Vícios: falando de ludopatia, o jogo patológico

O transtorno do jogo se trata de um quadro de dependência. Ao contrário do que muitos imaginam, não está ligado a quanto se gasta, mas sim à relação que a pessoa desenvolve com o jogo.

25 ABR 2017 · Leitura: min.
Vícios: falando de ludopatia, o jogo patológico

Popularmente conhecido como ludopatia ou jogo patológico, o transtorno do jogo se trata de um quadro de dependência semelhante ao de álcool e drogas, e não um desvio de caráter, como a maioria das pessoas imagina. A psicóloga Maitê Hammoud explica o tema a seguir.

Jogar envolve arriscar algo valioso na esperança de obter algo ainda mais valioso. Em diversas culturas, pessoas apostam em jogos e eventos sem experimentar problemas, porém, algumas pessoas desenvolvem um comprometimento considerável com relação ao seu comportamento de jogo.

Atualmente, o transtorno atinge estatisticamente 0,3% da população em geral. Contudo, estima-se que os números sejam bem mais elevados, já que a falta de informação e a dificuldade do jogador em admitir que sofre de um quadro de dependência interfere significativamente na busca por ajuda profissional.

Assim como em qualquer dependência, existe um grande grau de dificuldade no controle dos impulsos, que pode impactar negativamente as relações familiares, profissionais e sociais. Isso sem contar que o jogo patológico pode levar a prejuízos financeiros devastadores e contribuir para aquisição de outros vícios como álcool e drogas. Também pode ser uma porta para o desenvolvimento de transtornos como a depressão e a ansiedade.

Perfil do jogador patológico

Além de o jogo ser uma atividade estimulante para o sistema nervoso central, estando associada a sensações de prazer e abstinência, no transtorno do jogo percebe-se a existência de uma memória seletiva, conhecida como "sorte de principiante". Ao experimentar uma vitória ou ganho, o dependente retém apenas a lembrança e memória afetiva do sucesso, desconsiderando as inúmeras experiências ligadas ao fracasso; tudo para tentar sentir novamente o êxtase proporcionado pela experiencia inicial de vitória, o que estimula o comportamento compulsivo.

O transtorno possui como característica essencial o comportamento de jogo desadaptativo persistente e recorrente, o qual perturba objetivos, sejam eles pessoais ou familiares. Atinge mais homens do que mulheres e, frequentemente, aparece como fator comum na história dessas pessoas o início da prática de jogos junto com familiares e amigos.

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É comum dois tipos de perfil naqueles que desenvolvem o transtorno:

  1. O primeiro perfil trata-se de pessoas impulsivas, competitivas, cheias de energia, inquietas, que se entediam facilmente e acreditam que o dinheiro é tanto a causa quanto a solução para os seus problemas;
  2. Enquanto o outro perfil é de uma pessoa deprimida e solitária, que costuma recorrer ao jogo quando são experienciados sentimentos de culpa ou depressão.

Embora opostos, é comum que, em ambos os perfis, haja distorções do pensamento como superstições, sentimentos de poder e controle sobre o resultado de eventos regulados pelo acaso e o excesso de confiança.

Critérios para detectar a ludopatia

Para que seja caracterizado e diagnosticado o transtorno do jogo, é necessária a apresentação de 4 ou mais comportamentos dos listados abaixo, em um período de 12 meses:

  • necessidade de apostar quantias de dinheiro cada vez maiores a fim de atingir a excitação desejada;
  • inquietude ou irritabilidade quando tenta reduzir ou interromper o hábito de jogar;
  • realização de esforços malsucedidos tentando reduzir, controlar ou interromper o hábito de jogar;
  • preocupações frequentes com o jogo, como por exemplo: pensamentos sobre experiências de jogos passadas, avaliar possibilidades ou planejar formas de obter dinheiro para jogar;
  • sentimentos como angústia, impotência, culpa, ansiedade ou depressão levam à prática do jogo;
  • após perder dinheiro no jogo, frequentemente retorna para tentar recuperar o valor no dia seguinte;
  • mente para esconder a extensão de seu envolvimento com o jogo;
  • prejudicou ou perdeu um relacionamento significativo, o emprego ou uma oportunidade educacional ou profissional em razão do jogo.

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Os critérios que frequentemente são preenchidos por todos aqueles que sofrem do transtorno é a preocupação com o jogo e as tentativas de "recuperação" das perdas. Um padrão dessa característica pode se desenvolver, acompanhado de uma necessidade urgente de continuar jogando, normalmente envolvendo apostas ou riscos maiores, a fim de recuperar todas as suas perdas ao mesmo tempo.

Assim como em outros quadros de dependência, a ausência de controle e da crítica pode levar a comportamentos ilícitos como falsificação, fraude, roubo ou estelionato, para obtenção de dinheiro para o jogo, como também apelo para família.

É importante salientar que o transtorno não é definido pela quantia de dinheiro investida, e sim pela maneira como o jogador experimenta a sensação e necessidade de se envolver com o jogo, podendo estar presente de diferentes formas: desde aquela pessoa que compra uma raspadinha todos os dias, até aquelas que jogam online, frequentam bingos, cassinos ou costumam fazer apostas em jogos de esporte.

Tratando o transtorno do jogo

Estatísticas demonstram que cerca de 50% daqueles que sofrem de transtorno do jogo possuem ideações suicidas, sendo que 17% deles já tentaram suicídio. Esse dado estatístico é fundamental para salientar a gravidade e seriedade da busca por apoio profissional.

Assim como em qualquer outro quadro de dependência, o indicado é que sejam associados: psicoterapia, acompanhamento psiquiátrico e participação em grupos de autoajuda.

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Fotos: por MundoPsicologos.com

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Escrito por

Maitê Hammoud

Psicóloga clínica com curso de aperfeiçoamento em psicanálise, é especialista no atendimento de adolescentes, adultos e terceira idade. Seguindo a abordagem psicanalítica e da terapia breve, atua com foco em transtornos emocionais e comportamentais, relacionamentos interpessoais e questões familiares.

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