Para sempre e enquanto durar

​O princípio do estabelecimento dos relacionamentos segue o princípio da vida: tudo que inicia tem seu fim, mesmo que esse doa ou seja difícil de aceitar.

18 MAR 2017 · Leitura: min.
Para sempre e enquanto durar

A vida nos impõe muitas perdas e o sofrimento por vezes é um ente que se faz presente como em uma visitinha 'de médico' ou aquela visita que chega, vai ficando, ficando... E então percebe que já é hora de partir. Se fosse assim tão simples, era só pedir que se retirasse e pronto, que tranquilo seria, hein?! Mas o sofrimento é uma visita que nunca anda só. Ele pode carregar a angústia, a dor, o ressentimento... O que torna tudo mais confuso e complexo.

Felizmente, nem tudo é sofrimento. O quão pode ser libertador para algumas pessoas o fim de um relacionamento? É fascinante perceber que os fins podem promover sentimentos às vezes tão antagônicos para muitos e o mais fabuloso é notar que um fim pode ser o passo para algo novo e transformador. Esse é o princípio da fênix, se reerguer imponente das cinzas, mas tendo a própria vida como preço.

Quando temos a oportunidade de iniciar uma relação afetiva com alguém e quanto mais íntima ela venha a ser, mais forte é a possibilidade natural que nessa construção ambos se sintam imbricados, já que passam a compor um sistema próprio, uma unidade perante o mundo; o que aliado as particularidades naturais vivenciadas pelo casal que venham a reforçar essa coesão, tende-se a fabricar uma certa crença em uma relação etérea.

A forma como nos relacionamos com nossos pares, que incluem os acordos, o que é esperado, o que não é, os compromissos, etc. É o ajuste que nos possibilita estar/permanecer com o outro. Entrar em um contato íntimo e autêntico. Assim, a tendência é que quanto mais claros os acordos e limites, e quanto mais fluídos eles possam ser, mais o entrelaçamento entre essas pessoas pode pulsar e possibilidades frente a isto emergir.

Alguns moldes pré-formatados (não necessariamente estagnados) de alternativas encontram-se presentes como 'namoro', 'relacionamento aberto', 'poliamor'... Além dos moldes institucionalizados socialmente, como o casamento. O que chama a atenção nesse processo é que em muitas vezes, a forma como esse sistema se constitui leva a confusão entre esses moldes que possibilitam o encontro e o sentimento/desejo mantido pelo outro na relação. Quando essas duas faces se confundem é poeira na certa e os conflitos tendem a surgir.

Como pode duas pessoas que se gostam não estarem juntas?

Como pode duas pessoas que não se gostam mais permanecerem juntas?

É no meandro dessas demarcações que presenciamos por vezes, finais de relacionamentos muito catastróficos ou relacionamentos que há tempos deixaram de ser saudáveis, mas continuam mantidos. Por mais que essa confluência entre sentimento X estabelecimento da relação esteja presente na maioria dos momentos é importante que o casal faça essa distinção. Às vezes até como forma de atualização da relação e checagem do seu papel como parte dessa relação.

Bem, nesse momento proponho um pequeno exercício:

Pare um pouco agora e imagine como seria se você vivesse todo dia pensando que no dia seguinte poderia perder sua vida.

Agora pense em sua relação atual com outra pessoa ou uma relação passada e imagine que todo dia surgisse como pensamento a possibilidade de término dessa relação.

Não sei como foi sua experiência de imaginar essas duas situações, mas elas não são tão diferentes. Viver dessa forma certamente não é fácil e a grande questão está ai: Ninguém consegue viver 24h se sentindo ameaçado durante tanto tempo. Ignorar a possiblidade das nossas perdas funciona em muitas vezes como um mecanismo de defesa frente a situações que vivemos todos os dias. O sentimento do "para todo sempre" é o que nos estrutura, oferece conforto e traz uma sensação de segurança. E não somos bobos, usamos artifícios o tempo inteiro para que essas sensações estejam presentes. O sentimento de posse, fortemente vivenciado no sistema capitalista, é uma clara demonstração de nossa insegurança frente a possibilidade dessa finitude.

Cuidar da nossa relação com o outro nem sempre é uma tarefa simples. Quando o microssistema do casal encontra-se disfuncional na presença de outros microssistemas ou de um sistema maior; ou quando as fronteiras na relação dessas duas pessoas estão tão frouxas que não permitem a saída fluída, na retomada da autonomia individual de cada um (olhar a relação 'de fora para dentro') é um sinal que ambos precisam de ajuda para superar os impasses postos.

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Escrito por

Filipe Buranelli

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