Quais as consequências do bullying na vida adulta?

Sabe aquelas brincadeiras sem graça da infância e da adolescência, de perseguir e acossar? Não se engane, isso é bullying, e pode deixar marcas profundas na vida da pessoa. Saiba mais:

27 NOV 2018 · Leitura: min.
Quais as consequências do bullying na vida adulta?

Já se foi o tempo em que as tal brincadeiras de mal gosto durante a infância e adolescência eram vistas como normais, e até mesmo consideradas saudáveis para o desenvolvimento da autodefesa. Esse comportamento tem um nome: bullying.

O bullying é caracterizado por qualquer tipo de violência física ou psicológica, sendo frequentemente praticado entre crianças e adolescentes em seus grupos de convivência, principalmente no âmbito escolar. Como qualquer tipo de violência, deixa sua marca na vida da pessoa que está obrigada a lidar com ela.

Quais os impactos que a prática do bullying pode acarretar na vida adulta?

Períodos de desenvolvimento x estrutura psicológica

Muitos pais e educadores se preocupam em proteger as crianças e adolescentes de qualquer tipo de violência que possa ser praticada por adultos, mas afinal, por que a violência praticada por outra criança ou adolescente causaria menos danos? 

Tanto o período da infância como o da adolescência são considerados etapas de desenvolvimento físico e psicológico. O resguardo e cuidados são absolutamente necessários nestes períodos, especialmente quando existe exposição a violência ou traumas, pois podem contribuir para inúmeros prejuízos na estrutura psíquica da vítima. 

Em menor ou maior grau, a violência sempre deixará marcas, portanto, a prevenção e amparo devem ser praticados com devida seriedade, sem menosprezar o sofrimento experimentado pelo outro

Dentre os prejuízos e efeitos mais comuns decorrentes da exposição de bullying na infância ou adolescência que permanecem na vida adulta, podemos mencionar:

  1. Baixa autoestima: vinculada tanto à sua aparência física quanto à personalidade. A vítima de bullying tem extrema dificuldade em se reconhecer como alguém empoderado em relação ao seu passado. A baixa autoestima dificulta a autovalorização, estimula dúvidas sobre sua capacidade. É um componente essencial em suas relações profissionais, sociais ou afetivas.
  2. Insegurança: atrelada à baixa autoestima, a insegurança costuma estar presente em diversos aspectos da vida e das relações, especialmente no que se refere à dificuldade na tomada de decisões e ao alto grau de tensão quando avaliado em grupo.shutterstock-217021243.jpg
  3. Agressividade: de maneira inconsciente, o temor por sofrer violência é tão presente que, mesmo na presença de situações consideradas neutras, a pessoa se mantem em postura defendida e agressiva, desejando transparecer uma personalidade imponente como mecanismo de defesa
  4. Dificuldades nas relações interpessoais e afetivas:carregando o fardo da rejeição, são experimentadas inúmeras dificuldades em suas relações interpessoais e afetivas. Dois aspectos chaves podem ser a falta de habilidade na comunicação, frequentemente confundida com uma personalidade tímida, e ainda o temor à rejeição, exclusão ou abandono, que faz com que a vítima de bullying se posicione de maneira submissa ou inferior em suas relações, apresentando inúmeras dificuldades de se posicionar com questões pessoais e de limites, ou romper vínculos quando necessário ou desejado. 

Além destes aspectos psíquicos e comportamentais, quando tais questões não são trabalhadas, aumentam-se a chances do desenvolvimento de depressão, transtornos de ansiedade e transtornos alimentares. 

Também há o risco de dependência por álcool e drogas. As drogas lícitas ou ilícitas se tornam atraentes para desinibição e possuem para muitos o efeito anestésico de memórias dolorosas e insatisfação pessoal. 

É possível trabalhar as marcas deixadas pelo bullying na psicoterapia mesmo depois de muito tempo?

