Sou um procrastinador crônico, não sei como sair dessa situação
Tenho um mecanismo mental que prefere deixar as coisas que não estou a fim de fazer para depois. Que troca a oportunidade de resolver por uma "sensaçãozinha boa e instantânea" de prazer ou talvez de controle por ter decidido não fazer algo necessário agora em troca de algo mais interessante ou prazeroso. É como se o eu do presente estivesse sempre confiando que o eu do futuro vai resolver. Talvez essa sensação boa, mas efêmera, seja o estopim que me leva a não fazer as coisas, não sei. Essa procrastinação normalmente vem com alguma justificativa: estou cansado, estressado, deprimido ou a outra coisa a ser feita é mais importante (e muitas vezes não é). As vezes fico desnecessariamente refinando esse algo que considero mais importante, como uma forma inconsciente de não fazer as demais coisas, o que reduz momentaneamente a minha sensação de culpa. Mas são todas justificativas esfarrapadas e isso é comprovado quando o hábito de procrastinar se repete mesmo quando inequivocamente inexistem as desculpas habituais (por exemplo: se a desculpa era o estresse do trabalho, o que dizer quando não se está mais trabalhando?). Coisas grandes, especialmente, não são iniciadas pois eu sei que trarão um longo processo de "sofrimento" e de situações desinteressantes e que vão piorar a sensação de estresse que tenho por já ter "um monte" (talvez nem tanto) coisas para fazer. Algumas tarefas caem no esquecimento para voltarem ou não tempo depois, especialmente as puramente individuais (cuidados com a saúde é uma delas). Outras são feitas a partir da cobrança de quem depende de resposta, mas dependendo de quem cobra continuam sem ser feitas pelas desculpas já citadas. Por fim algumas dessas coisas não feitas viram crises quando envolvem prazos, valores significativos, relação de hierarquia ou algum conflito declarado ou iminente. Infelizmente, essas coisas feitas na última hora geralmente não ficam tão boas quanto as que eu faria com mais tempo. Acrescenta-se a isso a falta de capacidade ou disciplina para dar continuidade a um método de organização como uma simples lista de tarefas. Eu não me cobro se não cumprir. Enfim, essas coisas não feitas vão obviamente se acumulando e aumentando a sensação de estress o que acaba gerando um círculo vicioso de não começar. Isso também vai gerando uma perda de credibilidade junto às pessoas, o que profissionalmente é péssimo. Como deixei coisas "na reta" não me sinto no direito de cobrar as outras pessoas pelo que elas deveriam fazer e acabo criando um ambiente de panos quentes, de tolerância excessiva aos erros, talvez esperando que tolerem os meus. Por outro lado inevitavelmente acabo sendo cobrado, e com razão. Então a minha auto estima baixa e me retraio. Fragilizado, também viro um alvo fácil para oportunistas que podem desviar a atenção dos seus erros apontando os meus, ou simplesmente por quem não se conforma com a situação. A situação vai piorando e começa a afetar até a saúde. Impera neste momento uma sensação que tudo o que eu possa vir a fazer vai ser inútil tamanho o rolo em que me meti e com isso ganha força a perspectiva do alívio que a simples desistência pode trazer. E a possibilidade do início de um novo ciclo. Finalmente acabo "jogando a toalha" (mesmo que mentalmente) e creditando o meu fracasso a ação de possíveis inimigos ou de uma conjuntura desfavorável (simplesmente não era para ser). Essa "jogada de toalha" também serve de desculpa preventiva caso a outra parte jogue antes a sua toalha em relação a mim. "Eu já nem queria mesmo", eu me diria caso isso acontecesse. No fim temos a ruptura e tudo recomeça em outro lugar, com outro alguém ou com o perdão de alguém. Até me deparar com tudo o que precisa ser feito...