É possível ter ansiedade e viver de forma saudável?

Ansiedade é aquele sentimento ruim, desconfortável, que nos faz ter medo de tudo, especialmente do futuro e das coisas ruins que podem nos acontecer. Parece que a tensão que sentimos é uma maneira de evitar essas coisas pessimistas, como se ela pudesse nos proteger do que fantasiamos.

Por isso entendo que viver com o diagnóstico de ansiedade (ou com o autodiagnóstico) seja muito desconfortável, independente do grau em que ela se manifeste. Ela nos diz sobre o sentimento de buscar certezas a respeito da vida, onde evitamos correr riscos pois os entendemos como algo muito perigoso. Logo, essa previsibilidade a respeito da vida nos deixa numa situação um pouco mais confortável, já que temos tudo sob controle. Acredito que não preciso dizer que se trata de um controle ilusório pois a vida é da ordem do imprevisível e do imprevisto.

Toda essa imprevisibilidade assusta porque não sabemos o que será. Inclusive por vezes podemos nos esquecer que as coisas não precisam acontecer de uma forma tão pesada. Existe o famoso "e se der certo?". Parece que a ansiedade só nos faz pensar no "e se der errado?" (ou até a certeza de que vai dar errado, por isso precisamos bolar uma série de planos e de cadeias de seguranças).

Buscar toda essa cadeia de planos nem sempre vai ser útil, afinal tenho certeza que já te ocorreu não precisar usa-los. Por exemplo: o plano A pode falhar, por isso já tenho um plano B, C, D e E, só por garantia. Até concordo que, em alguns casos, ter um plano B pode ser cuidadoso, mas há um gasto de energia muito grande em criar tantos planos que, na maior parte das vezes não vão ser usados.

Por isso esse controle pode acabar nos adoecendo quando ultrapassa uma linha e nos afasta de nossa espontaneidade. Entendo também que essa previsibilidade teve razão de existir e se mostrar presente, afinal com certeza há um histórico que levou a pessoa àquela situação, por isso tomo muito cuidado ao pontuar essa questão.

Um processo de terapia pode nos ajudar a clarificar essa ansiedade, nos levando a compreender essa história, entendendo que ela pode ter sido muito funcional e útil em algum passado, mas talvez agora traga mais prejuízos do que ganhos, por isso precisa ser cuidada.

Por exemplo, num passado pode ter evitado um imprevisto desagradável, nos ajudou a antecipar uma situação e prevenir coisas que poderiam nos machucar.

Nesse caso, pode nos ser muito interessante entender que essa previsão é uma hipótese, não uma garantia. Assim, a hipótese trata de algo que pode acontecer, mas não necessariamente vai acontecer.

"A previsão como hipótese gera cuidado, enquanto a previsão como certeza gera controle" (Pinto, 2021). Logo, a previsão não é por si só uma coisa ruim, mas precisa ser cuidada para que sua intensidade não machuque também.

Como pudemos perceber, o sentimento da ansiedade em si não é uma coisa evitável ou adoecedora por si só. É claro que, quando exacerbado, precisa ser cuidado, mas não há nenhum ser humano que não a tenha experimentado em algum grau. Por isso, cuidado ao pensar na ansiedade como um diagnóstico ou como um fator negativo, ok?

Referênicas:

Pinto, E. B. (2021). Dialogar com a ansiedade. São Paulo: Summus.

Stevens, J. O. (2013). Tornar-se presente. São Paulo: Summus.

Frazão, L. M., Fukumitsu, K. O. (2020). Enfrentando crises e fechando Gestalten. São Paulo: Suummus.

As informações publicadas por MundoPsicologos.com não substituem em nenhum caso a relação entre o paciente e seu psicólogo. MundoPsicologos.com não faz apologia a nenhum tratamento específico, produto comercial ou serviço.