Sentido da vida

O texto aborda a consciência no existir concreto, como podemos dar respostas para nós mesmos, o que causa angústia e estresse. Como focamos a vida e como lidamos com a manipulação do sistema

21 OUT 2019 · Leitura: min.
Sentido da vida

Estamos num tempo em que sentimos a aflição de experimentarmos o vazio interior e uma tristeza por algo que não se concretiza. É um sentimento de solidão onde buscamos externamente preencher esse vazio interior. Buscamos novos relacionamentos, novas profissões, novos amigos, mudanças de cidades e até de países. Porém, nada preenche esse vazio. Mudamos, e o vazio nos acompanha.

Precisamos equilibrar a vida material e espiritual. Necessitamos viver usufruindo da matéria, trazendo os aprendizados à alma e mantendo-nos conectados ao nosso Eu superior da vida. É pelo equilíbrio que superaremos, anconrando o amor, sem nos esquecer daquilo que a matéria é feita, sem negar nossas emoções, nossos sentimentos humanos, equilibrando-nos entre o espírito e a matéria.

Esse é o caminho da maestria na vida física. O objetivo da vida não é certamente o de ficar rico, construir patrimônio. Isto é paliativo para a angústia que não passa com uma vida vazia. E uma vida atrás de benefícios materiais é uma vida vazia. Isto se comprova porque quando você morre, deixa tudo o que acumulou. O que adquiriu de bens materiais, deixa tudo. Não leva nada. Então, podemos dizer que o sentido da vida é a morte.

Qual o proveito que tira dessa viagem? Se quiser dar um sentido além do sentido material, que é a morte, vai depender da sua postura interna, de suas escolhas, da sua visão de mundo, dos seus sentimentos, desejos, objetivos de vida, dos seus valores.

Quais os seus valores? Seus próprios valores pessoais? E quais os valores que foram implantados pelas induções sociais? O que você quer da vida? Sim, tudo o que puder levar, mas é certo que, dinheiro, bens materiais, conforto, consideração social, privilégios não vai levar e é pouco.

Não sei o que exatamente quero da vida: satisfação, paz, harmonia, felicidade, realização; Contudo, estou aprendendo o que não quero. Não vou ver um mundo justo, mas eu trabalho por um mundo justo porque se não trabalhar para isso, minha vida não tem sentido, não consigo usufruir de benesseres enquanto tanta gente sofre necessidades. É constrangedor, vergonhoso.

Somos programados para sermos competidores implacáveis onde para vencer tem que ultrapassar, derrotar os outros. Este é o modelo de ensino, mas sobretudo da mídia comercial que se infiltra em cada casa usando uma psicologia do inconsciente, com mensagens subliminares, artimanhas sombrias para criar falsos valores. Valores materiais, para criar desejos de consumo compulsivo e as pessoas com necessidades materiais esquecem de satisfazer suas necessidades internas imateriais.

Não é a toa que se toma toneladas de antidepressivos porque a vida é deprimente quando se foca apenas no material. Se cada um tomasse do mundo pra si aquilo que é realmente necessário para a sua existência, pelo seu exercício de humanidade, o mundo mudaria, não haveria fome, não haveria abandono, as pessoas perceberiam que tem vantagem para todos.

Uma sociedade instruída necessita de uma inversão forte em educação para preparar as crianças; As que nascem na miséria, já tem um destino traçado de sofrimento e de exploração, de ignorância e inconsciência porque o modelo social é criado para isso.

O dinheiro não é nem bom e nem mau, depende do uso que se faz dele. É um meio de troca. O problema não é a matéria. O problema é a ambição, o problema é o egoísmo, a ganância, a ânsia de ser melhor do que os outros, uma necessidade artificial implantada. Se você se contentasse e usasse só o que precisa, teria um comportamento diferente, evolutivo. O problema é quando começa a achar que precisa mais do que realmente precisa.

Se o sentimento estivesse no primeiro plano, a sociedade seria outra porque priorizaríamos o que sentimos e não o que pensamos. É como se disséssemos para a nossa razão: desce daí porque você não é capaz de comandar. Quem vai comandar é o sentimento e você vai ser assessora do sentimento para resolver como colocar em prática o que o sentimento decide. A partir desse momento a nossa vida mudaria, ganharia mais sentido, ganharia mais gosto, mais sabor, mais colorido, quando tiramos a razão do centro de importância.

Daí, reconheceriamos a precariedade da razão, reconheceriamos que existe uma indução para colocar a razão no comando porque a razão pode ser condicionada, pode ser modelada, pode ser enquadrada, manipulada no modelo de ensino que temos.

Você pega o filho, coloca ele na escola, mas dois meses depois, ele não quer mais ir... Por quê? Uma das primeiras coisas que vai escutar é: "você não pode se divertir enquanto aprende. Você vai deixar pra se divertir na hora do recreio"... pronto, já está enquadrando essa razão para quando chegar na idade adulta, aceitar o trabalho como sacrifício, não como prazer.

Então, o trabalho passa a ser visto como sacrifício, como castigo, como sofrimento. As diversões são para as horas livres. Aí vemos as pessoas loucas pelas sextas-feiras e entram em pânico em pensar nas segundas-feiras... porque aceitam o trabalho como sacrifício.

