A obesidade pela psicanálise

A obesidade é uma condição médica considerada pelo excesso de gordura que impõe impactos na saúde e a psicanálise nos permite uma compreensão plena para melhores resultados do tratamento.

16 OUT 2019 · Leitura: min.
A obesidade pela psicanálise

A cada dia o número de pessoas acima do peso cresce de forma exponencial no Brasil. É claro que não podemos deixar despercebido que existe uma praticidade de um estilo de vida que busca a rapidez, mas também considerá-lo como único responsável pelo o que se tornou, então, o mal do século XXI, é no mínimo, desconsiderar qualquer evento subjetivo da condição humana.

A obesidade é uma realidade ainda imatura para os meios científicos, mas digna de uma grande preocupação a todos eles. Realmente é visível o progressivo crescimento da obesidade na população mundial, mas o que se percebe ao olharmos com mais atenção para as pessoas que apresentam problemas como o excesso de peso, é que grande maioria delas, não estão felizes.

Fruto de um estilo de vida que busca praticidade e rapidez, aliado a falta de informação e acesso a alimentos saudáveis, a obesidade também pode ser considerada uma negligência ou mesmo um pedido de socorro, afinal nem sempre o indivíduo tem noção do comportamento de excesso, e de forma inconsciente, utiliza essa gordura exagerada como um mecanismo de defesa.

O apetite exagerado representa muitas vezes, os papéis distorcidos que a comida alcança na vida de pessoas que sofrem com ela. É a partir disso então, que podemos considerar que esse corpo obeso pode ter incontáveis significados que o indivíduo carrega dentro de si sem ao menos dar-se conta disso.

Desde o nascimento, o alimento é associado com sensações de prazer, alegria, relaxamento e conforto. Uma criança recém-nascida sente uma sensação desagradável, traduzindo-se em dor física quando sente fome.

Esta criança chora, porque essa sensação é expressada através do choro, quando recebe o alimento, a sensação desagradável, de dor, é eliminada e substituída por uma sensação de prazer e conforto. Associa-se também uma sensação de aconchego e carinho durante a amamentação, onde existe o contato físico com a mãe. Desta forma, é no ato de alimentar-se que o indivíduo sente inconscientemente seguro.

Depois de encontrar no alimento o amor, o indivíduo na infância encontra também uma forma de se comunicar com o outro ou ainda de manifestar suas vontades e de contestar as regras vindas do meio.

Fato comum é que a maioria das famílias, tem uma excessiva preocupação com a alimentação da criança e a alimentam de forma a chamarem a atenção para o ato, criando um hábito alimentar que pode se perpetuar.

Com a preocupação, os pais passam a ter comportamentos que acentuam a recompensa e/ou o elogio, criando na criança uma sensação de bem-estar e afetividade associada ao alimento. Pode-se criar aqui uma oportunidade de desafiar os pais, a criança pode não comer o que lhe é imposto, quanto comer em excesso.

É como se usasse o alimento, como um meio de dialogar, talvez porque ainda não aprendeu a falar, ou se já aprendeu não se deu conta da importância da comunicação verbal. Então o alimento é uma maneira de contestação, em muitos casos contra a imposição de critérios que não se quer aceitar.

Portanto, o alimento está associado ao afeto e, muitas vezes, quando buscamos afeto, buscamos também algum alimento, fazendo esta associação de forma inconsciente. Quando a pessoa não tem o afeto desejado, ela pode buscar este afeto através do alimento, muitas vezes sem se dar conta.

São inúmeros os exemplos em que o indivíduo se apoia na comida para se sentir seguro em suas relações sociais. Mas o principal e talvez mais perigoso significado do alimento para o ser humano, é ver na comida a solução para os conflitos, para o demasiado sofrimento, e buscar na alimentação, o meio de se proteger das exigências do mundo.

A comida está muito ligada às emoções, uma vez que o inconsciente registra aprendizados de toda a vida e já nos primeiros dias de vida durante a amamentação, por exemplo, o olhar da mãe para o filho transmite segurança e proteção.

