Ansiedade e depressão na contemporaneidade

Vivenciamos atualmente um desconforto ocasionado pela percepção de que casos de ansiedade e depressão têm aumentado cada vez mais. O que nossa sociedade pode ter a ver com isso?

25 NOV 2019 · Leitura: min.
Ansiedade e depressão na contemporaneidade

A nossa personalidade está em constante formação, e é influenciada por nossas relações a nível pessoal, mas também pelas representações sociais e a cultura a qual estamos inseridos. A Psicologia Social nos ensina que os indivíduos moldam e influenciam a sociedade, mas também são moldados e influenciados pelos ideais valorizados na sociedade.

O tempo atual em que vivemos é considerado por muitos autores como pós-modernidade, e esta se caracteriza pela falência das grandes instituições que, antigamente, ditavam as normas a respeito dos modos de existência do ser humano. Isso quer dizer que, no tempo passado, existiam padrões rígidos que ditavam como deveríamos agir e pensar, e que, portanto, causavam sofrimento mental sobretudo naqueles que não conseguiam de enquadrar em tais normas de existência.

Já na contemporaneidade, experimentamos uma maior liberdade e autonomia para vivenciar a nossa subjetividade da forma como desejarmos. Todavia, apesar de nos sentirmos mais livres, a contrapartida é que no tempo presente, é atribuída ao sujeito toda a responsabilidade de ser e existir no mundo, e isso, em muitos casos, pode acabar gerando muita carga emocional e, portando, ocasionar sofrimento psíquico.

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman elabora a tese de que vivemos submetidos a uma modernidade líquida. Isso significa que nada se torna sólido no mundo contemporâneo. As relações são passageiras, e os ideais de vida muitas vezes fúteis e efêmeros.

Outros estudiosos contemporâneos alegam que a irrefreável globalização impele o sujeito pós-moderno a buscar ser reconhecido pelo que tem ou aparenta ser. Isso significa que, na era digital, o sujeito pode passar a ter a sua existência autenticada apenas diante do olhar do outro, ou, da curtida do outro. Desta forma, corremos o risco de esquecer as inúmeras possibilidades da existência humana e de vivenciar a vida como ela é,

As redes sociais nos passam a impressão de que todos são felizes o tempo todo e têm sucesso pleno na vida, e desta forma, nos cobramos de também alcançarmos esta suposta felicidade e plenitude.

Diante disso, o mundo moderno nos coloca cada vez mais obrigações, inclusive de ser feliz, de modo que vivemos com a agenda superlotada, e nosso tempo parece se esvaziar, fazendo com que o dia pareça ser curto demais, pois não conseguimos tempo para cumprir nossos compromissos, apesar de, chegarmos no final do dia com um cansaço muitas vezes paralisador.

A Psicologia entende que ansiedade é o excesso de futuro, e depressão é o excesso de passado. Portanto, como temos a obrigação de ter sucesso e somos totalmente responsáveis por este, não é estranho perceber que muitas pessoas parecem não conseguir se conectar verdadeiramente com o presente. O excesso de preocupação e a incapacidade de relaxar e se desligar pode se tornar cada vez mais intenso e acabar desencadeando um sintoma ou síndrome ansiosa. Do contrário, pode acontecer de sentirmos culpa por não ter atingido os ideais socialmente valorizados que é divulgado como sendo acessível a todos, ocasionando assim, sintomas depressivos.

Cabe lembrar, por fim, que ansiedade e depressão são síndromes complexas que são determinadas por diversos e múltiplos fatores. Nunca é apenas um motivo que desencadeia uma síndrome e, portanto, o que foi apresentado aqui, é apenas uma das percepções de estudiosos sobre um fator social que pode ter relevância no desencadeamento de sofrimento mental em certos casos.

Diante de tanta responsabilização, podemos muitas vezes nos sentir culpados ao não cumprir algum compromisso. Nestes momentos, vale lembrar do poema de Fernando Pessoa: "ai que prazer, não cumprir um dever".

PUBLICIDADE

Escrito por

Psicóloga Giovanna Botini Zortea

Consulte nossos melhores especialistas em ansiedade
Deixe seu comentário

PUBLICIDADE

últimos artigos sobre ansiedade

PUBLICIDADE