Socializar e Virtualizar

Socializar. Atitude de interagir com o meio e estar inserida, ou inserido, em um ambiente. Jogar futebol, sair para uma festa ou restaurante, fazer uma viagem em grupo, tudo isso são exemplos de como socializar. Maneiras diferentes de convívio e compartilhamento das experiências e sensações.

E o que seria virtualizar? Presenciamos nos últimos 15 anos um crescimento exponencial da tecnologia em vários níveis do cotidiano. A interação passou a acontecer não somente no encontro físico, mas também no encontro virtual. Talvez você se lembre do Orkut ou MSN. Com esse fenômeno, consolidado pelo facebook, instagram, twitter e outros sites, passamos a viver a era das chamadas redes sociais.

Mas por que não chamá-las de redes virtuais? Antes do surgimento delas não havia redes sociais? As pessoas não tinham círculos de amizades? O grupo do trabalho, o grupo do futebol ou o grupo da faculdade? É possível perceber, portanto, que social virou sinônimo de virtual. A sociedade ficou virtualizada.

Faz diferença chamar de rede x ou rede y? A questão não está no nome em si, mas na fusão e normalização do real com o virtual, o nome é um efeito do que foi consolidado ao longo do tempo. A diferença entre o social e o virtual não é apenas o espaço em que ocorrem, passa a existir uma mudança no tempo e disponibilidade das interações, hoje podemos estar em uma conversa, ouvir algo de alguém e demorar o tempo que for mais confortável para respondermos, ou simplesmente ignorar a fala. Estar com o filtro virtual, atrás de uma tela, facilita a fuga e o não embate de questões que possam nos incomodar, mas que fazem parte do que é realidade. Podemos fingir uma emoção escrevendo algo que na verdade não sentimos ou mandar apenas uma figurinha, os chamados emojis. Podemos repetir nossa fala a cancelá-la quantas vezes quisermos, até encontrarmos a fala mais adequada, para finalmente enviarmos para outra pessoa. Esse é um dos principais efeitos, a não frustração, a evitação do desconforto a todo o momento.

As habilidades sociais vão perdendo estímulos, fazendo com que, em um momento -inevitável da vida- de se deparar com algum problema real, muitas pessoas não saibam como reagir, como falar 'não' para alguém estando frente a frente ou como absorver uma crítica. Imagine isso em uma situação real. Você suspeita que fulano gosta de você, mas você não gosta dele. Um dia, fulano lhe pergunta ''o que vai fazer hoje?'', então você, que não quer sair com fulano, apenas olha para ele, ouve, vira e vai embora, pedindo desculpas no dia seguinte por não ter respondido. Bom, além de hoje isso ser possível, esse comportamento é recorrente e compreendido no meio e convívio virtual.

Trago essa reflexão para que pensemos sobre o quanto deixamos de viver o real para viver o virtual, que toma tanto espaço de nossas vidas atualmente. Acima de tudo, relações devem ser regadas e cultivadas, e para isso, para criarmos um solo fértil, dificilmente uma mensagem vai ser melhor do que um abraço ou a companhia de quem mais se quer por perto, seja em um momento de muita tristeza ou mesmo de muita alegria. Compartilhar de verdade é muito mais do que enviar um conteúdo de mídia, comentar de verdade é muito mais do que uma frase genérica e curtir de verdade é muito mais do que um coraçãozinho.

Bibliografia

- Lopes, A. P., Laranjeiras, A. L. C., Neves, R. W. S., & Alencar, V. V. (2021). O USO EXCESSIVO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS E SEUS IMPACTOS NAS RELAÇÕES PSICOSSOCIAIS EM DIFERENTES FASES DO DESENVOLVIMENTO HUMANO. Caderno De Graduação - Ciências Biológicas E Da Saúde - UNIT - ALAGOAS, 6(3), 166.

- BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.

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