Prevenção do suicídio: desmentindo o mito de que ocorre sem aviso

O Dia Internacional da Prevenção do Suicídio se celebra em 10 de setembro. Estudos indicam que a morte poderia ser evitada em 90% dos casos, daí a importância da conscientização.

5 SET 2016 · Leitura: min.
Prevenção do suicídio: desmentindo o mito de que ocorre sem aviso

Com a chegada do ''Setembro Amarelo'', símbolo da Campanha Internacional de Prevenção ao Suicídio, convidamos a psicóloga Maitê Hammoud para abordar suicídio e prevenção neste artigo.

Os números de suicídios são assustadores e merecem extrema atenção ao olhar da população e profissionais de saúde. Segundo estudos da Organização Mundial de Saúde (OMS), 800 mil pessoas cometem suicídios todos os anos. Isso representa que, a cada 40 segundos, uma pessoa no mundo comete suicídio.

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Estudos indicam que 9 em cada 10 suicídios poderiam ser prevenidos, ressaltando a importância da conscientização deste problema de saúde pública, que vem crescendo ao longo das décadas, principalmente entre jovens e idosos.

O suicídio é um comportamento humano extremamente complexo, sendo uma combinação onde existe a interação entre fatores ambientais, sociais, culturais, fisiológicos, genéticos, psicológicos e biológicos. O grau de intenção suicida deve ser considerado como um ponto contínuo: de um lado está a certeza absoluta de matar-se e, no outro extremo, a intenção de seguir vivendo, sendo cometido como uma tentativa desesperada de cessar com seu sofrimento intenso e existindo dentro de si este enorme sentimento de ambivalência.

O suicídio e suas faces

O que pode aumentar, facilitar ou ser um alerta de que o suicídio venha ocorrer são:

  • acesso aos meios e métodos do suicídio,
  • transtornos mentais,
  • ansiedade elevada,
  • doenças físicas,
  • isolamento social,
  • desesperança e insatisfação em relação a própria vida.

O suicídio possui diversas faces. Em todas elas a pessoa oferece risco real para si e deve ser valorizada no conteúdo em que está expressando, para prevenção da evolução de seu sofrimento e pensamentos, evitando a realização do ato concreto, onde fatalmente sua vida pode ser interrompida.

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É importante conhecermos estas faces e características para que fiquemos atentos, possibilitando a identificação de um amigo ou familiar que necessite de ajuda e até mesmo desmistificar mitos e verdades sobre o tema.

O suicídio é a morte autoprovocada com evidências (explícitas ou implícitas) de que a pessoa tinha intenção de morrer, porém, até que evolua para este ato fatal, existem alguns sinais nos que podemos identificar a evolução do quadro onde a pessoa oferece risco real, demonstrando a necessidade de receber ajuda e apoio profissional:

  • realização proposital de atos dolorosos, destrutivos ou lesivos a si mesmo sem intenção de morrer. Alguns exemplos são cortes que não ofereçam perda suficiente de sangue, infração de leis de trânsito, dirigir perigosamente, fazer uso abusivo de álcool, drogas ou medicamentos, colocar-se em situações de perigo como atravessar uma avenida movimentada sem prestar atenção nos semáforos ou fluxo de carros, ficar debruçado em parapeitos de janelas, se expor propositalmente a locais ou ambientes onde exista risco, provocar assaltantes em uma situação de perigo, entre outros.
  • fazer ameaças objetivas à sua vida ou associação a métodos de suicídio. A pessoa pode se expressar escrevendo cartas de despedida ou nomeando culpados pelo seu ato, por exemplo.
  • pensamentos em que o indivíduo é o agente da própria morte, podendo variar sua gravidade e intenção. Alguns exemplos são a expressão de sentimentos ou pensamentos que demonstrem a intenção de morrer, através de falas como ''meu único desejo é de não acordar nunca mais'', ''tenho vontade de pular pela minha janela'', ''às vezes imagino eu me jogando na frente dos carros ao observar o trânsito'', ''penso que não existem mais soluções para minha vida'', ''não existe a possibilidade de amanhã o dia amanhecer melhor''.
  • comportamentos autolesivos com evidências de que a pessoa tinha intenção de morrer. Estamos falando de ingerir grande quantidade de comprimidos e abortar a tentativa ao pedir ajuda médica ou ligar para um amigo ou familiar para se despedir, por exemplo.

Mitos e verdades sobre o suicídio

Existem muitos mitos em relação ao suicídio. Considerando esta cultura que vem se perpetuando a décadas e valorizando todas as faces e características mencionadas acima, vale ressaltar quais são eles.

Mitos

  • Pessoas que ameaçam suicídio não se matam.
  • Quem quer se matar, simplesmente se mata.
  • Suicídios ocorrem sem avisos.
  • Melhoras após a crise significam que o risco acabou.
  • Nem todos os suicídios podem ser prevenidos.
  • Uma vez suicida, sempre suicida.

