Ideação suicida é uma etapa prévia diretamente anterior ao suicídio em si?
Eu sei que venho sofrendo de depressão há anos, com altos e baixos frequentes. Tenho 36 anos e não faz muito tempo que comecei a olhar para minha vida em busca de respostas para certos comportamentos repetitivos. Eu hoje consigo entender algumas dinâmicas desses comportamentos nocivos que tenho, faço até ideia de onde o problema tenha começado, mas não sei como sair dessas repetições, nem como quebrar esses ciclos e nem como curar essas dores e angústias. De alguns anos pra cá, depois de perdas significativas, erros e enganos, meu estado tem se agravado consideravelmente: quando comecei o segundo grau em (2001), havia passado em um concurso para uma escola federal e até ali sempre fora uma aluna exemplar, responsável e tudo mais. Assim que passei nesse concurso, quando já não tinha mais obrigação de retribuir com boas notas o sacrifício da família em pagar pelos meus estudos, de uma hora para outra, simplesmente entrei num estado de letargia severa, onde não conseguia mais sair da cama para ir às aulas e nem para canto nenhum ou coisa alguma. Fiquei assim por 3 anos. Perdi minha matrícula, terminei meus estudos no supletivo. Algum tempo passou e decidi fazer vestibular, passei novamente para federal e, novamente, veio o estado de letargia. Larguei a faculdade. Anos depois tentei de novo o vestibular e passei, e, novamente, larguei de novo. Nunca me custou passar, sempre fui inteligente, nunca fiz curso pré e nem estudei para passar. Posso ser inteligente, mas em compensação, não tenho nenhuma determinação para levar nada do que eu começo ao termo, paro sempre no meio do caminho. Agora falando sobre minha vida social, estou em completo isolamento há anos (e não se trata de pandemia), tenho facilidade para deixar pessoas de lado (faço amizades mas se houver afastamento com o tempo, não faço nenhum esforço para manter o vínculo). Tive 3 relacionamentos amorosos significativos (2 anos, 7 anos e 5 anos). Nenhum deles vingou. Todos terminaram comigo eventualmente. Sofri por um tempo, mas muito mais pela ideia de fracasso, humilhação e incompetência em manter relacionamentos saudáveis do que pela falta da pessoa em si. Superei todos eles. Desenvolvi um temperamento irritadiço, intolerante e tóxico, o que me custou alguns empregos. Só a minha mãe me atura, na verdade. Todos se afastam e, sinceramente, apesar disso me entristecer e de eu ter ciência que a culpa é minha, prefiro o isolamento, acho q combina com meu estado de espírito, pois sinto um gasto ENORME de uma energia que não tenho dar atenção a alguém ou levar uma conversa branda e amena, ou seja, "fazer sala" ou fazer novas amizades ou entreter em conversas outra(s) pessoa(s), mesmo que seja algum familiar ou amigo (antigo, pois novas amizades eu não faço há muito tempo), mesmo que sejam pessoas queridas, do meu interesse. Eu me sinto exausta nessas interações, pois forço uma polidez social que não tenho, forço sorrisos que não quero dar e animação e entusiasmo falsos, quando por dentro estou vazia. É essa a palavra, vazia. Não sinto mais nada, às vezes nem sentimentos ruins eu sinto. Não tenho interesse em mais nada. Às vezes bate uma onda de entusiasmo por algo e eu penso "vou fazer isso e aquilo e minha agenda diária vai ser assim e assado" e quando percebo, não passa um dia e desisto de absolutamente tudo. Perco o interesse e o foco por coisas e pessoas e atividades com a velocidade da luz. Não tenho força física e muito menos emocional para mais nada. Isso tem se agravado consideravelmente e chega a sufocar a angústia dessa situação. Venho pensando e considerando cada vez mais a morte como resposta e saída. Não tenho coragem de me matar. Nenhuma, para ser sincera. Mas eu quero e almejo essa coragem. Quero morrer. Sou uma inútil, não faço e nem nunca fiz nada de bom para ninguém nessa vida (nem para mim mesma). Só fiz mal aos outros (maltratei muita gente querida, familiares, com esse meu jeito intolerante, impaciente e grosseiro de ser). Levei minha mãe às lágrimas muitas vezes e hoje, com o câncer, se ela morrer, vou levar um remorso eterno e uma dor mais que insuportável para o resto da minha vida.
Não sou uma pessoa boa e o mundo ficará muito mais leve sem a minha existência.
A verdade é que não vejo a vida como uma dádiva, mas como uma maldição. Eu não queria ter nascido, nunca teria escolhido, caso tivesse esse direito, existir. Quando eu era pequena (uns 3 anos), quase morri com uma pneumonia viral e, por causa do avanço na medicina, eu sobrevivi. Acho q a ciência do séc xx e xxi tem burlado o processo de seleção natural, pois indivíduos defeituosos que deveriam morrer, como eu deveria, estão sendo salvos pela ciência e causando um efeito borboleta no resto do mundo e no desenrolar da história da humanidade. Acredito que um efeito nocivo, a tomar pela minha vida....
E não acredito nessa história de "missão de vida", pois já assistiu aos noticiários, quando informam, por exemplo, que um bandido tal morreu no confronto na favela ou sei lá como, o negócio é que era bandido e morreu (e geralmente morre cedo)? Simplesmente o cara vem ao mundo, não faz nada que preste nem pra ele e nem pros outros, faz um monte de merda, comete um monte de atrocidades e acaba morrendo. Qual a "missão" dessa criatura?! Não tem essa de missão nenhuma! O negócio é entender e admitir que muitas pessoas vêm a esse mundo para nada, pra bancar o coadjuvante (na melhor das hipóteses). Não tocam a vida de praticamente ninguém significativamente, dentro de um ou dois anos cairão na completa obliteração e se você parar pra pensar sobre isso, vai chegar a conclusão da grande inutilidade e desperdício de energia quando a natureza (ou Deus, se assim vc crê) decide conceber um indivíduo assim. É inútil. É ridículo. E eu me sinto inclusa nessa estatística dos que vieram ao mundo para nada e para merda nenhuma (desculpem o vocabulário). E, agora chegando ao cerne da minha pergunta: percebi que o meu desejo de morte tem evoluído. Antes eu não cogitava, depois comecei a pensar sobre isso esporadicamente. Depois passei a cogitar como uma opção viável, mas em última instância apenas. Depois eu passei a ver a morte como única saída. Depois passei a desejar a morte, mas com dualidade de sentimentos. Depois passei a idealizar o suicídio. Depois cheguei a pensar e planejar nas maneiras de me matar menos dolorosas, imaginar como faria, a carta que escreveria,a época etc. Hoje, para chegar aos finalmentes de fato, só me resta coragem. Eu ainda não tenho, mas desejo muito ter. E daí veio a dúvida, se esse sentimento vem evoluindo assim, essa fase da ideação suicida é a fase imediatamente prévia ao ato do suicídio em si ou ainda tem alguma etapa intermediária?
Obrigada. Desculpem-me o texto prolixo...