A ilusão da imortalidade e a morte na vida de cada um

Nada mais certo na vida do que a morte que acontecerá um dia. A angustia de viver com medo da morte é sofrimento constante. Não se muda o destino, muda-se o conceito.

3 OUT 2017 · Leitura: min.
A ilusão da imortalidade e a morte na vida de cada um

Outro dia, na estrada de Piracaia a Bragança, dei carona para um senhor desconhecido, simpático e simplório. Conversa vai conversa vem descobrimos que ele conhecia meus avós e a conversa virou para os velhos que morreram. Ele mesmo estava indo para o velório de um amigo e declarou seu desconforto em ver seus amigos morrerem. Lembrei-lhe uma história antiga:

Um rei começou a ter um sonho constante que lhe tirava o sono. Sonhava que estava no salão do trono e aos pouco o salão ia se esvaziando até ficar vazio. Chamou um sábio para interpretar seu sonho. O sábio vaticinou que o rei ficaria sem todos os seus amigos. Irritado o rei mandou matar o sábio. Veio o segundo sábio e disse que todos os amigos do rei iriam morrer. Irritado o rei mandou matar o segundo sábio. O terceiro sábio encarou o rei e sorriu: - Sua majestade vai viver tanto e reinar tanto deste trono, ter tão longa vida, que todos os que o rei conhece, não terão tanta sorte. O rei ficou satisfeito e mandou premiar o terceiro sábio.

A ideia da morte, mesmo que seja a única certeza de todo mortal, é evitada pela maioria das pessoas. Busca-se a ilusão da imortalidade ao negar a existência da morte, pelo menos para o próprio pensamento.

Quando se pergunta o que a pessoa faria se soubesse ter somente mais seis meses de vida, normalmente se ouve uma série de sonhos a serem realizados, uma aventura a se concretizar. Ninguém sabe se vai viver mais um dia, mas procura não pensar nisso. A protelação, o deixar para depois uma série de coisas, é reforçar a ideia que vai ter ainda muito tempo para realizar tudo. E acaba não realizando nada, pois vai deixando tudo para depois.

No filme "O caçador de androides", há uma discussão sobre a sensação de estar vivo e o saber do limite da vida. O androide, ao segurar o caçador dependurado sobre o edifício, lembra ao caçador a felicidade que é não saber se vai morrer ou não naquele momento, ter a ilusão da imortalidade, enquanto ele, o androide, fora programado para durar um tempo determinado, e cada momento é uma contagem regressiva.

Não saber qual a data do fim da vida, é uma ilusão de imortalidade, vez que a morte não está presente nos planos de vida.

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Escrito por

Psicólogo Pedro Santo Rossi

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Comentários 1
  • Mario

    Como você chegou à certeza de que a imortalidade é uma ilusão? Eu sei que isso parece o mais plausível, mas como se pode ter certeza disso? Parabéns por chegar nesse ponto! -Não é uma ironia-. Eu levo muito tempo para ter certeza das coisas, isso quando chego lá. Santo Tomás comentou certa vez sobre a “incapacidade de esgotar a essência de uma mosca”. Achei que esse homem tinha os pés no chão. Tenho feito tratamento com um psicólogo muito experiente (mais de trinta anos), há pouco mais de um ano, após ter tentado outros. Se me perguntarem o que eu tenho a dizer do meu tratamento, posso afirmar que ele me ajudou a não dar certos passos que poderiam ser prejudiciais para mim, como pedir afastamento do meu trabalho, por meus problemas mentais -não é muito, mas tá longe de ser desprezível. Ainda bem que ele responde ao WhatsApp. Nesse ponto, ele supriu a falta de um amigo maduro em quem eu confiasse. Se eu fosse avaliar o custo-benefício do meu tratamento, sinceramente, não estou certo da eficiência da psicologia na minha experiência particular. O tratamento parece funcionar melhor quando os medicamentos entram no jogo. Acredito que seja um gap de formação dos profissionais que busquei e tive acesso. Consegui resultados interessantes e algum alívio lendo livros sobre TCC e EPR. São técnicas que funcionam com muitas pessoas e acredito que eu poderia me beneficiar muito se encontrasse um terapeuta especializado. Fora isso, acho a psicologia muito cara ($) e vaga. Tenho o sentimento de que os psicólogos, no geral, são ouvidos mais tolerantes do que treinados, principalmente porque precisam fazer seus pacientes acreditarem que precisam desembolsar uma grana todas as semanas e que isso vale a pena. Afinal, quem teria saco de ouvir tanto sofrimento alheio? Mesmo assim, não cheguei à certeza de que a psicologia seja um tratamento quase inócuo. Vou tentar mais um pouco. Talvez, se eu fosse como você, já teria chegado a uma conclusão e teria deixado de torrar uma boa grana. Os psicólogos geralmente creem na eternidade de sua utilidade. Essa eternidade não é uma ilusão.

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