Obesidade infantil: reflexo condicionado

Você sabe o que é obesidade? O que ela pode causar na criança? Como mudar estes hábitos alimentares? Como a Psicologia pode ajudar?

26 JAN 2018 · Leitura: min.
Obesidade infantil: reflexo condicionado

A obesidade tornou-se uma doença epidêmica, motivo de preocupação da Organização Mundial de Saúde (OMS). Está afetando todas as regiões do globo. Para se ter uma ideia do aumento da incidência dessa doença nos últimos anos, citam-se dados dos Estados Unidos: 2% da população em 1960, passou para 23% em 2000. Obesidade é definida pelo Índice de Massa Corporal (IMC), se o mesmo estiver entre 18 e 24,9 é considerado normal, isto é, nesta faixa o indivíduo não corre o risco de doenças relacionadas ao peso. Abaixo de 18, o indivíduo é considerado magro. Entre 25 e 29,9, indica sobrepeso, o que já constitui risco. Valores entre 30 e 34,9; 35 e 39,9 e acima de 40 identificam obesidade grau I, grau II e grau III, respectivamente.

A obesidade grau III é conhecida também como obesidade mórbida. Os dados mostrados sobre o aumento da incidência de obesidade reforçam a tese segundo o qual o estilo de vida é um fator etiológico mais importante do que a herança genética, pois o genoma dessa população não mudou em 40 anos. A preocupação maior centra-se na obesidade infantil, que tem aumentado na mesma proporção, provocando o aparecimento de doenças relacionadas à obesidade, como diabetes tipo II e hipertensão.

Hábitos alimentares:

Este é um outro fator relacionado à obesidade de uma maneira geral mas, particularmente à obesidade infantil. As crianças devem ser incentivadas a incrementar o consumo de frutas e hortaliças, que são alimentos de baixo teor calórico e importantes na prevenção de diversas doenças crônicas, como aterosclerose, câncer, diabetes, hipertensão, entre outras. Muitas crianças têm tendência a repelir esses alimentos, sobre tudo hortaliças. Está provado que o número de vezes necessário para que a pessoa passe a gostar de um alimento é, aproximadamente, 10. Portanto, as crianças devem ser incentivadas a experimentar todos os alimentos. Uma tática que muitas vezes funciona consiste em dizer à criança: você quer espinafre ou couve, em vez de perguntar: "você quer couve?"

Além disso, o exemplo dado pelos adultos é importante. Se os pais não têm o hábito de ingerir frutas e hortaliças, é difícil convencer uma criança a fazê-lo. Por outro lado, não se devem forças as crianças. Sabe-se que os sabores dos alimentos passam para o leite e, ainda, atravessam a placenta. Portanto, se a mãe ingere uma variedade de alimentos durante a gravidez e a lactação, as crianças já ficam expostas aos aromas e sabores diversos e passam a apreciar os alimentos correspondentes com mais facilidade.

Um fato que vem preocupando a OMS e todas as autoridades de nutrição do mundo é o excesso de propagando de alimentos com alto teor calórico e baixo valor nutritivo – os popularmente chamados de "porcaria" – que os nutricionistas chamam de "calorias vazias", isto é, alimentos que contribuem apenas para o aporte calórico, sem trazer outra vantagem para quem os consome. Está demonstrado que a incidência de obesidade é proporcional à quantidade de exposição a esse tipo de publicidade, quanto a isso, alguns países como a Austrália já estão se movimentando para controlar as propagandas desse tipo de alimento.

Reflexo Condicionado:

Não é boa norma usar o alimento como consolo, gratificação, suborno, etc. É comum o uso do alimento para compensar estados emocionais negativos. Se a criança se machuca, por exemplo, é comum dar-lhe um alimento – geralmente de alto conteúdo calórico – como consolo. Se a criança está triste, tenta-se alegrá-la com um doce ou um sorvete. Ninguém tenta consolar uma criança com uma cenoura ou uma banana. Esse tipo de comportamento cria um reflexo condicionado que permanece na idade adulta. Se a pessoa está ansiosa, estressada, triste ou reprimida ela busca consolo no alimento. Por que? Durante toda a vida ela foi gratificada com alimento quando se lhe deparava alguma dificuldade.

Ambiente Obesogênico:

Deve-se evitar o ambiente obesogênico na família. O hábito de ter refrigerantes, doces, biscoitos em casa contribui para que a criança se torne obesa. Frequentemente, os pais reclamam que as crianças consomem muito refrigerantes, biscoitos e etc. Pergunta-se: a criança vai comprá-los? Não há dúvida de que esses alimentos são saborosos e é difícil evitar que eles façam parte da rotina diária. Sugere-se que se estabeleçam dias certos para seu consumo, por exemplo: fins de semana. Com isto a criança disciplina-se e o prazer será maior, visto que a rotina foi rompida.

