Dialogando com a ansiedade para tentar compreendê-la

Você já deve ter ouvido falar que a "ansiedade é o sentimento normal" e que não há como atravessar essa vida terrena sem experimentá-la, mesmo que pessoas a experimente de formas diferentes.

4 ABR 2024 · Leitura: min.
Dialogando com a ansiedade para tentar compreendê-la

Você já deve ter ouvido falar que a "ansiedade é o sentimento normal" e que não há como atravessar essa vida terrena sem experimentá-la, mesmo que pessoas a experimente de formas diferentes. O que é verdade, mas vejamos: ela se trata de um comportamento de busca por uma resolução de uma questão. Até ai, vemos um grande potencial nisso. A questão é que o sofrimento é uma experiencia de limitações: material, situacional, temporal, etc. Limitações em sua situação atual e no que há por vir. As possibilidades se esgotam e nossas certezas escorrem por nossas mãos. Entretanto, não é possível definir uma "causa" especifica para um sofrimento. Isso nos faria separar a experiência do sofrer de seu contexto, reduzindo-a a um "porque".

A ansiedade é uma forma de defesa diante daquilo que ameaça nossa integridade (física, psicológica, moral, material, etc.), não um "defeito" ou "algo a ser resolvido" em quem a experimenta. Ela é uma forma de cuidado.

O que tentamos fazer em um processo de terapia – o que talvez você consiga aprender – é a entender o que a ansiedade vem te pedindo. É entender para que ela se faz presente, o que ela vem tentando te mostrar, como se fosse um sinal que seu corpo pode emitir de que alguma coisa não vai bem e precisa de ajuda. Já que não podemos entender o porque da ansiedade, podemos nos atentar a dois pontos:

  1. Como?
  2. Para que?

O como pode te ajudar a cuidar de uma situação de crise: como o seu corpo se sente nesse momento de ansiedade? Como a sua ansiedade se manifesta agora? Tem alguma sensação física? Você consegue elaborar alguma metáfora ou mostrar como se sente de alguma maneira? Talvez você encontre vários vídeos de meditações guiadas internet afora que te ajude a ver melhor esse corpo em crise e a cuidar dele.

Uma opção que eu gosto muito – aqui vai uma dica pessoal – explore os sentidos: nomeie coisas, veja paisagens, sinta cheiros, perceba temperaturas, ouça e se atente a barulhos, note gostos, repare em tudo que puder no ambiente que estiver. Ou procure outros ambientes para se rechear de novas percepções. Vale tentar dar uma escapada para lugares que você sabe que podem te receber bem: uma ligação a um amigo, uma mensagem à sua terapeuta, um familiar com quem você possa contar, um lugar que goste de visitar, etc.

Essas pessoas a sua volta não precisam saber lidar com a ansiedade ou a crise em si (e nem é função delas ter treinamento técnico para isso), mas me sinto muito confortável quando alguém me permite ser o que eu preciso ser naquele momento, sem julgamentos. Explico: não quero que meu ombro amigo saiba resolver meus problemas, mas que ele esteja ali comigo. O estar com é muito poderoso. Sem fazer nada com isso, apenas se manter presente, sem prometer melhoras. Estar com valida, acolhe, dá lugar no mundo.

O para que é um degrau mais profundo. É um convite a um contato mais visceral consigo mesmo. Aqui falamos da nossa história, do que nos construiu como indivíduos até aqui. Então precisamos entender que aquilo que nomeamos como sentimentos (afetos bons ou sofrimentos e angustias) e aquilo que vem se repetindo em nossa vida se construiu dessa forma porque teve um sentido. Tudo que se repete ainda tem um sentido atual, mesmo que a manutenção das coisas nesse formato gere alguma dor. A questão é que, manter as coisas funcionando como ela estão até aqui te permitiu chegar até aqui hoje. Realizamos ajustamentos no mundo em que vivemos, em nossas relações, em nosso dia a dia, etc. E esses ajustamentos podem ter sido funcionais no passado, por isso se tornaram um aprendizado, e agora já não são o suficiente para lidar com as demandas da vida atual.

E para lidar com esses ajustamentos, precisamos criar algo novo, buscar uma mudança que te ajude a sair desse lugar incomodo. Para isso te sugiro caminhar junto de um profissional que possa estar contigo na construção desse suporte.

E caso você decida compartilhar esse caminho comigo, será um prazer :)

Referências:

Pinto, E. B. (2021). Dialogar com a ansiedade: uma vereda para o cuidado. Summus: São Paulo.

May, R. (1987). Liberdade e destino. Porto Alegre: Rocco.

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Escrito por

Eloisa Goronci

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