Sou eu ou são meus filhos que precisam de psicoterapia?

Diante dos conflitos, frequentemente a pessoa se questiona: sou eu ou são meus filhos que precisam de psicoterapia?

16 JAN 2019 · Leitura: min.
Sou eu ou são meus filhos que precisam de psicoterapia?

É muito frequente que durante a turbulência que sentimos diante de conflitos e discussões do núcleo familiar, os pais se questionem se são eles ou os filhos que precisam de psicoterapia para que o ambiente e os vínculos se tornem harmoniosos novamente. São típicos os clássicos pensamentos de "aonde foi que eu errei?".

Quando falamos de seres humanos, ainda mais quando o assunto são dinâmicas familiares, seria impossível equacionar problemas ou resultados. Mas embora cada um possua sua subjetividade e particularidades, algumas questões costumam ser frequentes nestas circunstâncias. São elas:

1) Qual a responsabilidade naquilo que você se queixa?

Não se trata de uma exclusividade dos pais, mas sim de um funcionamento comum nos seres humanos: é muito comum ao lidar com conteúdos emocionais que, nossos pensamentos se direcionem apenas para as nossas queixas. Passado o calor do momento, é fundamental que reavaliemos a situação em sua totalidade, exercitando nossa capacidade de empatia e se questionando: qual a minha responsabilidade naquilo que eu me queixo? As discussões e dissolução de vínculos costumam estar associadas a falhas de comunicação e assuntos pendentes ou mal resolvidos. Portanto, além de avaliar a situação em sua totalidade, torna-se possível avaliar com autocrítica sua própria postura,  possibilitando uma nova perspectiva ganha sobre possíveis soluções e concordâncias.

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2) Escute o que o seu filho tem a dizer

O medo pela perda de poder e controle, somado a crença de que crianças e adolescentes são jovens demais para reivindicarem qualquer coisa, leva aos pais a minar o espaço para a expressão. Mesmo que nossas crenças e valores não sejam imutáveis, o demérito sobre emoções e pensamentos convictos das crianças e adolescentes, podem causar a eles inúmeros prejuízos na autoestima, na relação e segurança. A capacidade de escuta, empatia, respeito em qualquer relação e especialmente na relação de pais e filhos torna-se essencial para o fortalecimento do vínculo e personalidade, proporcionando a experiência de uma relação horizontal de aprendizado.

3) Psicoterapia não é sinônimo de assistência técnica

É frequente que os pais idealizem uma quantidade de sessões que tornará possível a solução de um problema. Além da ética profissional restringir qualquer tipo de previsibilidade neste sentido considerando a individualidade de cada um, é fundamental que os pais compreendam que qualquer conflito ou problemática encontrada não se restringirá apenas ao trabalho do profissional. Para qualquer pessoa, especialmente crianças e adolescentes por estarem em fase de desenvolvimento e construção, consideramos seus aspectos biopsicossociais, tornando-se indispensável para o bom prognóstico e evolução de novas perspectivas a participação da família e o meio que se está inserindo, combinando uma rotina prazerosa capaz de promover o mínimo para sua qualidade de vida.

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4) Favoreça o acesso ao tratamento quando desejado

Quando crianças e adolescentes tomam a iniciativa de compartilhar seu desejo para iniciar a psicoterapia é comum esbarrarem com opinião contrária de seus pais. Seja por descrença ou por receio de alguém ocupar seu papel de autoridade, desencorajam a busca. Favorecer o acesso ao tratamento quando desejado demonstra ao adolescente interesse, incentivo e apoio, já ofertando benefícios terapêuticos pela segurança que a aceitação do gesto transmite. É indicado que os pais facilitem o acesso na busca pelo profissional podendo compartilhar suas dúvidas, temores e explorando os conflitos que o estão levando a considerar o processo e necessidade de ajuda profissional.

5) O luto pela perda do filho idealizado

Um grande motivador de conflitos é o luto pela perda do filho idealizado experenciado pelos pais. Principalmente durante a adolescência os pais costumam se deparar com questões da personalidade própria do filho, as quais muitas vezes se distanciam dos sonhos pré-estipulados durante a gestação e ao longo do crescimento. Neste sentido, a psicoterapia poderá ser de grande auxílio emocional e uma valiosa ferramenta de autoconhecimento para elaboração de fantasias e expectativas favorecendo a aproximação e fortalecimento do vínculo de maneira saudável e menos conflituosa.

Por ser um processo de autoconhecimento e fortalecimento emocional, a psicoterapia sempre será um processo que beneficiará tanto pais, quanto filhos pois respeitará o indivíduo dentro de sua subjetividade e totalidade. O exercício de empatia e reflexão favorece no convívio, comunicação contribuindo para que as relações se tornem mais harmoniosas. Mas lembre-se: sempre que a busca profissional surgir em sua mente como uma opção, reflita por quais razões você está considerando o processo: favorecimento do desenvolvimento e fortalecimento de vínculos ou expectativas de que um terceiro solucionará conflitos de maneira eficaz e até mesmo "mágica"? Não faça boas escolhas por razões erradas.

Fotos: MundoPsicologos.com

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Escrito por

Maitê Hammoud

Psicóloga clínica com curso de aperfeiçoamento em psicanálise, é especialista no atendimento de adolescentes, adultos e terceira idade. Seguindo a abordagem psicanalítica e da terapia breve, atua com foco em transtornos emocionais e comportamentais, relacionamentos interpessoais e questões familiares.

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