Por que o psicólogo não pode atender conhecidos/família?
Muitos ainda tem essa dúvida, e por vezes, gostariam que fossem atendidos pelos seus amigos formados em psicologia porque os conhecem e já se estabeleceu um vínculo. Mas a psicoterapia é um espaço diferente…
Segundo nosso Código de Ética, na Resolução CFP n 10/2005, nos é VEDADO: “Estabelecer com a pessoa atendida, familiar ou terceiro, que tenha vínculo com o atendido, relação que possa interferir negativamente nos objetivos do serviço prestado;"
Ou seja, qualquer vínculo que o psi julgue estar comprometido.
Mas não é apenas isso…mesmo que não fosse vedado, ainda seria uma falha ética dentro da psicologia clínica. Atender uma pessoa conhecida nos implica outra postura, que não é a de psicólogo clínico pois a psicoterapia nos exige UM OLHAR DE ESTRANGEIRO. Mas o que isso significa?
Significa olhar o outro sem ter "visto"/"sabido" antes; que a pessoa que vem à procura de atendimento nos seja estranho. Mas afinal, por que isto é tão importante?
Isso é importante porque a psicoterapia só poderia funcionar quando não temos pre-concepções antes de atender a pessoa. só devemos conhecer a pessoa a partir da psicoterapia. Essa é uma questão ética da psicoterapia.
O fato de saber sobre a pessoa nos coloca à prova enquanto psis, pois toda troca que tiver dentro das sessões estarão contaminadas por concepções anteriores. O mesmo acontecerá com a pessoa atendida.
Ter uma história anterior com quem te atende, pode gerar projeções e imagens do psi de forma distorcida…
A relação na psicoterapia é diferente daquela que você tem com as pessoas mais íntimas.
A relação que se obtém com psicólogos, é muito diferente da relação que temos com nossos amigos/conhecidos/familiares e até com outros profissionais. Por exemplo: se há uma pessoa que é médica na família, você sendo parente dela, pode se consultar com ela, pagando sua consulta como se fosse qualquer outro paciente.
Com psicólogos essa dinâmica é diferente, é impensável um psi poder atender um familiar ou um conhecido.
Na psicoterapia existe os elementos: imparcialidade e confidencialidade, elas permitem que a pessoa atendida não se sinta discriminada e julgada. Em uma relação dupla (conhecidos e psi/paciente), tudo o que trocarem de informação pode estar enviesado, gerando desconfiança e julgamentos pessoais que vão comprometer o trabalho em conjunto.
Cabe ao psi julgar como profissional, com bom senso e ética, quais vínculos poderão comprometer a psicoterapia.
Quer um exemplo?
Digamos que você conhece a tal psi desde do ensino médio, vocês foram colegas de classe. Vocês acompanharam uma a vida da outra pelas redes sociais de forma pessoal. E decidiu que ela seria sua psicóloga, imagine que toda vez que olhar para sua psi/conhecida, você verá não apenas a profissional, mas toda imagem anterior que você tem sobre a pessoa que agora te atende. A forma que você observar, responder, se expressar para a pessoa que te atende vai ser diferente. A relação ficará confusa.
Para a pessoa que te atende, ela pode "perder de vista" coisas importantes justamente por julgar te conhecer, mesmo que ela se esforce muito para manter a postura profissional. Ficarão pontos cegos para serem analisados/observados e discutidos. Terão elementos pessoais que darão direcionamento incorreto.
Lembre-se que o psicólogo será aquele que conhecerá suas vulnerabilidades, sua história…uma pessoa conhecida pode julgar já saber de você, o que pode trazer muito desconforto e desconfiança ao longo do processo, mesmo que você ame ou tenha muita consideração pela pessoa que te atende, que você conhece. Está imputado no trabalho do psicólogo o código de sigilo, a ética e o respeito sobre sua história. Ele só acessa sua história através do que você permite que ele saiba, partindo do seu processo em psicoterapia.
E então, ficou com alguma dúvida?
Se estiver numa situação parecida, o mais importante é levar isso para a psicoterapia, discutir a respeito, especialmente se estiver desconfortável.
Se está na busca de um psicoterapeuta e pensou em algum conhecido que você julga ser distante, acho válido conversar a respeito com o mesmo, porque é o psi quem vai determinar se afetará o processo.
Se ainda lhe restar dúvidas sobre fazer psicoterapia com conhecido, podes pedir indicação deste conhecido que você julga confiar. Hoje existe uma infinidade de nichos, abordagens, e psis diferentes entre si.
Obrigada pela leitura
Referências Bibliográficas
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Código de Ética Profissional dos Psicólogos, Resolução n.º 10/05, 2005.
CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA - ALAGOAS. 21 Papo Ético - Psicoterapia e os Vínculos com Terceiros.
As informações publicadas por MundoPsicologos.com não substituem em nenhum caso a relação entre o paciente e seu psicólogo. MundoPsicologos.com não faz apologia a nenhum tratamento específico, produto comercial ou serviço.
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Parabéns pela escrita clara e concisa para colocar essa questão tão presente, principalmente, no contexto familiar. No sentido de explicar para alguém o motivo de não atender uma pessoa x, conhecida.