O que está por trás do fanatismo?

O que sustenta o comportamento de um fanático? Haveria bases comuns entre as diferentes formas de manifestá-lo? Entenda a seguir por que se trata de uma postura tão nociva para quem a tem.

13 JUL 2018 · Leitura: min.
O que está por trás do fanatismo?

De uns tempos para cá, as pessoas estão manifestando opiniñoes cada vez mais radicais, seja sobre política, sexualidade, direitos humanos, religião, etc. Traduzindo: os casos de fanatismo vêm ganhando proeminência.

E as redes sociais parecem facilitar a dispersão desse tipo de mensagem, que acaba encontrando eco entre outros usuários e se retroalimentando. Trata-se de discursos cheios de extremismo, de uma obsessão descontrolada por um conceito, um personagem ou uma pessoa; algo que acaba sendo prejudicial, tanto ao fanático como para quem convive com ele.

O que está por trás do fanatismo? Seria uma forma de ocultar fragilidade e insegurança? É importante entender as bases dessa radicalização, até mesmo porque não se trata de um movimento exclusivo do Brasil, mas que vem ganhando força em todas as sociedades.

Tão extremo, que chega a ser delirante

Por mais distinta que possa ser a personalidade de um fanático por futebol, de um esquerdista ou de extrema direita, por exemplo, há algo que os une: em todos os casos, existe uma adesão incondicional à "causa" pela qual advogam. Essa adesão não tem matizes, nem limites; a pessoa perde a perspectiva e está disposta a fazer o que for preciso para defender suas ideias.

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Com esse tipo de postura, é praticamente impossível manter um diálogo saudável. Diante da divergência de opinião, da confrontação, as reações mais normais costumam ser:

  • agressividade
  • dificuldade de escuta
  • expressões de ódio e preconceito
  • estreiteza mental
  • pensamento dicotômico, tendência em ver o diferente como inimigo

A psicologia social já analisava o comportamento fanático e das massas há pelo menos dois séculos, olhando com preocupação para todas aquelas convicções que serviam para aprisionar ao invés de libertar. Para tentar entender como funciona o cérebro das pessoas fanáticas, várias disciplinas se dispuseram a investigar o tema.

Alguns estudiosos indicam que um dos fatores que pode desencadear os comportamentos fanáticos é a dopamina, um neurotransmissor intimamente vinculado à forma como manifestamos as emoções e que se ativa quando o organismo obtém uma sensação de prazer. Foi descoberto que sua ativação é proporcionalmente mais potente quanto mais inesperada é a recompensa, e que o cérebro rapidamente se acostuma a essas recompensas neurológicas. O impulso de seguir buscando-as, com a vitória do time, com a preponderação das visões políticas, etc, não deixaria de ser um impulso neuroquímico.

Por outro lado, psicólogos especializados em comportamentos violentos afirmam que é mais fácil que um fanático mude o foco do seu fanatismo do que passe a adotar um comportamento tolerante. Isso estaria associado a uma estrutura mental adquirida, permeada por distorções cognitivas.

Além do mais, o fanático tende a dividir o mundo entre os que pensam como ele e os outros, coisificando o inimigo. As consequências desse tipo de comportamento é a falta de empatia e de compaixão.

Para muitos especialistas, o fanatismo é uma resposta à insegurança e o medo ao julgamento dos demais, funcionando como um escudo de proteção. A pessoa se encerra em convicções absolutistas e inquestionáveis para não ter que lidar com a sua própria fragilidade.

Fotos: MundoPsicologos

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Comentários 11
  • Eduardo

    Vocês poderiam indicar algum livro sobre o assunto?

  • Vanessa lima

    Artigo interessante !! Eu nunca tinha ouvido falar nesse termo, mas sozinha cheguei a conclusão de que isso existia, no Google pesquisei sobre o tema e me deparei com este artigo que me foi extremamente esclarecedor. Mas é preciso ser equilibrado para entender e absorver com inteligência, lendo os comentários percebi que algumas pessoas o tem e nem percebem. Mas acredito que algumas perguntas nos ajudam a identificar isso em nós mesmos: E se fosse comigo ? E preciso apontar alguém ou insinuar para defender meu ponto de vista ? Será que analisei todos os pontos, uma pessoa pode ser 100% ruim ou boa em tudo que faz ou diz ? Será que eu analisei o contexto social dessa pessoa, a forma que ela foi criada para julgá-la como ser humano ? O importante é procurar entender o porque da atitude das pessoas e o que as levou a pensar dessa forma, não somente colocar rótulos, eu acredito que todos são fruto das experiências que tiveram na vida, o que pode resultar em algo que nos agrada ou não, cabe a nós respeitar essas diferenças.

