Preconceito: criança somente repete o que aprende

Um experimento de uma professora canadense serviu para delinear a relação das crianças com o preconceito. De acordo com o estudo, a discriminação aparece como um comportamento adquirido, relacionado com a necessidade de pertencimento a um determinado grupo.

15 OUT 2013 · Leitura: min.
O fator de separação escolhido para o experimento da professora canadense foi a altura

Não é a primeira vez (nem será a última) que o comportamento infantil diante de determinado conjunto de normas sociais é objeto de estudo para profissionais do setor da psicologia. A forma como meninos e meninas estruturam seus valores, reagem frente a situações de “mal-estar” e assimilam as condições do seu entorno são de extrema importância para aqueles que trabalham com esse universo. Recentemente, um experimento de uma professora canadense serviu para delinear a relação das crianças com o preconceito, pontuando que a discriminação aparece como um comportamento adquirido, relacionado com a necessidade de pertencimento a um determinado grupo.

Em Quebec, Annie Leblanc testou em seus alunos do ensino fundamental um experimento radical. Com a devida autorização dos pais e do conselho escolar, a professora estimulou a segregação na sala de aula e criou, por dois dias, um cenário hostil, no qual as crianças experimentaram na própria pele o que é ser discriminado.

Com inevitável desapontamento, Annie comprovou que as crianças são facilmente impactadas pelo entorno, sendo capazes de assimilar e reproduzir o que lhes está sendo ensinado sem maiores questionamentos. Os comportamentos discriminatórios foram repetidos inclusive por aqueles que já haviam experimentado o peso e a dor do preconceito, ressaltando a força do coletivo e do pertencimento ao grupo.

Método e resultados

Um dia antes do início do experimento, Annie conversou com seus alunos sobre a discriminação. Explicou ter visto um psiquiatra falar pela televisão sobre a inferioridade intelectual das pessoas negras. Estimuladas a opinar sobre o fato de os negros serem menos inteligentes, boa parte crianças repetiu opiniões difundidas pela televisão e ensinadas pelos pais.

Tão imutável quanto a cor da pele foi o fator de separação escolhido para o experimento da professora: a altura. Para dar início à experiência de observação, Annie explicou para os seus alunos que tinha sido comprovado cientificamente que as crianças que mediam menos de 1,34 m eram mais criativas, inteligentes, tiravam melhores notas, enfim, eram “melhores”. Depois da surpresa inicial, que reservou olhares de aprovação e rompantes de discordância, a professora dividiu a classe em dois grupos e começou a incentivar a segregação e a hostilidade.

O comportamento foi adotado com facilidade e rapidez pelos “superiores” e durante a jornada foi possível observar todo o incômodo e desconcerto daqueles que vivenciavam a discriminação. O primeiro dia de experimento terminou com a professora explicando para os “altos” que tudo não de passava de um teste, mas que seria preciso que eles mantivessem o segredo e não comentassem nada com os colegas, já que, no dia seguinte, haveria a inversão dos papéis e aqueles que medissem menos de 1,34 m seriam considerados os “piores”.

Apesar de desejar uma quebra no paradoxo, Annie observou que a troca de papéis e o fato de já ter experimentado o preconceito não foi suficiente para que os “altos” discriminassem menos. O experimento de Quebec foi inspirado nos estudos científicos do psicólogo Henri Tafjel, que trabalhou com a abordagem social, demonstrando com testes de observação que o indivíduo reage de forma diferente e discriminatória quando é separado em grupos. Além disso, tratou de reproduzir, em certa maneira, o “Blue Eyed”, outro reconhecido experimento da Psicologia. Esse último foi realizado em 1996 pela professora Jane Elliott, que separou seus alunos e promoveu a segregação baseado em uma característica imutável: a cor dos olhos.

O documentário sobre o experimento conduzido por Annie Leblanc pode ser visto na íntegra aqui. Os 40 minutos de vídeo são enriquecedores, não só para os especialistas na abordagem infantil. Vela a pena aprender um pouco mais sobre o comportamento da infância e tratar de entender até que ponto são reflexos do que somos e fazemos.

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