Dirigindo a própria vida

Uma maturidade experiencial que dá ao indivíduo a capacidade de enfrentamento de novas situações pelo afastamento da fixidez e rigidez e de aproximação qualidade da mutabilidade

3 OUT 2017 · Leitura: min.
Dirigindo a própria vida

Carl Rogers fala de flexibilidade como condição para saúde mental. Num processo terapêutico bem sucedido há um movimento de um ponto caracterizado por fixidez para momentos de fluidez. Uma maturidade experiencial que dá ao indivíduo a capacidade de enfrentamento de novas situações pelo afastamento da fixidez e rigidez e de aproximação qualidade da mutabilidade.

Outro dia, atendendo um cliente na Clínica Ortopédica, politraumatizado num acidente automobilístico, me ocorreu comparar o desenvolvimento pessoal ao desenvolvimento da habilidade em dirigir um carro. A conversa ficou mais ou menos assim:

Quando se é um motorista imaturo, inexperiente, há uma preocupação excessiva nos procedimentos e até um certo pavor dos outros que se aproximam do seu carro.

Nos procedimentos do motorista imaturo existe uma insegurança, uma falta de confiança, uma carga de cobrança que acaba por perturbar a atenção e o raciocínio. Tudo parece beirar os limite das possibilidades, cada troca de marcha é um problema sério, quase insuperável. Por via das dúvidas acaba ficando com o pé no pedal da embreagem. O medo de ser multado, de ter sua habilitação cassada, promove a exigência de dividir o olhar entre a estrada e o velocímetro. Esse comprometimento visual acaba por inviabilizar a possibilidade de ler placas de indicação e de ver a paisagem. Preocupado com os outros, tem medo de machucar alguém, incomoda-se com quem vem atrás, com quem está na frente, com quem ultrapassa, com quem cruza; se pudesse, gostaria de estar sozinho na estrada, uma estrada sem curvas, sem buracos, sem subidas nem descidas. Acaba quebrando a máquina, culpando o fabricante, reclamando do mecânico. Esse sofrimento atroz, deveras estressante, acaba por causar intenso cansaço, dores nas pernas e nas costas, dor de cabeça.

O motorista novato tem medo de tudo, até de falar com quem teve a coragem, ou a inocência, de embarcar com ele na viagem.

A partir da experiência positiva, com o desenvolvimento das habilidades, o motorista passa a viajar com seu veículo, curtir o passeio, atingir seus objetivos com mínimo cansaço. Sentindo-se preparado para qualquer evento possível, sem descartar as possibilidades de contratempos, sabe que poderá executar a melhor manobra quando for solicitado. Tranqüilo mas atento, desvia dos buracos, enfrenta curvas como se dançasse uma valsa, desvia dos buracos como se pulasse amarelinha, sobe e desce ladeiras como se brincasse num parque de diversão. Nem se incomoda mais com os incautos, os apressados que querem passar por cima, os molengas que só ocupam a estrada; sem alterar o seu humor, consegue administrar a viagem, chegar ao seu destino; e se não tiver destino, vive o passeio. Estar alerta não conflita com estar bem. O dispêndio de energia é mínimo, incomoda menos e dá mais prazer do que estar sentado no sofá de sua sala. Se a máquina quebra, simplesmente conserta ou manda consertar.

O motorista experiente pode curtir a viagem a sós, a dois, e até, com carro lotado com as mais diferentes pessoas.

Trazendo o exemplo para a vida de cada um, nossa mente é o motorista de nosso corpo, nossa personalidade é o motorista de nossa vida.

O imaturo vive tentando seguir regras rígidas (mesmo não concordando), com medo de errar; o maduro flui pelas possibilidades para fazer o melhor com menor gasto de energia.

O imaturo dá muita importância s opiniões e aos procedimentos das pessoas que o circundam ou cruzam seu caminho; o maduro ousa realizar os suas vontades dentro das possibilidades.

O imaturo gasta suas energias, desgasta seu corpo (fica doente) só de pensar no que fazer com os outros e para os outros; o maduro desfruta do seu veículo (seu corpo) e de sua viagem (sua vida).

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Escrito por

Psicólogo Pedro Santo Rossi

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