  • Cristina Braga

    Excele artigo! Abordagem clara, objetiva e bem fundamentada. Aqui me encontrei, finalmente. A exemplo do comentário do Fernando Braga, alguns membros da minha família e também do meu esposo, parecem ter sofrido uma lavagem cerebral, aonde só existe uma pessoa honesta e bem intencionada no mundo, apesar das evidentes mazelas, vivem em uma cegueira desconcertante. Vejo com preocupação este movimento de extrema direita que arrebanha pessoas incautas e ávidas por soluções milagrosas, desprezando completamente a razão, a ciência e o bom senso. Concordo plenamente quando cita as redes sociais como uma ferramenta utilizada para o fomento ao fanatismo, seja religioso, político, social. O Brasil contemporâneo vive uma experiência marcante com as fake news com a criação de um "mito" ou seja um personagem fictício, salvador da pátria e que alimenta uma legião de fanáticos incondicionais.

  • Clarice pereira maia

    Belo texto, mas, por exemplo, escrevo hj 17 de junho de 2020, o presidente Bolsonaro disse para seus "apoiadores" q invadam hospitais e vejam se os leitos estão ocupados, isso nao é uma idéia diferente....há uma razão para isso ser absurdo...há um raciocínio com dados de realidade para ser repulsiva essa fala, logo, só um fanático pode continuar negando esta fala Assim como a esquerda, houve mensalao, petrolão, é um fato, foram filmados, foi julgado, ...mas, há a negação O fanatismo é um delírio

  • Alberto Pinho

    Bom dia, analisamos e percebemos o sentido do artigo e notamos detalhes imporrantes, estou inserido no contexto do futebol já que não faço parte do contexto político, portando, apolítico em razão de uma convivência e participação direta no processo político e saber como funciona. Então vamos ao futebol, a maior paixão do brasileiro principalmente; sendo um dos torcedores assiduos do Esporte Clube Bahia, nunca houve problemas contra adversario, rivais ferrenhos, que chegasse a traduzir em violencias tanto bas redes sociais, como pessoalmente fisicamente causando o confronto, nem pensar, principalmente envolvendo amigos colegas e parentes, tudo tem limites e o meu limite é a paz, convivendo em ambiente saudável. Que a paz sempre reine no esporte, principalmente no futebol, nacional e internacional, ou melhor, no mundo dos esoortes. BBMP.

  • DOUGLAS PEREIRA

    Eric Hoffer fala de comunismo e religião, e esquece que o fanatismo independe de ideologia (no caso esquerda e direita). O artigo, excelente, resume o pensamento reinante HOJE, 21/04/2020, onde a agressividade, o pensamento dicotômico, a estreiteza mental, etc.. são "valores" são distinções. Em pleno século 21 tivemos a medievalização...(aqui uma analogia simplista admito), mas que resume o fanatismo de massa, falta queimarem livros e pessoas, mas se deixarem chegaremos lá.

  • Fernando Braga

    Adorei esse artigo estou entendendo mais meus familiares, onde sempre tiveram um tendencia a direita, sendo malufista ou mesmo defendendo ideias que é prejudicial a eles mesmos, pois são pobres trabalhadores que se dizem de classe média, acabaram por descobrir o Bolsonaro e ficaram fanáticos, ao ponto de não assistir a Globo, qualquer discussão que eles nem estão inseridos, ficam loucos. Também estou vendo isso com professores e o pessoal mais velho, essa visão de mundo não tem uma politica que irá favorecer eles, pelo contrario, e mesmo assim estão cegos, parece muito com um movimento fascista, que se o líder mandar, eles vão cegamente acompanhar. E pior de tudo que mesmo vc explicando o conceito, mostrando referencias e tudo mais, não adianta, junta fascismo, liberalismo, globo, Doria, padre progressista com comunismo, e nem querem entender o que é o comunismo. Mandei uma matéria do velho canalha Erasmo Dias (que eles adoram) falando da viajem URSS, foi a mesma coisa que nada. Muito Obrigado pelo entendimento

  • Giselle Martins Nóbrega

    PERFEITO. Muito interessante.. Procurei um artigo no Google que me fizesse entender o fanatismo de alguns colegas que praticamente se tornaram "cegos" ao defender o atual governo,Bolsonaro.. Convivi tantos anos com eles,mas agora virei inimiga por não compactuar com ideias claramente destrutivas e impensáveis, ao meu ver. Muito triste todo este retrocesso político e cultural no qual estamos vivendo. Agradeço por este artigo,simples,porém muito esclarecedor.

  • Simone Augusto Costa

    Boa noite! Meu nome é Simone, meu filho está fanático por política, virou socialista, fiz que é de esquerda e condena os de direita, parece que fizeram uma lavagem cerebral nele... É inteligente, faz 5 ano de direito na PUC de São Paulo, porém lá que acabou ficando desse jeito, existem pessoas que entram nas classes e convencem os alunos a serem de esquerda, é um absurdo, deveria ser proibido essa prática... Enfim, meu filho era carinhoso, caseiro e agora está agressivo e fanático, não reconheço ele, estou desesperada, o que posso fazer? Preciso de ajuda, obrigada.

  • Maria Fernanda Pereira

    ....Eis um belo exemplo. Pessoas fanáticas tem dificuldade em lidar com abstrações, uma vez que são compelidos a moldá-las a sua temática de obsessão.


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