Perturbações na alimentação podem ser interpretadas como perturbações no estabelecimento de vínculos, considerando que a principal fonte de amor do indivíduo é a relação que teve com a mãe ou com quem o cuidou na infância, e o indivíduo transpõe essa lógica para a vida adulta, como um modelo para vínculos futuros, possibilitando assim que o comer seja atividade de sobrevivência, de prazer e de estabelecimentos de novos laços sociais.

A interação da mãe com o bebê e, posteriormente a interação da família com a alimentação da criança, constitui fator fundamental no surgimento de alguns casos de obesidade. Desta forma é possível ressaltar que o alimento se transforma para o ser humano em um objeto carregado de significados simbólicos e puramente afetivos, que permite a projeção de estados emotivos e servindo de anteparo defensivo para as fraquezas e frustrações humanas.

O corpo passa a ser um foco de sofrimento, uma forma de pedir socorro, um jeito doloroso de fazer com que o indivíduo em algum momento passe a prestar atenção em si mesmo.

Diante da possível falta de mecanismo e como tratar essa angústia o sujeito se vê frente uma angústia que o consome e faz do alimento um possível caminho aceitável para suportar ou superar as angústias utilizando de compensações orais que servem como uma "proteção", como um escudo de alimentos e de gordura na tentativa de desviar fortes sentimentos, no entanto fragiliza-se mais e angustia-se mais.

A partir dessa explanação, podemos dizer que a psicanálise defende que a origem e a evolução da doença têm profundas relações com questões do desenvolvimento psíquico, assim como com a influência da sociedade e da família, ela entende que a obesidade como uma manifestação do sujeito, é sempre ligada à ansiedade, depressão e sentimento de culpa, pois os mecanismos psicológicos distorcem os mecanismos cerebrais da culpa e o indivíduo nem chega a apresentar sensação natural de fome, e come exageradamente por uma implicação psicológica.

Respeitando a individualidade, podemos pensar sobre a obesidade, levando em consideração que os obesos podem possuir inúmeras maneiras de pensar sobre o objeto alimento, sobre a dinâmica do preenchimento a que estão ligados, ou seja, como se a ingestão de alimentos fosse uma forma de estar constantemente preenchendo algo.

Uma pessoa com quadro de obesidade de alguma forma tenta preencher um vazio, busca no alimento a resposta para as suas dores, frustrações, desilusões. Não entende porque tudo está dando errado, não enxerga o que está fazendo consigo mesma. Anula-se para não ver os prejuízos em sua vida, sente-se incapaz de mudar, fraca, sem perspectiva, com isso busca soluções rápidas sem mudar o que está em sua alma.

O comportamento compulsivo, principalmente o direcionado a compulsão alimentar aparece estreitamente ligado a visão de si próprio, de confusão quanto ao seu valor pessoal, falta de amor próprio. A compulsão é a conduta levada por uma imposição interna, ou seja, um pensamento (obsessão), uma ação ou uma ação de defesa ou ainda uma sequência complexa de comportamentos, que se não realizadas geram aumento de angústia.

Cada história é única e todo esse processo, todo esse trabalho profissional- paciente, faz-se emergir um sujeito até então calado pelo peso de seu silêncio. O emagrecer dependerá muito da história de cada pessoa, da sua forma de entendimento, de aceitação, do seu desejo de mudar o que não mais funciona para ele, apenas o faz sofrer.

O trabalho do psicólogo/psicanalista é estar junto no contato consigo mesmo, mostrar que apesar do desconforto existe a necessidade de compreensão e entendimento das emoções que estão presentes no ato de se alimentar. É começar a mostrar que as emoções precisam ser vivenciadas e não oprimidas descontando assim no ato de se alimentar. Existe a necessidade de criar recursos, conhecer seus limites e acima de tudo reaprender a viver.

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Escrito por

Paula Bettencourt S. Alves Ferreira

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