Como saber se preciso de ajuda?

Como saber se preciso de ajuda? Algumas dicas ajudam a identificar quando é hora de procurar tratamento.

12 AGO 2017 · Leitura: min.
Como saber se preciso de ajuda?

Dia desses estava lendo uma reportagem sobre a adicção em sexo. A revista que publicou a matéria era de grande circulação e contava com depoimentos de várias pessoas, com o intuito, ou ao menos parecia, de exemplificar o que era essa doença e o que vivenciavam as pessoas com esse diagnóstico. Entre as falas, estava o de uma atriz que se considerava ninfomaníaca. Sua fala era "gosto muito da coisa, mas quando vejo que estou fazendo demais, paro".

Como profissional, me assusta que essa fala estivesse contida junto a outras. Em nenhum momento é possível identificar que o que ela vivencia como um quadro psiquiátrico. Não havia comprometimento ou prejuízo nas áreas cognitivas, sociais, econômicas ou emocionais. Não havia sofrimento. Não havia alteração na rotina da profissional. Em outras palavras, não existia ninfomania (chamada pelo DSM V de Compulsão sexual).

Essa fala demonstra a desinformação e até certa romantização de quadros psiquiátricos. No caso do texto, percebe-se que alguns excessos são considerados até desejáveis. Dizer que gosta de sexo é algo atrativo. Isso não acontece apenas com adicção em sexo, mas também com outras doenças. Tristeza é confundida com depressão, apreensão com ansiedade, magreza com anorexia, preferência por organização com transtorno obsessivo compulsivo

Esse tipo de discurso dificulta a aceitação das pessoas que sofrem com essas condições, porque parece que elas podem ser resolvidas apenas com boa vontade ou com o desejo de parar. Esses discursos fortalecem crenças de que essas condições são facilmente resolvidas e que, portanto, quem sofre com esses problemas não melhora porque não quer.

Outro ponto é interferência na busca por ajuda. Se todo mundo tem um pouquinho de alguma condição, o que diferencia o que eu sinto de uma doença? Mesmo com a percepção de que enfrenta grande sofrimento, muitas pessoas não procuram auxílio profissional, porque sentem vergonha de não poder resolver a situação sozinhos. Ou sequer reconhecem que o sentem não é saudável.

Considerando os aspectos que mencionei acima, aponto algumas características que podem ajudar a diferenciar um comportamento comum de um comportamento problema que precisa ser tratado:

1) Existe sofrimento: a pessoa que enfrenta um problema psicológico, sofre com isso ou pessoas do seu círculo próximo. Em relação ao aspecto individual, a vivência da doença psicológica ou psiquiátrica é única para cada um, tanto quanto seu impacto. No aspecto familiar, algumas condições causam perda de contato com a realidade e seus amados são os que mais sofrem com ela.

2) Há prejuízo nos aspectos pessoais: pessoas que enfrentam problemas psicológicos tendem a diminuir seu desempenho no trabalho e em atividades competitivas. Tendem a ser mais ausentes na participação familiar.

3) Condições orgânicas podem aparecer: algumas pessoas não se queixam de dor emocional porque não conseguem percebê-la ou mensurá-la; portanto o corpo encontra outras maneiras de indicar que há algum problema. Dores de cabeça, dores no corpo, dificuldades no sistema digestório, dificuldades sexuais (falta de desejo) são alguns sinais para atentar.

4) O problema persiste: independente das ações e medidas que a pessoa tome, o problema continua aparecendo e se repetindo, podendo ou não escalar. Isso indica uma das quatro hipóteses (a) o problema não foi tratado por tempo suficiente; (b) o problema errado foi tratado; (c) o problema não foi tratado; ou (d) o problema foi tratado de maneira incorreta.

Saliento que essas são só alguns sinais que podem ser percebidos pelo indivíduo ou por aqueles que os rodeiam. Cada questão precisa ser avaliada por um profissional e receber diagnóstico e prognóstico adequados.

Mesmo que esses assuntos sejam discutidos na mídia, nem sempre contam com supervisão de um profissional especializado. Por interesses alheios à saúde pública, matérias são produzidas sem o devido cuidado e causam dificuldades de acesso a uma informação qualificada além de causar problemas as pessoas que procuram ajuda.

PUBLICIDADE

Escrito por

Liediani Souza

Consulte nossos melhores especialistas em
Deixe seu comentário

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE