Breve análise do filme: "Toc toc", de Vicente Villanueva.

"Toc toc", de Vicente Villanueva. Quando um médico se atrasa para embarcar em um vôo no aeroporto, um grupo de pacientes com transtorno obsessivo compulsivo (TOC) precisa suportar as peculiaridades excêntricas um do outro, enquanto

15 ABR 2024 · Leitura: min.
Breve análise do filme: "Toc toc", de Vicente Villanueva.

Qual é a dor que uma vivência que convida ao constante perfeccionismo pode causar? Como é viver se impondo normas e regras de ordem? Como é viver sem poder errar, desagradar, com medo de desagradar, de não ser suficientemente bom para os demais? Como é viver com medo constante de perder o controle ou o medo de sentir? Essas são algumas dores que quem convive com o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) pode experimentar.

O filme "TOC TOC" é uma comédia que conta a história de seis pessoas que sofrem com TOC. Elas se conhecem na sala de espera de uma clínica, onde descobrem que todos estavam marcados com o mesmo terapeuta, o Dr. Palomero, no mesmo horário daquele dia. Enquanto esperam o terapeuta, que segundo a secretária se atrasou no embarque do voo, eles tentam organizar a ordem em que ocorrerão os atendimentos e conviver com as particularidades do TOC de cada um. Acabam dialogando sobre suas vivências, até que chegam ao consenso de iniciar a terapia em grupo, independentemente do profissional. Esta produção cômica, além de provocar boas risadas, permite a reflexão sobre o sofrimento vivenciado por pessoas que passam por situações similares e a respeito do efeito e dinâmica presentes na formação de grupos terapêuticos.

O TOC é caracterizado pela presença de obsessões e/ou compulsões. Obsessões são pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que são vivenciados como intrusivos e indesejados, enquanto compulsões são comportamentos repetitivos ou atos mentais que um indivíduo se sente compelido a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser aplicadas rigidamente (DSM-V, 2014, p. 235).

Pessoas que convivem com o TOC sentem muita dificuldade em resistir a um pensamento intrusivo (invasor, hostil e agressivo), acabam cedendo e têm dificuldade em pensar em coisas diferentes desses pensamentos que parecem dominá-los. Experimentam frequentemente sentimentos de ansiedade, angústia e culpa, temendo que algo possa acontecer consigo ou com pessoas próximas caso não cedam aos pensamentos e rituais comuns ao TOC.

No filme "Toc Toc", cada personagem vivencia uma possibilidade do TOC, mas podemos perceber como a ansiedade se faz presente e como muitas vezes o comportamento obsessivo é uma maneira de aliviar a tensão causada pelos pensamentos compulsivos. Eles foram inicialmente em busca de um acompanhamento individual, mas conforme vão interagindo na sala de espera, aos poucos começam a construir vínculos e formar um grupo com efeitos terapêuticos. O processo grupal se forma de maneira gradual, está em constante mudança e inicia-se quando pessoas que têm interesses em comum se reúnem. O grupo é uma totalidade, não por desconsiderar as diferenças individuais de cada membro. Pelo contrário, os membros exercem influência individualmente sobre o grupo, fazendo com que ele esteja em constante movimento, mas sem deixar de ser "uma coisa só".

Alguns personagens demonstram sentir vergonha e constrangimento a respeito de seus sintomas, buscando maneiras de disfarçá-los e, em alguns casos, inclusive os negam. Pessoas que convivem com o TOC podem experimentar esses mesmos sentimentos. No filme, os personagens experimentaram alívio e aceitação conforme perceberam que, mesmo manifestando de maneira diferente, todos têm comportamentos compulsivos e pensamentos obsessivos. Conforme se empenharam para ajudar os outros a encontrarem alternativas para lidar com os sintomas, acabaram, por vezes, se distraindo dos próprios sintomas. Assim como os personagens, é possível construir alternativas para não ficarmos tão reféns dos sintomas de TOC. Por exemplo, quando nos permitimos concentrar em outras tarefas, é difícil, mas conforme vamos desconstruindo as crenças fundamentadas pelos pensamentos obsessivos, podemos encontrar outras possibilidades menos dependentes de existir.

Pessoas que convivem com o TOC devem buscar um acompanhamento psicológico e, em alguns casos, se faz necessária a intervenção medicamentosa.

Referências Bibliográficas

Filme: "TOC TOC". Direção de Vicente Villanueva. Produção de Mercedes Gamero, Gonzalo Salazar-Simpson, Mikel Lejarza Ortiz. Intérpretes: Paco León, Alexandra Jiménez, Rossy de Palma, Oscar Martínez, Nuria Herrero, Adrián Lastra, Inma Cuevas, Ana Rujas. Roteiro: Vicente Villanueva, Laurent Baffie. Espanha: Lazona Films, 2017. (90 min.), som, color. Legendado.

RIBEIRO, Jorge Ponciano. O Processo Grupal. In: Gestalt-Terapia: o processo grupal: uma abordagem fenomenológica da teoria do campo e holística. 4. ed. São Paulo: Summus, 1994. Cap. 2. p. 33-45.

GASPAR, Fabíola Mansur Polito. Do desassossego da culpa ao resgate da autoaceitação: um olhar gestáltico sobre o Transtorno Obsessivo-Compulsivo. In: Quadros clínicos disfuncionais e Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 2017. Cap. 8, p. 111-166.

Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais [recurso eletrônico]: DSM-5 / [American Psychiatric Association; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento … et al.]; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli … [et al.]. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre: Artmed, 2014.

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Escrito por

Joyce Garbazza

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