compensar os gatilhos decidindo logo ao acordar, ter menos tempo, diminuir o plano da internet, desligar o roteador, ter menos tempo livre possível na frente do celular. Ler livros físicos, fazer atividades físicas, se ocupar o máximo com atividades que não exigem internet.

A chave aqui é ser deliberado, proativo, mas também sobre a substituição. O objetivo não é parar de fumar, mas substituir a pornografia por outra coisa - é aqui que as pessoas que estão tentando parar de fumar estão substituindo cigarros por balas. O doce é tão bom quanto um cigarro, aprender tocar instrumento é tão bom quanto o pornô? Não. Mas trata-se de religar seu cérebro. Vai levar meses para que esses circuitos cerebrais parem de disparar e mais novos caminhos sejam implantados.

Espere a luta e obtenha apoio

Antecipar o que está por vir como os dias difíceis, os melhores dias, a mudança gradual, as possíveis recaídas, enfim, tudo pode realmente ajudar. Ajudá-lo a ser mais gentil consigo mesmo, ajudá-lo a evitar esse pensamento de tudo ou nada que leva à frustração e desistência, ajudá-lo a dar tapinhas nas próprias costas quando você for capaz de fazer o que se propôs a fazer.

Mas você também não quer fazer tudo sozinho. Procurar uma terapia sexual poderá lhe ajudar. Cuidado com grupos e pessoas com boa intenção de ajuda-los, a falta de experiência no tema pode lhe causar mais culpa e sofrimento. Importante procurar a ajuda profissional de um sexólogo ou terapeuta sexual.

Lidar com o problema subjacente

O vício em pornografia pode ter lhe causado outros problemas. Pode ser depressão ou ansiedade generalizada que sempre existiu. Ou é situacional - você está lutando com um trabalho ou relacionamento em que se sente estressado, preso ou oprimido. É hora de resolver o problema subjacente - terapia individual, terapia de casal, converse com seu patrão, sobre o que não está funcionando ou comece a procurar um novo emprego, converse com seu médico sobre medicamentos.

O que é importante é agir

Lidar com qualquer vício não é uma solução rápida e a intenção aqui é não fazer com que pareça assim. Se você está passando por dificuldades, pode precisar de apoio profissional por meio de terapia. Você precisa de ajuda para mudar seus hábitos e de apoio enquanto aprende a religar seu cérebro. Mas o ponto de partida é sempre sobre a compreensão da maneira como se conduz a vida, se está funcionando ou não e que há partes da minha vida que estão ou não sobre meu controle.

Se você puder fazer isso, estará sempre a meio caminho do sucesso.

Referencias Young, K.S & Abreu C.N. (org) (2011). Dependência de internet: manual e guia de avaliação e tratamento. Porto Alegre: Artmed.

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Escrito por

Clarete Duarte Galdino

Psicóloga clínica com pós-graduação em neuropsicologia e neuropsicopedagogia. É especialista em terapia de casal e relacionamentos seguindo a abordagem da terapia cognitiva-comportamental. No entanto, seu estilo como terapeuta é eclética, atuando de forma flexível, porque cada paciente é diferente.

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