Recentemente perdi alguém próximo a minha família, uma amiga da minha mãe. Câncer. Ela morreu da mesma forma que uma das minhas melhores amigas e quase segunda mãe, a mesma pessoa que me ensinou a dar bom dia para os pássaros e a esperar para ver um arroz virar larva. Me fez um guarda-roupa de bonecas, brincava comigo e me vestiu de princesa. Digna de varinha e tudo.
Eu senti-me triste, pela a amiga da minha mãe, porque ela me fazia tranças para ir para a escola e eu também gostava MUITO dela, mas... Eu não sei, chegou ao ponto que eu não sabia por quem chorava de fato. A minha segunda mãe ou a amiga da minha mãe. Estava tudo confuso, e embaralhado, e eu me lembrar de duas pessoas que morreram pela mesma causa, o câncer chegou no fígado.
Eu estava sentada nesse dia, após pedir para um amigo ir ficar com seus primos (que estava passando pelos surtos de isolamento da quarentena, como ansiedade e insônia), porque ele precisava daquilo. Precisava tanto que até conseguiu dormir melhor. Mas após eu pedir para que o mesmo aproveitasse a vida, eu me senti sozinha. Nesse fatídico dia, eu realmente estava. No literal.
As lágrimas brotaram, tão fácil que até me senti uma torneira e, eu queria gritar. Coloquei uma música, música me acalma, mas em dias como esses só me faz chorar mais, e eu queria. Eu queria chorar muito mais.
Eu lembro que chegou ao ponto que não saia mais lágrimas, e eu só ficava naquele choro engasgado, onde você fica lá só com a boca aberta, sem respirar, quase como se fosse gritar, mas o som de fato não saia. Eu colocava a mão no meu peito, para abafar algo, sentir algo, ou tirar algo. Eu não sei, de fato. E enquanto eu passava por esse momento, a chuva me consolava.
Não é a primeira vez que isso acontece, a diferença é que agora eu tinha um motivo além... Então, por quê?
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14 FEV 2021
· Esta resposta foi útil a 2 pessoas
Maria, o luto é complicado pois não há um prazo certo para se entender. Cada um tem seu tempo, então permita-se sentir, a dor a saudade ....
Se precisar de ajuda profissional sou Mônica psicológa
Olá Maria Soares tudo bem?
Pelo relato você descreve de forma até poética, um processo de luto. Um luto de uma pessoa querida por você, mas que também te levou a lembrar de uma antiga perda. Os processos de lutos são assim mesmo, a gente associa uma perda com outra e talvez façamos isso com mais frequência e de forma mais dolorosa quando ainda não elaboramos as antigas perdas. É como se uma perda fundisse com outras...até que chega o momento em que não se tem mais espaço para acumular, daí tem que por para fora. Me parece que você colocou bastante coisa para fora nesse dia do choro, mas uma coisa Maria é colocar para fora como um momento de alívio, outra coisa muito diferente é elaborar o que passou para que não haja mais acúmulo. Metaforicamente falando, não adianta diminuir o fogo e não tirar a panela de pressão da boca do fogão, talvez só diminua a pressão, mas ela vai continuar tendo pressão. Procure começar um processo psicoterapêutico para que você não apenas possa desacumular tantas perdas retidas, mas também elaborá-las junto a um profissional.
Grato pela pergunta. Qualquer coisa estou à disposição.
Atenciosamente,
Túlio Bueno R. Martins - Psicólogo/Psicanalista
CRP: 06/141430
Olá Maria Soares.
O luto faz parte de momentos de perdas, e nem sempre o luto é da morte física como é o seu caso.
Perceba que o luto que está vivenciando no momento inclui outros tipos de perdas, as quais só você poderá dizer.
Procure entender o que estas perdas realmente significam para você. O que está indo junto com as mortes que relatou, como , por exemplo, quais as partes de sua vida que se foram juntas com estas mulheres.
Se estiver difícil de aceitar e conviver sem estas pessoal, talvez seja a hora de procurar por ajuda psicológica.
Espero ter ajudado.
Jane Assunção.
Olá Maria Soares! Grato por escrever. Certamente você viveu naquela momento angústia (dificuldade para respirar). Havia sofrimento, havia solidão, havia a vivacidade quanto à perda. De outro lado, você perdeu pessoas queridas, porque pode degustar, desfrutar do contato com essas pessoas. Tudo o que ganhamos, um dia perderemos. Todas as escolhas implicam em ter que renunciar ao não escolhido.
Será enriquecedor você poder falar sobre a vida, sobre os vínculos que você vem construindo com tanta beleza e significado na vida. Será importante ir renovando a riqueza dos vínculos, integrando novos vínculos, atualizando vínculos antigos.
Cuidar de reorganizar rotina de vida que contemple os aspectos mais importantes da vida, envolvendo, por exemplo, sono, contatos socais reais, alimentação adequada, metas de vida, lazer, atividade física, será importante.
Poderá ser enriquecedor você refletir tua construção, com profundidade e científicidade, com a condução de um psicólogo.
Estaremos à disposição.
Abraços virtuais (em tempos de aumento gravíssimo da pandemia, evitemos mortes: máscara, higiene, distanciamento físico, máscara obrigatória para todos e por todos, senso de comunidade, empatia, Ciência!)