É essa aceitação que temos que eliminar: trabalhar no que gostamos, no que adoramos e só fazer o necessário para viver, sem necessidade de ganhar muito. Um problema que temos é a falta de consciência da realidade, falta de consciência de que a estrutura social é falsa, é mentirosa, é criminosa, é hipócrita, consciência de que a vida não precisaria ser medíocre, não precisaria ser angustiante, poderia ser solidária, realizante.

Se você tomar consciência não se deixa escravizar, perceberia que o patrão não é o forte; Forte é o fraco, o dependente. O patrão se mataria se perdesse tudo o que tem. O pobre, tido como fraco, é o forte. Ele supera dificuldades todos os dias, vive de uma forma que seu patrão não aguentaria. "Uma corrente é tão forte quanto o mais fraco dos seus anéis".

Tomar consciência dessa realidade e perceber como as coisas são invertidas, o inverso de como nos são apresentadas. E parar de nos enganar. Os que comandam são muito poucos e precisam dos empregados para fazer tudo. E os empregados fazem por que não tem consciência.

Não vamos gerar sentimento de culpa: não vamos olhar para o dono do restaurante como se ele fosse um perverso, um culpado. Ele está exercendo a perversidade sistêmica, social. É natural que ele faça isso. Ele acredita que isso não é perversidade. Então, quem somos nós para julgar! É a estrutura. Nós estamos na estrutura, não contra ela, mas por ela.

O trabalho mais importante que existe na sociedade sem o qual nada funcionaria é o trabalho braçal, de baixa qualificação. É o trabalho de quem carrega nas costas, quem bota um tijolo em cima do outro, é quem limpa, vare, cozinha, quem planta e colhe cada safra; É quem carrega, quem entrega, quem põem as maquinas para funcionar, quem concerta as coisas, quem põe o asfalto, o cimento, os postes, os fios, os canos... tudo é feito por mão de obra barata, tudo é feito pela massa dita ignorante.

Então, o ensino público não tem intenção de instruir a consciência do povo porque um povo instruído não se deixa dominar. É preciso criar ignorância e a função do sistema educacional público é criar ignorância enquanto que o ensino privado, a educação nas instituições privadas é feita para criar aqueles que vão administrar os ignorantes, aqueles que vão fazer a crueldade de se aproveitar da baixa qualificação, da sabotagem institucional do povo.

Então eles vão ser os gerentes, eles vão ter que cobrar, pressionar, pagar baixos salários, vão ter de conviver com a crueldade da sociedade, vão ser cúmplices da perversidade social. Então a classe média é uma classe que tem que violar a sua consciência para manter seus direitos e privilégios. Tem que ser indiferentes às injustiças e crimes que o Estado comete contra o povo.

O Sistema precisa de pobres para trabalhar e precisa também dos miseráveis para que os pobres aceitem qualquer condição de trabalho pelo medo de irem para a miséria. A miséria é um limite estratégico. Não é uma casualidade, não é uma infelicidade, não é uma fatalidade. É uma criação social. A estrutura social foi montada por pouca gente que tinha consciência de que é uma estrutura filha da puta.

O que se pode fazer para mudar isso? Enxergar! As pessoas querem encontrar saídas. Só que não tem saída... tem caminhos. Ver a realidade, enxergar a realidade é a primeira coisa a fazer antes de decidir o que fazer.

A sociedade humana ainda não é humana, ela está ensaiando para sê-la. Temos que eliminar a ânsia de ver o mundo evoluído. Não vamos ver o mundo evoluído; vamos ver o mundo evoluindo. Se você sonhar com o mundo perfeito você vai morrer desiludido. Se você se contentar em trabalhar no aperfeiçoamento do mundo você vai cumprir sua missão de vida com satisfação. Não vamos colher os frutos, estamos plantando e só isso vai satisfazer a nossa vida.

  • Que as pessoas possam abrir os olhos, que possam enxergar a realidade além do que é mostrada;
  • Que possam quebrar suas lentes fabricadas pelo sistema;
  • Que possam buscar seus próprios valores e não os valores que foram programados;
  • Que possam criar seus próprios comportamentos e não adotar aqueles que são induzidos ou condicionados pela sociedade;
  • Que possam desejar de acordo com seus desejos e não com os desejos programados, implantados por um massacre publicitário permanente.

Se conseguíssemos isso, já estaria genial.

A vida material se tornaria leve e doce, passaríamos a apreciar todas as experiências e a convivência com todas as pessoas de forma singela e única, como uma experiência, que traz a possibilidade de irradiação de amor e paz em meio a qualquer situação.

A vida não é sofrimento, a vida é a vida como ela é. O mundo não precisa ser sofrimento. Poderia ser uma forma de viver leve e doce, prazerosa e feliz.

A vida material não é uma vida inferior, de culpa, de sofrimento, de julgamento. Ela é uma experiência vívida do espírito, onde o desafio é justamente mostrar a força da Presença Eu Sou.

Isso é viver a vida na matéria, ancorando um propósito de elevação, de vida espiritual, mas sem negar a vida como ela é, compreendendo com sabedoria as experiências que se apresentam, mantendo integra a verdade interior.

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Escrito por

Geime Rozanski

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