Sim! A psicoterapia é um processo de autoconhecimento e fortalecimento emocional. Constantemente, a pessoa sequer atribui suas dificuldades ou mal-estar a situações vividas no passado, mas, inconscientemente, na presença de situações que a remetam à possibilidade de violência, suas memórias emocionais são resgatadas como se ainda ocupasse a posição de uma criança ou adolescente que carecia do poder de decisões, julgamento ou defesa.

Neste sentido, a psicoterapia é fundamental para que tais memórias sejam ressignificadas, contribuindo para que tais marcas do passado sejam permanentemente excluídas de seu presente e futuro. 

O outro lado da moeda!

Não só as vítimas, mas também os praticantes de bullying não estão livres do mal-estar em relação ao seu passado. Os agressores tendem a manifestar tais comportamentos na tentativa de defesa ou destaque nos grupos que está inserido, durante seu período de desenvolvimento; tais memórias, conflitando com seus valores atuais, podem despertar, além dos aspectos mencionados anteriormente, um profundo sentimento de culpa e desejo de reparação. Para eles, a terapia também é importantíssima!

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Escrito por

Maitê Hammoud

Psicóloga clínica com curso de aperfeiçoamento em psicanálise, é especialista no atendimento de adolescentes, adultos e terceira idade. Seguindo a abordagem psicanalítica e da terapia breve, atua com foco em transtornos emocionais e comportamentais, relacionamentos interpessoais e questões familiares.

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Comentários 5
  • Juliana fernandes

    Esse é o melhor post sobre bullying E as reflexões que ele trás na vida adulta que eu já li, tão completo é tão rico de informações. Parabéns ao criador.

  • Gabriele Ferreira

    Quando eu era adolescente sofri bullying até mesmo hoje em dia ouso uma piadinha aqui outra ali, isso trouxe consequências para minha vida adulta. Hoje tenho 24 anos e sou travada parei no tempo, sou insegura, não consigo fazer amizades, tenho palavras agressivas derrepente, sofro de baixo autoestima, não consigo me desenvolver em sentido nenhum. Oro a Deus que me de ânimo todos os dias, o bullying fez acabou comigo, hoje só de lembrar me sinto um lixo. Não sou mãe ainda mas quando for vou ensinar a amar ao próximo, e que o bullying é algo grave que não se faz com ninguém.

  • Rejane eich

    Muito interessante...descobri tarde ser uma vítima , realmente as consequências são danosas e afetam a minha vida em todos os sentidos . Sofri Bullying na escola e na própria família .

  • Augusto Z.

    Na infância e adolescência sofri bullying devido ao fato de minha família ser religiosa e fundamentalista. Eu era muito diferente das outras crianças. Nos últimos 40 anos simplesmente coloquei uma pedra sobre o assunto até que, recentemente, comecei a sofrer com alguns transtornos psicológicos para mim inexplicáveis. Hoje estou em terapia psicológica, mas descobri que meu cérebro sofreu fisicamente com a agressão contínua de tantos anos. Por isso não posso dispensar tratamento psiquiátrico e medicação específica. Graças a Deus não "descontei" em meus filhos minhas frustrações passadas, nem enveredei o mundo das drogas. Mas tive sérios problemas profissionais e sociais. Bullying é intolerável.

  • Eliane de Carvalho

    Tenho 55 anos, fui dispensada de meu trabalho como Recepcionista em uma Editora nesse mês de setembro e fui hoje a uma outra editora fazer entrevista. Infelizmente fui vítima de Bullying de funcionário enquanto aguardava para entrevista. Não foram diretos, mas não sou criança e entendi que o meu lenço no pescoço serviu para eles falarem... torcicolo.... além do desrespeito com outras palavras, que me deixaram tão triste, tão incomodada, que levantei e fui embora...e essa entrevista não aconteceu. Não escrevi para o diretor dessa Editora, Livraria, porque não quero me estender nisso. Mas eu já trago comigo trauma de bullying em criança na escola... isso me fez uma pessoa tímida, fechada e não aceitação de como sou e quem eu sou. Mas não quero e não vou passar por situações desse nível a essa altura da minha vida, enquanto busco um trabalho. Psicologicamente abalada por conta de trabalho e isso é totalmente desnecessário...

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