Verdades

  • A maioria das pessoas que se matam dá avisos de sua intenção.
  • A maioria dos que pensam em se matar tem sentimentos ambivalentes.
  • Suicidas costumam dar ampla indicação de sua intenção.
  • Muitos suicídios ocorrem em um período de melhora, quando a pessoa tem mais energia e vontade, podendo transformar pensamentos desesperados em ação autodestrutiva.
  • Nove de cada dez suicídios podem ser prevenidos.
  • Pensamentos suicidas podem retornar, mas eles não são permanentes. Para algumas pessoas, eles podem nunca mais retornar.

Como ajudar?

É fundamental que a pessoa que apresente ideais suicidas ou comportamentos que oferecem risco para sua vida e saúde seja encaminhada para uma avaliação psiquiátrica. O tratamento medicamentoso ou possibilidade de internação podem ser fundamentais para que o suicídio seja prevenido.

A realização de acompanhamento psicológico também é fundamental, possibilitando o fortalecimento emocional e diminuição do sofrimento, ampliando suas perspectivas de vida e prazer.

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No caso de ocorrer um suicídio, é fundamental que seja feito um trabalho de acompanhamento e acolhimento com familiares e amigos, para prevenção e valorização destas vidas. Cerca de 7% da população é exposta ao luto por suicídio a cada ano.

Pesquisas estimam que 60 pessoas sejam intimamente afetadas em cada morte por suicídio, incluindo família, amigos e colegas de classe. Como a OMS estima que 800 mil pessoas morram por suicídio a cada ano, cerca de 48 milhões de pessoas podem ser expostas ao luto do suicídio em um ano. E considerando o dado de que pessoas com histórico de suicídio na família são muito mais propensas ao se matar, o acompanhamento e trabalho preventivo daqueles que foram afetados por este luto torna-se fundamental.

O suicídio torna o impensável pensável e manifesta sentimentos intensos de culpa, impotência e fracasso ao não terem conseguido ajudar ou prevenir de forma satisfatória o impedimento de que o ato ocorresse. Muitas pessoas não conseguem reconhecer que precisam de ajuda ou encontram extrema dificuldade em se expressar.

É fundamental, nesses casos, que ao perceber algum sinal, o familiar ou amigo tenha uma postura mais atuante, agendando a consulta com os profissionais (médico psiquiatra e/ou psicólogo), acompanhando-o, incentivando e apoiando ao longo do tratamento.

Se você conhece alguém ou se identificou com algumas das características deste texto, não deixe de procurar ajuda! Converse com seus amigos, familiares, profissionais de saúde ou busque apoio emocional através do Centro de Valorização da Vida (CVV), que trabalha diretamente com a prevenção do suicídio.

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Fatores relacionados ao suicídio

Ninguém está livre de ter comportamentos suicidas, porém existem estudos estatísticos que apontam alguns fatores como mais prevalentes:

Fatores demográficos

Mais comum entre adolescentes e idosos. Os jovens que sobrevivem a uma tentativa de suicídio merecem nossa atenção. Seus problemas são de fato graves, e, mesmo que não entendamos por que, precisamos aceitar a seriedade da questão.

Idosos vivenciam muitas situações de luto, adaptações diante limitações físicas e/ou sociais e, ao experienciar muito tempo ocioso e solitário, questionam o valor de suas próprias vidas, duvidando de sua capacidade para lidar ou mudar a situação. Tendem a não comunicar sua intenção antecipadamente, podendo buscar métodos de suicídios letais ou de maneira ''sutil'' ao deixar de tomar medicamentos de uso contínuo, que são vitais para sua saúde, buscando interromper suas vidas.

Fatores sociais

Mais comum entre:

  • viúvos ou divorciados,
  • homossexuais ou bissexuais,
  • desempregados ou que estejam passando por problemas financeiros,
  • pessoas num quadro de solidão e isolamento social,
  • casos de perda de parentes ou amigos próximos.

Mais comum nas profissões:

  • dentistas,
  • médicos,
  • policiais,
  • pessoas que possuem porte de arma.

Fatores psiquiátricos

Mais comum naqueles que possuem transtornos de humor, dependência e abuso de álcool e drogas, transtornos psicóticos, transtornos de personalidade, transtornos ansiosos e transtornos alimentares.

Fatores médicos

É mais comum em pessoas que possuem complexo HIV-Aids, câncer, epilepsia e esclerose múltipla.

Fatores familiares

História familiar de suicídio, doenças psiquiátricas, abuso físico e sexual na infância, distúrbios e violência no ambiente familiar são alguns dos fatores que contribuem.

Fatores relacionados ao comportamento suicida

Tentativas de suicídios anteriores, desesperança, impulsividade a agressividade.

Outros fatores

São cometidos com mais frequência nas segundas-feiras e durante a primavera.

Fotos: por MundoPsicologos.com

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Escrito por

Maitê Hammoud

Psicóloga clínica com curso de aperfeiçoamento em psicanálise, é especialista no atendimento de adolescentes, adultos e terceira idade. Seguindo a abordagem psicanalítica e da terapia breve, atua com foco em transtornos emocionais e comportamentais, relacionamentos interpessoais e questões familiares.

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