Ludodiagnóstico: a dependência química e a dinâmica familiar

Análise do processo de Psicoterapia Infantil de um paciente, com 11 anos, do sexo masculino, 6.ano do ensino fundamental II, cuja mãe procurou a Clínica de uma Universidade com a queixa de mau comportamento, absenteísmo escolar e uso de drogas.

2 AGO 2018 · Leitura: min.
Ludodiagnóstico: a dependência química e a dinâmica familiar

Verificamos que a representação lúdica (utilizamos brinquedos e materiais gráficos) possibilitou um diálogo verbal e orientação para a diminuição do uso da droga e ao retorno aos estudos permitindo a criança manifestar e elaborar seus conflitos.

A função do ambiente no momento inicial da vida da criança é de dependência absoluta e é necessário uma adaptação sensível, um holding total às necessidades do bebê. Segundo WINNICOTT (1994), além do conflito interno infantil existe um fator ambiental que contribuí para o comportamento delinquente da criança ou do adolescente, portanto, ele menciona a importância de um ambiente seguro e estável na infância. Observamos que o paciente foi abandonado pelos seus familiares desde seu nascimento, vivendo num ambiente que o rejeitava e lhe atribuía todos os problemas e conflitos familiares. Nos primeiros anos de vida da criança, seu ego que está fragilizado não foi amparado pelo ego materno para fortalecê-lo, pois a mãe encontrava-se frágil não podendo, provavelmente, sustentar a dependência absoluta e necessária da criança. A ilustração do parágrafo acima fica mais clara com o seguinte trecho de Winnicott: ... quanto menor for a criança, maior será o perigo de separa-la de sua mãe..., de fato a unidade familiar proporciona uma segurança indispensável para a criança pequena. A ausência dessa segurança terá efeitos sobre o desenvolvimento emocional e acarretará danos à personalidade e ao caráter. WINNICOTT (1994, p.15). A mãe suficientemente boa permite que o bebê crie o mundo e viva a ilusão de onipotência. Assim, o self verdadeiro (o verdadeiro ser de cada um de nós) pode se manifestar na medida em que não há ameaças a sua continuidade. Está mãe que facilita o processo de maturação do seu filho é essencial para o seu desenvolvimento saudável. O indivíduo cria o mundo a partir de seu mundo interno, com isso tem condições para emergir o verdadeiro self como uma forma autentica de ser, experimentar e estar no mundo e as bases da saúde mental de qualquer indivíduo são moldadas na primeira infância através do meio ambiente fornecido pela mãe. Podemos dizer que sem está base ou uma base conturbada é neste cenário que Caio se desenvolve, passando a rejeitar aqueles que um dia o rejeitaram, sendo uma forma de abandonar está família que não o aceitou inicial. Seu envolvimento com o uso de drogas pode ser uma tentativa de fugir desta realidade difícil e/ou um forma de fantasiar uma nova concepção de família.

A criança, por outro lado, passa a se expressar e através do lúdico conversa sobre seus impedimentos e passa a ver saídas e melhora para suas dificuldades mas o ambiente não foi favorável para a continuidade de suas conquistas. Verificamos que este ambiente além de insatisfatório para o desenvolvimento de Caio, não permite o seu amadurecimento, uma vez que ele é desvalorizando pelos seus familiares e repete o comportamento aprendido sendo agressivo e impulsivo em suas ações e quando frustrado, confrontado não reconhece suas limitações, permanecendo estacionado não conseguindo prosseguir, reparar e construir possibilidades de enfrentamento de seus conflitos.

Obs.: utilizamos dados fictícios para manter o sigilo do atendimento.

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Escrito por

Simone Canola Araujo Itokazu Psicóloga

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