Universo masculino: ver pornografia é normal?

Pornografia, erotismo, dominação, fetichismo. Termos como esses podem fazer parte da intimidade sexual masculina ou feminina, dependendo dos gostos e preferências de cada um. E não é de agora, que estamos em tempos de ouvir falar de "Cinquenta tons de cinza". Vem de muito antes, quando se definiu que alguns comportamentos e/ou preferências deveriam estar reclusos à intimidade ou a locais determinados.

Lidar com a diferença em uma relação sempre é complicado, e pode ganhar uma dimensão ainda maior se há sexo por meio. Não é novidade que homens e mulheres respondem aos estímulos de forma diferente, até mesmo por receber uma educação sexual diferente. Por isso, quando se fala em pornografia, normalmente se pensa em universo masculino.

É normal querer consumir pornografia? Trata-se de um comportamento que deve estar restrito à adolescência e à descoberta das experiências sexuais? É preciso aprender a lidar com naturalidade? Vejamos o que os especialistas têm a dizer sobre o tema.

Rompendo tabus

O fato de uma pessoa gostar de pornografia deve ser encarado com naturalidade, pelo menos enquanto essa preferência não passar pelo exagero. O psicólogo Dinerson Fiuza comenta que é aí que aparecem os problemas.

"Muitas vezes, a pessoa só assiste por mera curiosidade e isso não influi em nada em sua vida pessoal. Isso é normal até o momento que passa a ser disfuncional, que passa a prejudicar o relacionamento."

Obviamente muitos fatores podem influenciar o relacionamento e depende muito da forma com a qual o casal lida com a pornografia. O psicólogo Leonardo Viana de Vasconcelos, que tem experiência em questões de sexologia, reforça:

"Pornografia é normal até o ponto em que comece a gerar uma compulsão por parte da pessoa, que não consegue mais abandonar a pornografia, onde quer que esteja, e isso tenha implicações diretas no seu desempenho do trabalho, da vida familiar e pessoal. Aí deve-se buscar ajuda."

Homens só pensam em sexo?

A verdade é que homem e mulher enxergam o sexo de forma diferente, e obviamente com expectativas diferentes. A maioria das mulheres, ao surpreender o parceiro vendo um filme pornô ou algo similar, se questionaria sobre a satisfação do mesmo com a relação, ou seja, se perguntando se há monotonia ou rotina a ponto de ser necessário a recorrer a esse tipo de recurso.

Um pensamento que não deixa de ser distorcido, já que a pornografia - a que se refere por definição a qualquer filme, livro ou revista feito com intenção de provocar excitação sexual - é um recurso a mais para ter uma vida sexual plena, e não deveria haver problema em utilizá-lo com moderação.

Muitas vezes, o que a mulher sente é um sentimento de exclusão, ao ver o parceiro tendo interesse sexual por algo que não seja ela. Para a maioria das mulheres, o prazer sexual está ligado a um vínculo sentimental. Mas para a maioria dos homens que consomem pornografia, fazê-lo não tem nada a ver com sexo entre duas pessoas; é somente um passatempo e a experimentação de uma fantasia.

Mas atenção: para evitar que esse olhar diferente gere conflitos é preciso estar aberto ao diálogo. Leonardo explica que a mesma lógica se aplica ao tema da pornografia:

"Na relação do casal, [a pornografia] pode estar gerando insatisfação (...) Aí seria importante uma conversa serena e franca entre o casal para averiguar quais pontos da relação estão desagradando a ambos e buscar uma estratégia que solucione ou amenize o problema."

Ele é dependente da pornografia?

Uma vez mais o problema se revela quando há um desequilíbrio na balança. Ver pornografia é diferente de ser um consumidor assíduo e dependente. Nesse caso, não está em jogo somente o bem-estar da relação do casal, mas também o risco de aparecimento de problemas fisiológicos.

Urologista italiano, Carlo Foresta publicou uma pesquisa na revista Psyhology Today, em que revelou uma estreita ligação entre consumo exagerado de pornografia e a impotência sexual. Segundo o estudo, pelo menos 70% dos jovens que procuram tratamento para problemas de desempenho sexual admitem ser consumidores habituais de pornografia na Internet.

É aquele perfil de pessoa que não consegue ter uma ereção com uma pessoa real, apesar de não ter qualquer problema físico, e que sempre necessita de pornografia para se excitar. Uma das explicações para esse bloqueio, segundo o estudo, se remeteria ao desenvolvimento da sexualidade do sujeito, quando possivelmente houve dissociações da vida real.

Nesses casos, o prazer solitário é sim preocupante e deve ser encarado com conversa entre o casal e acompanhamento de um profissional especializado. A dependência pode ser revertida quando há vontade.

Fotos (ordem de aparição): por Stf.O, andreasdantz e Magdalena Roeseler (Flickr)

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