Sobre a Constituição da Parentalidade: o processo de tornar-se mãe e tornar-se pai

"Uma criança que é investida de valor amorosamente, posteriormente, terá a possibilidade de se investir e investir em um outro também de forma amorosa."

9 NOV 2016 · Leitura: min.
Sobre a Constituição da Parentalidade: o processo de tornar-se mãe e tornar-se pai

O termo parentalidade designa a expressão que se refere aos papéis e funções parentais, ou seja, dos pais na vida dos filhos. Este termo ultrapassa o fator biológico e se conecta à experiências infantis que já foram vividas pelos pais e que envolvem questões conscientes e inconscientes. Desta forma, pensar na criação de um filho coloca em movimento aspectos da vida de cada um dos pais.

Sigmund Freud, pioneiro da psicanálise, pode nos ajudar a entender que o amor parental nada mais é do que o retorno e reprodução do narcisismo dos pais nos filhos, que procuram, através do afeto direcionado a criança, resgatar seu próprio narcisismo infantil perdido. Pode-se traduzir narcisismo, aqui, como o amor implantado por um outro que também pode ser amado/olhado e que resulta na capacidade de relacionar-se com os outros ou amá-los. Isto significa, que uma criança que é investida de valor amorosamente, posteriormente, terá a possibilidade de investir em um outro também de forma amorosa. Assim, pensar na criação de um filho coloca em movimento aspectos da vida de cada um dos pais. O desejo de ter um filho reatualiza então as vivências de sua própria infância e do tipo de cuidados parentais que puderam receber.

Sabe-se que cada vivência gera uma marca psíquica, fazendo com que as marcas presentes na vida dos pais da criança influenciem nos diferentes tipos de interação que ocorrem entre o bebê e seus cuidadores, podendo facilitar a instalação de vínculos afetivos seguros ou dificultar o seu processo. Fato inegável é que o nascimento de um filho transforma definitivamente a vida dos pais. Essas mudanças não só ocorrem relacionadas as vivências infantis de seus próprios pais, isto é, de um individuo que já foi cuidado, mas na mudança também real que a chegada do bebê provoca entre ele e seus cuidadores.

Portanto, o nascimento de um filho implica na inscrição do mesmo em uma história de cuidados físicos e psíquicos que marcam o reconhecimento de que os cuidadores já passaram pelo lugar de ser filho, o que permite aos pais construir uma relação com seu bebê indo além de uma repetição do passado. Nesta perspectiva, as fantasias dos pais sobre o bebê, incluindo seus medos, sonhos e lembranças da própria infância, ou seja, seu próprio mundo psíquico assumem papel fundamental na construção de uma nova vida.

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Escrito por

Bruna Bona Goelzer

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