Uma trilha que nos reconduza à visão das coisas como elas realmente são
Maurice Merleau-Ponty foi um filósofo fenomenólogo francês. Estudou na Escola Normal Superior de Paris. O que podemos aprender com a fenomenologia e levar para a nossa rotina?
Segundo Merleau-Ponty, o mundo percebido assume para nós uma forma sensível em constante transformação. Por demais, uma forma não é uma coisa, um ser "em si", não há "formas em si", que, na chegada de um observador, se transformem em "formas para nós", toda forma é "forma para nós". Em efeito, a forma existe para uma consciência sensível e é inseparável de uma percepção. A nossa percepção moderna do mundo é coberta de artefatos e construções humanas que se estruturam sobre a natureza sendo, por assim, prisioneira de seus próprios artifícios.
Para o autor, para reencontrarmos a ordem espontânea dos objetos percebidos não basta perceber, pois a percepção sozinha ignora suas próprias conquistas. Deve-se procurar na obra de arte uma trilha que nos reconduza à visão das coisas como elas realmente são, desprovidas de tradição racionalista, para reaprendermos a ver o mundo como tal.
Merleau-Ponty ressalta que a pintura após Cezanne tem a mesma preocupação de tornar visível a temporalidade das coisas percebidas: as diferentes partes de um quadro desse gênero são vistas de pontos de vista diferentes, o que dá ao observador desatento a impressão de serem erros de perspectiva, mas dando àquele atento o sentimento de um mundo onde jamais dois objetos são vistos simultaneamente, onde, entre as partes da pintura, se interpõe sempre a duração necessária para deslocar nosso olhar de uma até a outra, onde, portanto, o ser não é dado, mas aparece por meio do tempo. Existe na percepção um paradoxo de imanência e de transcendência: imanência porque o objeto percebido não pode ser estranho para quem o percebe e transcendência porque ele sempre é composto de um aspecto inalcançável, que supera o fenômeno que é dado.
Merleau-Ponty entende que devemos trilhar a pintura de Cézanne e nela denotar o caráter metamórfico, ambivalente e poético do mundo. Para o autor, necessitamos reavaliar a percepção que temos do mundo, pois existimos no mundo que apreendemos, porquanto não há um mundo que independa da percepção do homem para existir. O fenômeno está sempre somente na relação que o sujeito estabelece com o objeto apreendido, sem jamais delimitar-se ao objeto em si, que por fim das contas é inalcançável, pois está sempre sendo percebido por alguém.
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