Remédios curam sintomas de ansiedade?
Artigo que aborda o tema ansiedade, seus sintomas e a reflexão sobre o uso de medicamentos em seu tratamento.
A utilização dos benzodiazepínicos amplamente prescritos para tratamento em casos de transtornos de ansiedade, síndrome do pânico, fobia social, entre outros, vem sendo questionada por médicos e pesquisadores em virtude da constatação de situações de uso crônico, dependência e pelo excesso de efeitos colaterais.
Vê-se que tais medicamentos são prescritos para o tratamento de sintomas de ansiedade que atuam em níveis de intensidade elevada gerando sofrimento ao paciente, distinto do que ocorre em todo indivíduo frente a situações de perigo, medo, expectativas ou incertezas. Neste campo falamos sobre reações físicas que são geradas por emoções, sentimentos, afetos e desejos, e não somente por desiquilíbrios em nossa dinâmica cerebral.
Antes de prosseguir, ressalto que não há desígnio neste artigo em afirmar que o acompanhamento psiquiátrico não seja importante, ou nocivo ao paciente. Pelo contrário, em grande parte dos casos, o acompanhamento psiquiátrico se torna essencial.
A Psicanálise enuncia que todo sintoma tem como função revelar o funcionamento inconsciente. O trabalho de análise desses sintomas extenua certo tempo e dedicação por parte do analista e do paciente. Tempo esse que em alguns casos poderá frustrar as expectativas do paciente que angustiado com a frequência e intensidade de suas crises, poderá expectar pelo rápido retorno do Analista em termos de respostas sobre o que o leva a sofrer.
Em tempos de fácil acesso à informação, esse desencontro entre expectativa e retorno poderá motivar em alguns casos o desinvestimento do paciente em seu propósito de analisar-se.
Uma segunda adversidade consistiria no cenário onde o paciente tomaria para si a perspectiva de que apenas o tratamento medicamentoso poderia curar seus sintomas, deixando em um segundo nível de prioridades a necessidade em implicar-se sobre seu funcionamento inconsciente. Desta forma, a medicação atuaria como solução prática, mais simples e funcional, operando como um tampão para o sofrimento.
A verdade é que infelizmente, sozinha, a medicação não poderá intervir sobre o núcleo das neuroses. Ao terminar o tratamento psiquiátrico, o paciente que não estiver em análise, possivelmente estará suscetível à novas investidas dos sintomas que há tempos encontravam-se adormecidos.
Outro fator usual e bem lembrado recentemente por uma colega, refere-se à constatação de que muitos pacientes que, mesmo tendo iniciado o processo psicoterapêutico com um Psicólogo, ou com um Psicanalista, acabam desistindo das sessões ao sentirem o alívio de seus sintomas, retornando após um breve período em busca pela retomada do tratamento.
Uma pergunta importante nos cabe nesse instante: por que não nos empenharmos no trabalho de descoberta de nosso funcionamento inconsciente, já que este seria um caminho para nos alforriarmos dos sintomas de nossas neuroses?
Em meados de 1893, Freud ao descrever o caso da Senhorita Elizabeth Von R., introduziu em sua teoria pela primeira vez, o que chamou de resistência. Uma energia que, gerada pelo próprio paciente, opera em oposição ao tratamento em defesa da continuidade do sintoma pela obtenção de satisfação pulsional.
O conceito de resistência perdurou ao longo do histórico de publicações do autor e se constituiu como uma das mais importantes formulações da Psicanálise.
Freud descreveu em suas publicações cinco mecanismos diferentes de resistência gerados por três distintas ocasiões. Entre as possibilidades de conceber formas de resistência, o ego seria responsável por três tipos: a resistência de repressão, a resistência da transferência e a resistência de ganho secundário.
O primeiro tipo consiste na força que se manifesta pela defesa do sujeito a impulsos, recordações e sentimentos que se fossem rememorados pelo ego, seriam causadores de sofrimento.
O Segundo possui características equivalentes ao primeiro, porém acrescenta-se a este a força em oposição às lembranças e impulsos infantis que são projetados na imagem do Analista.
O Terceiro consiste na obtenção de ganhos secundários pelo paciente por colocar-se em posição de objeto (adoecido) e subordinado aos cuidados de terceiros.
Em continuidade às resistências do ego, Freud também descreve as resistências do ID e do Superego. A Primeira se dá a partir da força de resistir às mudanças que possam se realizar nos impulsos e instintos inconscientes. A segunda se abriga em processos de autopunição e culpa pelo próprio paciente, força essa que resiste ao sucesso do próprio trabalho analítico.
Diante desse amplo cenário de possibilidades, caberá ao analista descobrir em conjunto com seu paciente quais são os impulsos que alimentam a resistência, demonstrando ao paciente a existência e a força desses impulsos que o auxiliarão a compreender a importância em implicar-se no processo de vir a conhecer-se. Esta poderá ser considerada uma via mais paulatina de tratamento dos sintomas de angústia, porém de grande significado edificante e perdurável ao tratamento.
As informações publicadas por MundoPsicologos.com não substituem em nenhum caso a relação entre o paciente e seu psicólogo. MundoPsicologos.com não faz apologia a nenhum tratamento específico, produto comercial ou serviço.
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