Suicídio, a dor implacável do luto

Os sobreviventes de suicídio enfrentam desafios únicos, que podem impedir o processo de luto normal, o que os coloca em maior risco de desenvolver diversos problemas psicológicos.

4 ABR 2017 · Leitura: min.
Suicídio, a dor implacável do luto

Perder uma pessoa amada para suicídio é uma das experiências mais dolorosas da vida. Os sentimentos de perda, tristeza e solidão experimentados após a morte de um ente querido são intensificados naqueles que tiveram os seus levados pelo suicídio, por sensações de confusão, rejeição, vergonha, raiva, além dos efeitos do estigma e do trauma.

Os sobreviventes da perda por suicídio também correm mais riscos de desenvolver depressão maior, transtorno de estresse pós-traumático e comportamentos suicidas. Os dados são preocupantes, pois cerca de 1 milhão de pessoas morrem por suicídio a nível mundial a cada ano. O suicídio é uma das dez principais causas de morte em todas as faixas etárias. Em todo o mundo, o suicídio está entre as três principais causas de morte entre adolescentes e jovens.

Os métodos comumente mais empregados são por arma de fogo, enforcamento, overdose de drogas ou outros envenenamentos, saltos, asfixia, impacto veicular, afogamento, exsanguinação (sangrar até a morte) e eletrocussão. Quase 90% de todos os suicídios estão associados a uma doença diagnosticável de saúde mental ou abuso de substâncias. A vulnerabilidade subjacente ao comportamento suicida inclui bases biológicas, sociais e psicológicas.

Embora a depressão e transtorno bipolar são os distúrbios mais comuns entre as pessoas que tentam contra a própria vida, os autores de tentativas de suicídio também podem sofrer de transtornos de abuso de substâncias, outros distúrbios psiquiátricos como a esquizofrenia e podem sentir que a morte é a única maneira de acabar com uma dor insuportável.

Entretanto os que obtém sucesso em "dar cabo da própria vida" deixam um lastro de sofrimento imensurável. Para cada suicídio completado, pelo menos 6 entes queridos são diretamente afetados pelo sofrimento. Para os chamados sobreviventes, este episódio é descrito como uma das experiências mais dolorosas que um indivíduo pode enfrentar. Choque, angústia, perda, raiva, culpa, arrependimento, ansiedade, medo, imagens intrusivas, despersonalização, opressão, solidão, infelicidade e depressão são apenas alguns dos estados frequentemente relatados.

Certa ocasião uma sobrevivente me disse que, quando compartilhou sua própria ideia suicida com sua irmã, esta lhe fez prometer que nunca tiraria a própria vida. Anos mais tarde, quando sua irmã se suicidou, esta sobrevivente não só se sentiu abandonada, mas também enganada. Estava zangada e decepcionada por ter sido deixada para trás para lidar com o estresse da vida sem a irmã. Também descreveu sua raiva pela irmã, que com sua morte por suicídio, pôs ela e sua família num turbilhão de sentimentos que estava insuportável lidar. Ela agora estava sozinha.

O sentimento de vazio pode ser tão intenso que os enlutados também podem sentir um forte desejo de se juntar a seu ente querido, tendo assim pensamentos e comportamentos suicidas. A dor da perda é tão insuportável para algumas pessoas que sua própria morte pode ser vista como a única saída possível de alívio.

Em um dos meus atendimentos, uma sobrevivente me contou como seu pai e sua irmã estavam tendo dificuldades de suportar o suicídio de sua mãe. O quadro era agravado porque a irmã também lutava contra o transtorno bipolar. O mais chocante é que ela (a irmã) terminou se suicidando da mesma forma como a mãe, na mesma data, no ano seguinte. O anseio por um ente querido pode ser tão intenso, que o desejo de se juntar a ele na morte pode ser esmagador.

Sobreviventes de suicídio muitas vezes enfrentam desafios únicos que diferem daqueles que foram enlutados por outros tipos de morte. Além do inevitável sofrimento, tristeza e descrença típica de toda dor, a culpa avassaladora, confusão, rejeição, vergonha e raiva também são muitas vezes proeminentes. Essas experiências dolorosas podem ser ainda mais complicadas pelos efeitos do estigma e trauma. Por estas razões, o sofrimento experimentado por sobreviventes pode ser qualitativamente diferente do luto após outras causas de morte.

A maioria dos sobreviventes são atormentados pela necessidade de dar sentido à morte de seus entes queridos e entender por que os suicidas completaram a decisão de acabar com sua vida. Compreender que a maioria dos suicidas estavam lutando contra uma doença psiquiátrica quando eles morreram, ajuda alguns sobreviventes a entenderem a morte e pode diminuir a auto culpa.

Embora poucos sobreviventes busquem ajuda, é importante entender que o trabalho de restauração com apoio profissional é fundamental para a pessoa tornar-se livre e seguir com seus objetivos pessoais, se envolver em relacionamentos significativos com os outros e voltar a ter experiências de satisfação e prazer.

É preciso entender que os sobreviventes de suicídio enfrentam desafios únicos que podem impedir o processo de luto normal, o que os coloca em maior risco de desenvolver sofrimento agudo, depressão concomitante, transtorno pós-traumático e ideação suicida. Se não tratadas, essas condições podem levar a resultados negativos para a saúde e até mesmo ser fatal. Devido ao estigma associado ao suicídio, os sobreviventes enlutados podem sentir-se incapazes de obter apoio suficiente de amigos ou familiares.

A atenção inicial deve ser focada na angústia traumática com psicoterapia e, muitas vezes, com apoio da farmacoterapia. Lidar com as feridas e o trauma é um aprendizado. Estabelecer metas realistas para a nova vida que agora tem um vazio tão grande só é possível com ajuda profissional. Sem tratamento, os diversos sintomas que afetam os sobreviventes seguem um curso implacável.

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Escrito por

Elaine Mardegan

Psicóloga clínica com certificação em coach e formação internacional em análise bioenergética. Também tem especialização em trauma e stress e hipnose clínica. Ao longo de mais de 30 anos, construiu uma sólida carreira com experiência em pessoas. Tem como objetivo ajudar seus clientes a transformar suas vidas.

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