Um outro olhar para a depressão

A depressão é um distúrbio afetivo cada vez mais frequente, e que se caracteriza por afetar o estado emocional da pessoa.

17 NOV 2016 · Leitura: min.
Um outro olhar para a depressão

A depressão é um distúrbio afetivo cada vez mais frequente, e que se caracteriza por afetar o estado emocional da pessoa. Comumente, as pessoas associam a depressão ao sentimento predominante de tristeza, ou mesmo a uma tristeza constante, sem razão aparente. É importante saber que nem sempre é assim. Para que possamos entender melhor a depressão, é preciso levar em consideração que o conceito de doença apenas mental, é uma ilusão. Não existe um distúrbio mental que também não seja físico. A pessoa deprimida está fisicamente deprimida, assim como mentalmente deprimida - os dois, na verdade, são um. Desta forma, o olhar para o fenômeno da depressão, deve ser um olhar abrangente. Se nos limitamos a entender a depressão como um estado de tristeza profunda e constante, deixamos de lado aspectos importantes que precisam ser levados em consideração para o tratamento e superação desse distúrbio.

Todos sabemos que o esperado é que uma pessoa que se considere saudável sinta-se bem a maior parte do tempo (com as coisas que faz, seus relacionamentos, seu trabalho, suas opções de lazer, etc.). É claro que não é possível estar alegre e satisfeito todo o tempo. Ocasionalmente, também experimentamos a dor, a tristeza, desgosto e desapontamento. No entanto, experimentar esses sentimentos não necessariamente tornará a pessoa deprimida. O que distingue o estado depressivo de todas as outras condições emocionais é a incapacidade de reagir. Uma pessoa gravemente deprimida pode se sentar em uma sofá, sem assistir a nada em particular, por horas a fio, sem energia para se mover ou fazer algo. Todo seu sistema está deprimido: sua mente, estado de espírito e seu corpo. Sua respiração é curta e superficial, seus movimentos são lentos, sua fala é sem energia, etc. Nem todos os casos são tão graves, é verdade. Muitas pessoas deprimidas encontram uma forma de manter as rotinas da vida - desempenham suas funções adequadamente no emprego, em casa, com os amigos.

Um ponto em comum entre os casos de depressão é a irrealidade presente na atitude da pessoa e em seu comportamento. A pessoa deprimida vive em termos de passado, com uma consequente negação do presente. Esse "viver no passado" nem sempre está claro. Por exemplo, quando em algum momento de nossas vidas vivenciamos alguma perda ou dor, ou qualquer outro acontecimento mais difícil, que tenha nos impactado e marcado de forma mais pungente, tendemos a projetar no futuro uma imagem de uma situação melhor, onde possamos sentir o sentimento de segurança, aceitação, amor. Esse "projetar no futuro", nos casos de depressão, vem com a intenção nem sempre clara de que a experiência futura anule a experiência desagradável. Se alguém lutou com o sentimento de rejeição a impotência, por exemplo, pode imaginar que ao conseguir um cargo de liderança será querido por todos e poderá fazer tudo que sempre desejou fazer. Nesse caso, os sentimentos de aceitação, segurança, são depositados num status, num cargo, numa condição financeira. O seu valor, enquanto pessoa, fica atrelado a conseguir ou não realizar esses objetivos.

"Se a depressão é atualmente comum é porque muito de nossas vidas é vivida na irrealidade. Muito de nossas energias é devotado à busca de objetivos irreais. (...) Investimos em coisas que estão fora de nós mesmos, e que ficam com suas importâncias exageradas. (...) Se olharmos para essas coisas como medida de nosso valor pessoal, se esperarmos que sua posse preencherá nossas vidas vazias, estamos rumando a uma queda inevitável" (Lowen). Por esse olhar, a depressão se dá quando a desilusão se instala. Quando compreendida e desarticulada devidamente, a reação depressiva pode abrir caminho para uma vida melhor. Nesse sentido, a terapia age no sentido de respeitar e acolher o estado deprimido como uma auto-regulação possível de um corpo e um sistema que se sente exaurido de forças e energia, ao mesmo tempo em que possibilita que gradualmente, a pessoa possa retomar o contato com seus sentimentos e com seu corpo.

Se levarmos em consideração que a pessoa deprimida "perde" a autopercepção de si, de seu corpo, tendo uma mobilidade bastante reduzida, assim como também a respiração, sua vontade e imaginação, o trabalho psicoterapêutico de abordagem holística e integrativa, deverá levar também em consideração essas questões, trazendo para o ambiente da terapia através de exercícios e experimentos que possibilitem a retomada de consciência e contato com as emoções e sensações no corpo. Se a depressão se dá pela irrealidade e ilusões que criamos, e se o que se entende por realidade pode ser relativo de pessoa para pessoa, há uma realidade que é indiscutível na vida de toda pessoa: sua existência física e corporal.

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Escrito por

Aline Marques da Silva

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