Na adolescência os problemas são múltiplos. As cantinas escolares, geralmente, só ofertam alimentos com alto teor calórico. Raramente o jovem aceita levar frutas para consumir nos intervalos das aulas. Ele não aceita ser diferente dos colegas que frequentam as lanchonetes da vizinhança.

Já se mencionou a importância do exercício físico na prevenção da obesidade (Atlantis, Barnes & Singh, 2005). Deve-se acrescentar que chegam a 20 os benefícios que o exercício físico traz para a saúde, sendo um deles o controle do peso corporal.

Tratamento:

O denominador comum do tratamento de toda obesidade é estabelecer um balanço negativo entre a ingestão e o gasto de energia. Pode-se optar pelos chamados "regimes". Contudo, todo regime leva à monotonia dietética à qual se segue o abandono da "dieta". Deve-se entender que NÃO existe alimento que engorde. O que engorda é a quantidade. Doce não engorda se for consumido em pequena quantidade. Ricota engorda, sim, se for consumida em grande quantidade. Portanto, a criança deve aprender a comer menos. É comum forçar-se a criança a comer muito com a falsa ideia de que ele pode ficar desnutrida. A criança tem maior noção do quanto ela necessita do que o adulto imagina. Há que se intervir no lar, na escola e na sociedade para evitar o ambiente obesogênico.

As mudanças nos hábitos alimentares e do estilo de vida mencionados contribuirão para a prevenção da obesidade. É importante um entrosamento do profissional da saúde com o paciente para o sucesso do tratamento. Contatos pessoais, por telefone, pelo correio eletrônico, contribuem muito para o sucesso do tratamento. Reilly (2006) recomenda que toda a família deve envolver-se no tratamento e que mais tempo de consulta seja dedica à criança. O médico de família e o pediatra devem estar atentos ao primeiro sinal de excesso de peso e aconselhar atividade física, dieta adequada e mudança de comportamento (Plourde, 2006).

Consequências:

As consequências da obesidade são bem conhecidas. Ressaltam-se: doença vascular, diversos tipos de câncer, diabetes, músculo-esquelético, hipertensão arterial, complicações pulmonares, problemas psicossociais, entre outros. A síndrome metabólica (hipertensão arterial, hipercolesterolemia, resistência à insulina, hipertrigliceridemia) está acometendo crianças e adolescentesem virtude da obesidade (Weiss et al, 2004). Ocorre, também antecipação da menarca na jovem obesa.

Prevenção:

A prevenção deve iniciar-se durante a gravidez. A mulher que ganha peso em excesso tem filhos mais robustos, o que predispõe à obesidade. O aleitamento materno previne contra o excesso de peso. Crianças alimentadas artificialmente na primeira inf^ncia têm mais tendência a tornar-se obesas (Arenz Ruckerl, Koletzko & Von Kries, 2004; Nelson, Gordon-Larsen & Aldair, 2005; Owen et al., 2005), embora alguns autores demonstrem que esse efeito é discreto (Shields et al.; 2006).

O tabagismo da mãe predispõe à obesidade na criança. Dados obtidos com a população de índios americanos revelam que o tabagismo da mãe aumenta a incidência da obesidade aos três anos de vida (Adams, Harvey, Prince, 2005). Portanto, durante a gravidez e o aleitamento materno a mãe deve abster-se de fumar.

Outro fator importante já mencionado acima é o exercício físico. Devem-se evitar brinquedos movidos a motor. Devem ser privilegiados brinquedos que exijam esforço físico da criança, como bicicleta, triciclo. Muitos pais julgam que agradam o filho dando-lhe brinquedos que simulam automóveis. Na verdade, estão prejudicando seu futuro.

Agora, para você, destacamos algumas dicas para reduzir o tempo de tela das crianças e adolescentes nesse período de férias:

  • O quarto é lugar para dormir: não deve ter TV nem computador – isso melhora o sono, além de reduzir o tempo de tela;
  • Durante as refeições não usar celular e nem assistir TV;
  • Fazer o controle do tempo de tela em conjunto com o filho, tentando não ultrapassar o limite de duas horas diárias;
  • Proporcionar outras atividades, como escutar música, brincadeiras e jogos de tabuleiro, por exemplo;
  • Os filhos tendem a imitar os pais, assim é importante que os próprios pais coloquem em prática as dicas acima, dando o exemplo!

Fonte: Haase, Vitor Geraldi. Aspectos biopsicossociais na infância e adolescência. Belo Horizonte: Coopmed, 2009.

Associação Brasileira de Obesidade – ABESO, 2017.

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Escrito por

Psicóloga Tamires Alencar

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