Por que eu me dedico tanto ao trabalho e deixo de viver uma vida pessoal?
Eu sou uma pessoa que gosta de trabalhar muito. Dias e noites e fins de semana são praticamente voltados para me ocupar do trabalho e não ter uma vida pessoal equilibrada. Meu casamento de 20anos acabou por traição, mas principalmente pela minha negliência e minha manipulação emocional que diminuia a autoestima da pessoa para que, de certa forma, a pessoa fosse uma muleta para serviços domésticos.
As coisas mudaram um pouco depois de termos uma filha. Mas em menos de 6 meses, o trabalho já voltou a ser prioridade até em fins de semana, o que acabava terceirizando a responsabilidade para a outra pessoa.
Sair, ter amigos, namorar, curtir a filha e a família não eram uma grande prioridade porque parecia que tudo estava tudo sob controle em casa e previsível. Eu ganhava muito bem, investia muito bem, mas vivia com muito menos, ao passo que deixava a pessoa ter alguns luxos como contenção de crise.
Confesso que gostava de ganhar mais do que a outra pessoa e que o fato de ter uma filha, à princípio, me causou desconforto porque tinha costumes e rituais individualistas e que, depois dela, se tornaram inviáveis.
Aí, veio o choque de realidade: a traição, a separação, a felicidade da outra pessoa em se sentir livre da minha manipulação emocional e com o fato de tudo isso ter explodido bem no começo da pandemia.
Minha filha tem 2 anos. É meiga, carinhosa, simpática, mas eu sei que ainda preciso construir laços com ela. Tenho medo de manipulá-la emocionalmente. Não faço por querer. Eu sempre prezei pela minha liberdade e essa liberdade era fruto de uma independência financeira conquistada à duras penas de trabalho zeloso e meticuloso, além de muito planejamento financeiro.
Agora, durante a pandemia, tenho o conforto de poder não trabalhar e curtir a filha e quem sabe ter um outro relacionamento, mas sei que preciso abandonar a ideia de que a outra pessoa tem de ser subordinada e sim que haja um equilíbrio sadio. Ainda me escondo atrás do trabalho, mesmo que agora remoto, mas quando as coisas voltarem ao normal, o meu normal tem de ser outro: foco no equilíbrio entre o profissional e pessoal e evitar os gatilhos que me fazem me sentir superior à outra pessoa. Como tratar o vício em trabalho, em si mesmo, e conseguir chegar nesse ponto de equilíbrio nessa nova fase da minha vida?
Detalhe: sou a mãe, a mulher, coordenadora de equipes, a provedora e a manipuladora que muitas vezes se passa por vítima e dá lições de moral e chega até mesmo a dar a roupa do corpo para parecer abnegada e altruísta, e sobretudo ética, mas eu sei que isso é uma fachada para inflar meu ego.
Agora, durante a pandemia, estou com meus pais, que me ajudam com a minha filha, enquanto o trabalho remoto me consome mais de 12 horas do dia. Em 2 semanas, irei me mudar de estado e farei isso sozinha porque estou decidida a deixar de ser tóxica e parar de pensar que tudo está abaixo de mim. Quero deixar de ser a dona da verdade, e quero mostrar a minha filha que posso cuidar dela, ser sua mãe e parceira e confio que essa oportunidade de reconexão e de um novo começo me ajudem a deixar de ser tóxica para mim e para os outros. Gosto de ser vista e de obter elogios no trabalho, mas os cnpjs não me trazem mais o que eu perdi, uma marido que eu fiz ser inseguro, mas que é uma boa pessoa que sofreu muito abuso emocional. Não sou a vítima, sou a culpada de tudo isso, mas minha filha é edição limitada e preciso corrigir minhas falhas agora para que possa viver uma vida saudável daqui para frente.
Como coneçar a deixar de ser tão tóxica, egoísta e manipuladora?