As crianças e os limites

Queremos que as crianças tenham limites. Recriminamo-as quando elas se comportam mal, quando nos desrespeitam ou desobedecem. Como ensinar limites às crianças?

9 ABR 2018 · Leitura: min.
As crianças e os limites

Queremos que as crianças tenham limites. Recriminamo-as quando elas se comportam mal, quando nos desrespeitam ou desobedecem. Quando batem, mordem, gritam, atiram-se no chão.

"Essas crianças não tem limites", dizemos. "É preciso fazê-las respeitar os limites".Só que na prática as "práticas de ensino dos limites" que tenho visto são mais ou menos assim: - Fulano, por que você fez isso? Tem que respeitar o amiguinho!- Ciclano, que feio! Isso não se faz!- Por que você está agindo assim? Eu fico triste quando você faz isso.

Vamos pensar no que essas frases acima tem em comum: todas são formas de tentar envergonhar a criança, fazê-la "pensar", tentar com que ela se sinta culpada por nos causarem mal estar e assim não cometa mais aquele ato indesejável.Mas devemos lembrar que estamos tratando com crianças. Questionamentos sobre a motivação das ações não funcionam com crianças. Elas ainda não tem todo aquele extenso desdobramento da linguagem que os adolescentes e os adultos tem. Elas "pensam" com seus corpos, se colocam em ação sem entender muito bem porquê.As crianças aprendem sobre si através dos adultos que as cuidam. É através dos olhares e dos gestos do outro para com elas que elas se conhecem, conhecem sua história, conhecem seu papel no mundo. E com os limites, é assim também. Para que uma criança consiga começar a entender a existência de limites, é preciso que seus cuidadores estejam atentos para limitarem-se a não fazerem tudo pela criança, mesmo sabendo que o fazem melhor. Como assim? Bom, neste mundo frenético em que vivemos, tenho acompanhado muitos pais que fazem tudo por seus filhos. POR eles. No lugar deles. Mesmo quando eles já teriam idade para começar a fazer sozinhos. Coisas que talvez eles ternham vontade de aprender a fazer, dado o incentivo necessário. Aquele espacinho de tempo em que nos falta alguma coisa que não sabemos bem o quê e começamos a explorar - um respiro de curiosidade. Mas com horários apertados, pressa, stress, correria, não dá tempo de esperar a criança brincar de se vestir sozinha. Ou brincar de cortar a própria comida. Ou brincar de lavar o próprio cabelo. Por que digo brincar? Porque é brincando que as crianças ensaiam suas primeiras tentativas no mundo daqueles que elas julgam saber tudo: os adultos. E não, os adultos não sabem tudo. E quando os adultos não brincam essa brincadeira com elas, elas ficam presas ao lugar de quem não consegue fazer nada sozinho. Brinque com a criança, convide-a primeiro a ver e mais adiante a participar das coisas que são feitas sobre o corpo dela: a hora do banho, da comida, de dormir, de vestir-se, de limpar o xixi e o cocô. Esse balanço entre o quanto fazemos por elas e o quanto apostamos que elas conseguem fazer por si é o que as faz começar entender os limites do mundo! Elas se sentem mais seguras e confiantes de si quando tentam algo, desde que não as recriminemos por não conseguir. "Foi legal, da próxima vez você vai se sair melhor! Vamos tentar de novo amanhã? Teu dedinho já está aprendendo a segurar o garfo, você viu?"Quando mostramos a uma criança que respeitamos seu corpo e que confiamos que ela é capaz de dar conta dele, elas nos oferecem a mesma cortesia em retribuição.

Sobre a autora:Leonor é psicóloga e atua na cidade de Santa Maria, RS.

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Escrito por

Leonor Erberich

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