​Sobre a criança que "só quer chamar atenção"

Uma queixa comum que se escuta sobre as crianças são aqueles comportamentos que muitas vezes nos parecem exagerados. Uma atitude rebelde, um choro prolongado, cortar o próprio cabelo.

"Não dá bola, ela só quer chamar atenção", nos dizem os mais próximos.A questão é: em que momento decidiu-se que a melhor conduta para com uma criança que está querendo chamar atenção é dar-lhe exatamente o oposto daquilo que ela demanda? Quem foi que instaurou a regra geral de "não dar bola" às angústias alheias?Seria isso um reflexo da noção de que disciplina deve ser imposta acima de tudo? E de que a criança nos demandar uma atenção especial é uma afronta terrível aos adultos-que-não-devem-ser-desobedecidos? Será mesmo isso o que temos de melhor a oferecer: a mensagem de que se atrever a chamar atenção é pedir para ser ignorado, às vezes até punido?Enquanto adultos, quando estamos com alguma dificuldade de entender algo que estamos sentindo, temos nossos meios de lidar: procurar nossos familiares, conversar com nossos amigos de confiança, procurar um psicólogo, sair para se divertir, ir para um lugar calmo para pensar melhor, etc. Já as crianças ainda não tem esses recursos para lidar com seus sentimentos. Elas agem com seus corpos, com seus barulhos, com suas inquietações, sem palavras para traduzir-se. E por mais que perguntemos "por que você está agindo assim?", ela não consegue fazê-lo com frases e explicações. Ela só consegue agir, e tomamos isso como birra sem oferecer suporte à angústia deste ou daquele momento. E depois ainda há quem fique indignado com as crianças que ficam "coladas" ao celular, tablet, video game e afins! Esses aparelhos mágicos nos transportam para um mundo de atenção única e exclusiva de vidas infinitas e habilidades sobre-humanas e nos dizem o quanto somos especiais.Portanto, o que fazer quando uma criança está querendo chamar atenção? Bom, há alguns passos possíveis. Tentar entender a situação com a criança esboçando uma explicação do que se passou. Oferecer suporte emocional para ela lidar com aquela dificuldade, o que absolutamente não significa tentar reverter a situação causadora da angústia. Tentar encontrar juntos uma nova experiência a partir daquele momento. Remover tudo aquilo que angustia nossas crianças é impossível, mas isso não quer dizer que devemos entregá-las a todas as dificuldades e frustrações da vida sozinhas desde os primeiros anos de vida. Afinal, até mesmo nós adultos compreendemos o quão devastador pode ser precisar de atenção e não receber, não é mesmo?

Sobre a autora: Leonor Erberich é psicóloga e atende em Santa Maria, RS.

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