​Para me curar, preciso me dar uma nova chance

Justamente por não ter aprendido a ser afetivo, não sabem o que sente, se tornam pessoas mais fechadas e isoladas, podem ter muitas dificuldades em se relacionar ou se entregar a relações.

15 JUN 2019 · Leitura: min.
​Para me curar, preciso me dar uma nova chance

Não nascemos para vivermos sozinhos, desde o nascimento somos totalmente dependentes dos cuidados maternos, é onde estabelecemos nosso primeiro vínculo e é ali que iremos desenvolver a segurança com o mundo. Quando esse vínculo é prejudicado seja por razões de doenças, tempo na UTI, adoção, ou por negligência principalmente a materna, nossa segurança em viver ficará prejudicada.

Não é à toa que em diversas literaturas, os primeiros meses de vida de um bebê são tão referenciados, pois existe uma gama de interferências na construção dos principais sentimentos que a criança desenvolve na sua concepção de mundo e de relações afetivas.

Em geral, bebês e crianças que passaram por dificuldades nos vínculos, se tornam mais suscetíveis a sensações de abandono, podem ter muito medo de perder pessoas amadas a ponto de sufocá-las com a necessidade de amor ou de ciúmes. Em outra via podem se tornar pessoas racionais demais, que não mantem relações mais estreitas e que tem dificuldade no apego.

Justamente por não ter aprendido a ser afetivo, não sabem lidar com o que sente, se tornam pessoas mais fechadas e isoladas, essas, podem ter muitas dificuldades em se relacionar e ter parceiros amorosos, exatamente pelo medo de se entregar aos sentimentos que não sabem lidar. Em muitos casos podem desenvolver a síndrome do pânico, a sensação terrível de estar sozinho, uma estranheza ao mundo e até mesmo alguns transtornos ansiosos, de humor ou de personalidade.

Toda essa busca por se sentir seguro em um mundo real, traz diversas consequências e cada um vai desenvolver certo grau de dificuldade no amadurecimento das emoções, todos esses processos precisam ser trabalhados em terapia que é quando a pessoa elabora as situações e aprende a se acolher, a lidar com os sentimentos confusos e aprender as melhores estratégias para lidar com sua criança interior.

Costumo dizer que essa criança, é nosso eu, a internalização de quem somos, nossas vulnerabilidades e defesas que criamos como enfrentamentos e até mesmo, nossas auto sabotagens.

Uma das principais sabotagens, é estar em um relacionamento amoroso e ficar sempre esperando que o outro vá embora, isso porque, carrega sentimentos de não ser merecedor de amor, que se tem defeitos e que são inaceitáveis e por ter uma compreensão de que não tem qualidades o suficiente para que seu parceiro permaneça no relacionamento. Com isso surgem as brigas por ciúmes, por sentimento de impotência de não conseguir se manter em relacionamentos e por viver arrumando justificativas que "nunca dá certo no amor".

A pessoa estabelece crenças de que ninguém poderá amá-lo ou ficar ao seu lado por muito tempo, que o outro poderá encontrar alguém mais interessante e que de certa forma em sua mente seu parceiro "merece alguém melhor".

Auto sabotagens incluem todas as formas que se é possível afastar seu amado de si, confirmando assim, pensamentos de que "mereço ficar sozinho", "ninguém me ama", "nunca vou arrumar alguém que fique comigo por muito tempo".

Precisa trabalhar esse amor próprio, esse sentimento de que é falho ou cheio de defeitos, somente você pode sustentar esse alicerce de se amar e de conseguir ficar sozinho sem se sentir mal ou com angústias de solidão.

Estabeleça esse vínculo com sua criança interior, imagine que realmente existe uma criança dentro de você e que essa é você quando era pequeno, que se via frágil diante do mundo, sem acolhimento e que muitas vezes se tornou raivoso ou com muita ansiedade por que não consegue acalmar esse interior.

Um dos exercícios que é interessante fazer, seria se imaginar criança e estabelecer vínculos com o seu eu, prometer que agora você irá cuidar de seu interior e que começará a ouvir essa criança para entender quais são suas carências.

Em muitos casos essa criança internalizada desenvolve compulsões por comida, por drogas, bebidas, compras, fobias ou se torna um acumulador, isso para superar sua angústia e o mal-estar em se sentir sozinho e por isso quase sempre, quando você melhora uma compulsão, poderá transferir por outra forma de compensação.

Por isso precisa trabalhar sua mente para aprender as artimanhas que ela usa para se auto sabotar e para enfrentar essas dores emocionais.

O autoconhecimento é a chave para o autocontrole, para o acolhimento desse eu interior e amadurecimento das emoções. Entenda como sua mente funciona e quais são estratégias que ela usa ou que você precisa aprender para ter mais autoconfiança, auto amor e autocuidado.

Cuidar de sua criança interior é dar uma nova chance de elaborar todos esses sentimentos confusos de angústia, de pânico e de solidão. Sempre vai existir uma saída para melhorar o enfrentamento, cada um precisa buscar a forma que mais se adapta para superar suas dores emocionais e para isso existem diversos tipos de terapias e você precisa encontrar a forma terapêutica que mais funciona para se cuidar e se amar.

Se dê essa oportunidade de amadurecimento, de mudar as coisas que te fizeram estar triste até agora. Você tem essa capacidade, precisa confiar mais em si e de que sempre é possível transformar as coisas e pensamentos, desde que esteja disposto a se dar uma nova chance de melhorar.

Por Cleunice Paez, psicóloga inscrita no Conselho Regional de Psicologia de São Paulo

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Escrito por

Cleunice Paez

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