Você já pensou em fugir de casa?

Tenho observado que um grande número de pessoas já pensou ou pensa em fugir de casa. Você já passou por isso ou conhece alguém? Quando essa vontade veio? Veio várias vezes?

Vamos conversar sobre pertencimento e a dificuldade natural de lidar com problemas, seus e dos outros??

Os seres humanos quando pensam entram numa situação delicada, ao qual se deparam com verdades conflituosas. "Meu pai me ama, mas me maltrata". "Minha mãe faz tudo por mim, mas é muito dependente". "Não sou aceita nessa casa". "Meu avô é muito exigente". Violência doméstica de todos os tipos. Falta de estrutura. Estresses. Super proteção. Dependência química na família. Desconexão, etc.

Pode ser bastante doloroso pensar que você não pertence aquele lugar, aquela família, e aí vem na mente a solução de todos os seus problemas: FUGIR.

A fuga é uma reação instintiva, apreendida ao longo da 'história da evolução da espécie humana' e, nos tornamos bons nisso. A vida moderna traz mais motivos e mais possibilidades para fugir. Há várias situações que esta reação se encaixa como: ameaça de vida, abandono, negligência, frustrações, decepções, desinteresse, escape. E sentimentos como o ciúme, a inveja, a raiva, a mágoa, a desmotivação tomam conta de nosso ser.

Se perguntar o que falta em sua casa traz desconforto, imediatamente olha-se a vida do outro. Imaginas que a vida deste é muito boa, ora ele viaja, ora tem uma família feliz, ora se dá bem em suas relações interpessoais, ora é uma pessoa bem resolvida. Quando se chega a fase adulta, ainda pensas em algo que te tire destes pensamentos, no entanto, na infância não temos o ego estruturado para nos alertar e "defender". A adolescência, considerada a fase cheia de fantasias, aventuras, provocações, comportamento grupal e descobertas, é um desafio em tanto não fugir.

Então, o que poderá nos impedir?

Aos leitores adultos: podem refletir sobre que ambiente eu proporciono para meus filhos? Quais exemplos de comportamento e reações estou transmitindo? Qual a vibração das emoções e sentimentos em cada um? Qual engajamento familiar para ter harmonia dentro de casa? Quais valores eu tenho? Quem geralmente ganha é o grupo ou um único indivíduo da família? Como eu resolvo os meus problemas? Como eu interfiro/ajudo ou atrapalho nos problemas dos outros? Você sabe se seu filho já pensou em fugir de casa?

Aos jovens leitores: não há lugar físico que também não seja emocional, mental e espiritual. Você pode resolver alguns de seus problemas, outros o acompanhará onde quer que vá, pois são conteúdos seus e/ou você já incorporou. Destaco os riscos de uma fuga, que não são poucos, por mais planejada que esteja na sua cabeça. Pense que essa coragem, pode ser canalizada para objetivos mais construtivos em seu processo de individuação. Um parêntese para destacar a fuga dos jovens modernos: abuso de drogas, redes sociais e automutilação. O que falarei nos próximos textos.

Na infância, essa vontade de fugir precisa ser simbolizada, trabalhada em várias perspectivas do mundo dela. É preciso deixar vir, perceber os sinais e, acompanhar com carinho.

Podemos esperar a vontade passar, dar uma volta, desparecer. Também podemos acolher o que teu ser necessita, iniciar sua busca. Descobrir as causas e, aprender a lidar com os incômodos da vida. Ser menos vítima dos contextos e mais autor da sua história.

Neste texto trabalhamos com vários questionamentos sobre o impulso, a ideação e atitude de fugir de casa, diferente de quando 'planejamos conscientemente' em sair do seu núcleo familiar porque chegou o tempo de viver na sua casa e continuar sua história de outra maneira.

Agradeço imensamente por poder compartilhar o meu caminho pessoal e profissional. E, sigamos juntas e juntos.

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