Reflexões sobre o casamento
O presente artigo é um convite para a reflexão a respeito das relações conjugais e algumas, entre as várias, "mazelas" que fazem parte da vida diária dos casais.
Pensando as relações conjugais, trago alguns aspectos para que possamos refletir. Quando decidimos viver a dois, dividir o mesmo espaço, geralmente somos movidos por uma única motivação, o amor romântico. A partir daí, projetamos uma vida idealizada onde muitas vezes tropeçamos em alguns enganos, tais como: a tendência a comparar o nosso relacionamento com o relacionamento de amigos.
Isso nos frustra, pois cada casal é um casal e aquilo que serve para uma dupla, pode não servir para a outra, ou seja, para uma dupla, parceria poder ser fazer trilha ecológica nos finais de semana, para outra, pode ser apenas ficar sentados no sofá assistindo um programa de TV. Não podemos comparar o que é incomparável.
Quando nos comparamos aos outros nos colocamos como reféns de algo inalcançável e utópico. Outro aspecto que observo em minha clínica é a respeito da maneira de demonstrar o amor. Alguns casais trazem a queixa que um dos parceiros não demonstra que ama porque "ele não diz que me ama". Ok é gostoso escutar um "eu te amo", mas não podemos afirmar que essa é a única maneira de demonstração de amor.
Algumas pessoas são menos verbais e podem demonstrar através de gestos, por exemplo: fazendo um prato gostoso porque sabe que a outra pessoa aprecia muito comer, comprando os ingressos para irem a um show, ficando, apenas, abraçados escutando o outro quando este não está legal e precisa apenas ser escutado e acolhido.
Enfim, vários são os exemplos que podemos identificar como "provas" de amor, o mais importante é sabermos identificar os sinais que o parceiro está nos enviando e fazermos a leitura real das situações. Outro ponto muito recorrente é a frase: "mas se fosse eu...", nossa! Essa frase acredito que fora até hoje a frase que mais escutei nos atendimentos de terapia de casais e também muito escutada fora do ambiente terapêutico.
Existe uma expectativa de que o outro irá responder a mim e as coisas da vida, a partir dos meus preceitos e meu mundo interno. Grande engano narcisista! Se o outro fosse responder conforme o seu mundo interno, então, o outro não seria o outro e sim você. Por exemplo, o casal é convidado para um jantar na casa de amigos, chegando lá um dos parceiros observa que o outro ficou "de cara amarrada" a noite toda.
Chegando em casa ele é questionado à respeito do seu mal humor e ele responde: "eu estava cansado e não estava com vontade de ter ido jantar com os amigos". "O outro, se sentindo "traído", fala irritado: " Por que você não falou? "Mas se fosse eu, eu diria que estava cansado e não iria...". Parece simples, mas não é. A maior parte do tempo, de forma inconsciente, os casais escutam um ao outro desta maneira, há uma tendência em esperarmos do outro, condutas, posturas, pensamentos como se estes fossem propriedade nossa, como se a mente do outro estivesse sob nosso comando e controle.
Como abordei inicialmente, esse é um convite para refletirmos a respeito das "mazelas" do casamento e que dificilmente algum leitor não se identificará com alguns destes aspectos que foram exemplificados ou até mesmo que se lembre de alguém conhecido. Neste contexto, fica a reflexão de que o casamento é a arte do saber conviver, como diz o dicionário português: "significa possuir uma vida em comum, possuir convivência".
Sendo assim, entendemos que o laço conjugal é confrontar-se com o outro que não é nós, mas que faz parte de nós. É olhar para o outro não como se fosse a nossa imagem e semelhança, mas como alguém separado de nós que também tem vontades e desejos e que para podermos estar juntos é necessária uma boa dose de empatia.
É ter claro que quando se casa não se casam somente duas pessoas, mas que, junto no pacote, vêm mais quatro atrás, seus pais e meus pais, sem contar toda a família de origem. Todos somos frutos de histórias e que bom sinal que temos raízes. Escolhemos estar juntos para aprendermos a dividir, para compartilhar, para crescer com o outro, para poder contar como foi nosso dia, para podermos diminuir um pouco o nosso desamparo, mas acima de tudo ter alguém para amar e ser amado.
As informações publicadas por MundoPsicologos.com não substituem em nenhum caso a relação entre o paciente e seu psicólogo. MundoPsicologos.com não faz apologia a nenhum tratamento específico, produto comercial ou serviço.
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