Vícios comportamentais: o prazer pelos excessos

Comprovar o celular a cada minuto, fazer exercício físico compulsivamente, trabalhar sem descanso ou comprar de forma descontrola: todos esses são vícios comportamentais.

18 JUL 2019 · Leitura: min.
Vícios comportamentais: o prazer pelos excessos

Todo vício esconde uma grande insatisfação. Quando uma pessoa precisa "preencher" a sua vida com elementos externos para compensar uma carência profunda, pode até conseguir fugir desse vazio interno. Essa sensação, no entanto, existe somente de uma forma transitória.

É por essa fugacidade que a pessoa recorre uma vez e outra e mais outra àquele elemento que lhe propicia satisfação. É o que lhe ajuda a produzir uma descarga de endorfinas, que estáo diretamente associada à sensação de prazer. Entrar no círculo vicioso de uma dependência, diante de um percurso assim, é quase natural.

Quando se fala em elementos externos, não se trata exclusivamente de álcool ou drogas. Trata-se daqueles hábitos cotidianos - socialmente aceitos - como comprar, usar o celular, comer ou ir à acedemia. Qual seria o problema, então? O excesso!

"O jogo recorrente, as relações sexuais descontroladas ou as compras compulsivas aumentam a dopamina no cérebro exatamente como faria o consumo de substâncias psicoativas, causando uma sensação de euforia", indica a Associação Psiquiátrica da América Latina, no estudo Os vícios não relacionados com subtâncias.

Uma pessoa com predispocição ao vício desenvolverá, com maior facilidade, uma dependência por esse tipo de comportamento, uma vez que perderá o controle dos seus impulsos e será preciso repetir constantemente aquela ação para que alcance o prazer experimentado. Esse tipo de personalidade é determinada por fatores genéticos e psicossociais.

"Se numa família existe histórico de dependência, é importante redobrar a atenção, porque há a possibilidade de predisposição genética, mas também pesa muito o entorno, os padrões de comportamento aprendidos na família e o impacto da cultura", explica a psicóloga Paola Andrea Velásquez.

Quando existe um mal-estar emocional provocado pela solidão, pela falta de motivação, pela ausência de atividades prazeirosas ou, inclusive, pela agressividade, uma personalidade como a descrita anteriormente acaba preenchendo o seu tempo com atividades como trabalhar, comprar, estar nas redes sociais, fazer esporte, tudo de forma desmedida.

Padrões de comportamento

Os vícios comportamentais também estão relacionados com alguns padrões de comportamento que, normalmente, passam desapercebidos pela pessoa afetada, mas que são vistos por amigos e familiares:

  • Incapacidade de terminar projetos ou cumprir compromisso: a personalidade da pessoa se caracteriza por uma ansiedade em fazer muitas coisas em pouco tempo e, por isso, perde rapidamente o interesse por terminar aquilo que começou.
  • Dificuldade para cumprir regras: uma postura típica é se perguntar por que há de colocar limites na diversão.
  • Mentiras cada vez mais complexas: como passa com qualquer tipo de dependência, a pessoa demora a admitir que tem um problema e, simplemente, dirá mentiras sobre suas motivações ou sobre o tempo que dedica a determinada atividade. Tudo isso para evitar ser questionada/o.
  • Visão pouco realista de si mesma/o: como não aceita que têm um problema, se sente extremamente afetada/o pelas críticas externas e fica indignada/o com a imagem que os demais têm de si.
  • Desmotivação constante: se sente permamentemente insatisfeita/o, nada é capaz de consolá-la/o ou trazer a mesma satisfação que um comportamento compulsivo. Não têm paciência e se desespera com facilidade.
  • Busca constante por adrenalina e emoções fortes: a pessoa rechaçará pessoas tranquilas e excessivamente organizadas. Prefere o caos e, exatamente por isso, busca estar cercada de pessoas capazes de oferecer emoções intensas e relacionamentos passageiros.
  • Excessos: o normal, nesses casos, não é aceitável. Os limites não são desejáveis. A pessoa buscará beber mais, comer mais, gastar mais, jogar mais, trabalhar mais... enfim, tudo o que possa ser classificado como excessivo.

Para quem não tem a mesma predisposição, é fácil julgar esse tipo de comportamento, sempre formulando raciocínios simples como: "que deixe de brincar com fogo e pare de uma vez". No entando, é mais complexo do que parece.

"A sociedade que não tem qualquer tipo de dependência costuma pensar que essas pessoas não se recuperam porque não querem ou porque gostam de estar onde estão. Inicialmente, esses vícios comportamentais são fonte de prazer, mas não demora muito a que se convertam em prazer negativo, que incomoda e do qual não conseguem desfrutar. Se sentem mal, porém pensam que não podem viver sem aquilo, já que sentem uma força interior que os obriga a viver assim, uma que é mais forte que a própria vontade", ressalta Paola Velásquez.

E se tenho vícios comportamentais?

Quando uma pessoa se reconhece nesse quadro, é importante buscar ajuda especializada. Esses comportamentos dificilmente serão freiados por si só, e sempre há o risco de intensificar o vício presente e, inclusive, cair em outros ainda mais perigosos.

A terapia tratará de buscar a origem dessa carência tão profunda, que desencadeia os impulsos que alimentam tais comportamentos. Nesse processo de descoberta, haverá espaço para buscar elementos que propiciem satisfação real e melhore a qualidade de vida da pessoa.

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Comentários 3
  • lisiane cruz

    Gostei muito da matéria. Esclarece de forma simples, principalmente, para pessoas sem formação na área da psicologia.

  • Nina

    Muito interessante o artigo! Obrigada, faz todo o sentido e ilumina o entendimento de quem sofre por ter um vício ou conviver com alguém viciado. Realmente os vícios socialmente aceitos são difíceis de lidar, mas com ajuda podemos ter esperanças :)

  • Mikael Rian

    Eu discordo muito do que se foi escrito nesse artigo.primeiramente a abordagem neurocientista e ciências do comportortamento funciona melhor do a abordar esse desafio com pisicologia. dito isso as coisas que falarei serão baseadas nessa abordagem.primeiro discordo do nome vício em jogos, internet, pornográfia eles talvez sejam comportamentos que componhe o vício e não o próprio vício.segundo pesquisas na neurociênci mostra que por exemplo um jovem de 18 anos que começa a compra revistas da Playboy,sendo assim espomdo céu cérebro a pornografia,as mudanças que irão ocorrer em seu celebro são as mesmas de quem começa a usar por exemplo maconha.

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