Os pais e a “sombra” dos filhos

É importante que, no processo de crescimento, as crianças se identifiquem com os atributos psicológicos apropriados e não com a sombra e tenham uma atitude moral.

29 ABR 2014 · Leitura: min.
Os pais e a “sombra” dos filhos

É importante que, no processo de crescimento, as crianças se identifiquem com os atributos psicológicos apropriados e não com a sombra e tenham uma atitude moral. Para chegar a desenvolver uma personalidade consciente, precisamos nos identificar com alguma coisa e isso implica a exclusão do seu oposto que, na psicologia junguiana ou analítica, denomina-se “sombra".

É importante que, no processo de crescimento, as crianças se identifiquem com os atributos psicológicos apropriados e não com a sombra e tenham uma atitude moral. Senão, elas se identificam com o seu lado traiçoeiro, desonesto ou violento e não terão sentimentos de culpa.

Ajudar os filhos a se desenvolver a esse respeito, no entanto, não é nada simples. A pregação moralista por parte dos pais, da igreja, da sociedade, etc., geralmente é ineficaz ou até mesmo perigosa. De muito maior importância é o tipo de vida que os pais levam e a "ligação" que deve ocorrer desde cedo entre pais e filhos e/ou cuidadores, pois em última análise, a vida moral se resume no relacionamento de uma pessoa com outras pessoas e na capacidade de sentimentos humanos.

Em algumas crianças essa ligação nunca ocorre; nesse caso, as necessárias defesas emocionais contra o lado mais escuro da sombra não existem ou são frágeis. Isso pode levar ao desenvolvimento de personalidades criminosas ou sociopáticas, ou seja, à identificação do ego com a sombra.

Ao mesmo tempo, os pais não devem afastar, em demasia, os filhos do seu lado escuro. Pois a sombra nunca é mais perigosa do que quando a personalidade consciente perde contato com ela. Consideremos o caso da raiva. E claro que não se deve permitir que os filhos cedam a impulsos de raiva que sejam destrutivos para os outros.

Ao mesmo tempo, será uma perda para os filhos se forem totalmente privados de contato com a raiva que, muitas vezes, é uma reação saudável e criativa. Se o pai/mãe diz: "você é um menino mau porque está com raiva da sua irmã", existe o perigo de que a criança sensível possa reprimir sua raiva para ganhar a aprovação dos pais. Isso resulta numa cisão na personalidade e numa sombra autônoma e, portanto, perigosa; para não mencionar a perda de contato com a energia vital que essa raiva propicia.

Isso é especialmente nocivo se os pais se permitem sentir raiva, mas não permitem que os filhos a sintam. "Eu posso ficar furioso, mas você não". Quando a criança fica furiosa com seu irmão, talvez uma atitude ideal dos pais fosse: "Eu entendo que você esteja furioso com seu irmão, mas você não pode jogar uma pedra nele". Isso pode encorajar a criança a desenvolver a repressão necessária sobre seus instintos e afetos mais violentos, sem se afastar do seu lado escuro.

Mas "aceitação" não significa "permissividade". De nada serve à criança ter pais que permitem todo tipo de comportamento. Existem formas de comportamento que não são aceitáveis na sociedade humana; a criança precisa aprender isso; a criança precisa organizar sua própria capacidade interior de controlar essas formas de comportamento. Uma atmosfera permissiva faz com que se embote a capacidade de a criança desenvolver seu próprio sistema de autocontrole.

Também é importante que os pais não castiguem os filhos com a rejeição. Talvez o melhor castigo que os pais podem dar aos filhos seja o castigo imediato que, uma vez aplicado, está terminado, O pior castigo é, com certeza, a recusa de afeição.

Quando isso acontece, a criança capta a mensagem de que é má e, além disso, responsável pelo mau humor do pai ou da mãe; isso leva a sentimentos de culpa e de autorrejeição, E então, para estar à altura dos pais, a criança tenta desesperadamente adaptar-se às formas de comportamento que agradem aos pais, o que resultará numa cisão ainda maior da sombra.

Em algum momento um pai/mãe terá, inevitavelmente, sentimentos negativos em relação a um filho, quando a criança se porta mal, quando incomoda, quando interfere com a vida independente dos pais, quando exige demasiado sacrifício de dinheiro, de tempo ou de energia.

O amor por um filho pode ser superado, ao menos momentaneamente, pelo ódio; o desejo sincero de fazer o melhor pelo filho pode ser superado por fortes sentimentos de raiva ou de rejeição. Aí está um dos grandes méritos da sombra: o encontro com ela é essencial para o desenvolvimento da nossa personalidade total.

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Escrito por

José Antonio de Oliveira

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