O direito e a necessidade da desconexão do trabalho

A tecnologia vem avançando e uma das consequências é o entrelaçamento entre a vida profissional e pessoal. Você sai do trabalho e recebe e-mails, ligações... seria isso um caminho sem volta?

29 OUT 2018 · Leitura: min.
O direito e a necessidade da desconexão do trabalho

A tecnologia vem avançando em uma velocidade superior à nossa capacidade de acompanhar. Não precisa de muito tempo para que o que há de mais moderno e atual se torne ultrapassado. As ferramentas que envolvem tecnologia, como velocidade da internet, wifi, smartphones, e-mails, aplicativos de comunicação e redes sociais, proporcionam cada vez mais ofertas de agilidade, aumento de produtividade e uma gama enorme de informações de todos os tipos em frações de segundos. Porém, será que diante de tantos benefícios não estamos atentos aos prejuízos que ela vem impactado?

E no vínculo empregatício? Será que existe a necessidade de um novo olhar sobre limites?

Direito à desconexão do trabalho

Recentemente na França foi elaborada uma lei de desconexão ao trabalho. O que motivou a elaboração desta lei foi justamente a percepção de que devido às ferramentas de tecnologia os direitos dos empregados estavam sendo violados, existindo a necessidade de adaptações no código legal.

Tantas ferramentas que foram incorporadas ao material de trabalho da maioria dos funcionários que o panorama evoluiu de tal forma que chegou-se à conclusão de que a jornada de trabalho estava se tornando indiretamente integral através da conexão.

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Mesmo fora de sua jornada de trabalho, os funcionários continuavam sendo acessados através de e-mails, mensagens ou ligações, e ainda que este tipo de suporte remoto não estivesse acordado previamente em contrato, nas entrelinhas fica entendida a obrigatoriedade de atender a demanda, estando disponível para outros funcionários ou clientes. 

Assim como em outros países, no Brasil não tem sido diferente. Os impactos da tecnologia na saúde e qualidade de vida ainda estão em desenvolvimento e não foi estabelecido um consenso e conscientização sobre os limites profissionais diante da vida pessoal do empregado quando tantas ferramentas de acesso estão à disposição. 

Quais os impactos a tecnologia podem oferecer a saúde? 

O uso de instrumentos como e-mails, smartphones, redes sociais, entre outros, tem efeito estimulante ao nosso sistema nervoso central. Nesse sentido, seu uso ininterrupto ou excessivo pode causar efeitos de dependência e desorganização no funcionamento natural do organismo, podendo desencadear: 

  • alterações no humor, no sono e no apetite;
  • inquietação;
  • preocupações excessivas e desproporcionais em relação à problemática de seu trabalho e críticas sobre urgência; 
  • níveis elevados de estresse; 
  • isolamento social e perda de habilidades de comunicação, caracterizando uma personalidade introspectiva;
  • perda de senso crítico sobre suas necessidades fisiológicas: não fazer pausas para se alimentar ou beber água, retenção de urina, entre outros.

Outro aspecto relevante que vêm sendo avaliado por profissionais da área são os impactos e prejuízos na memória e potencial criativo daquele que recorre a tecnologia em tempo integral: 

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  • Não são raras as pessoas que precisam recorrer a algum aparelho tecnológico para lembrar o telefone ou a data de aniversário de alguém importante. Isso se dá pelo fato de que o acesso facilitado às informações privam o cérebro de ser exercitado, havendo prejuízos na retenção de memórias. 
  • O acesso facilitado a todo tipo de informações combinado à falta de exercício cerebral afeta o potencial criativo pela ausência de estímulos que levam ao raciocínio. Pela criatividade ser uma peça-chave na solução de problemas e imprevistos no cotidiano profissional ou pessoal, o profissional deixa de usufruir desta habilidade, tornando-se menos eficiente na tomada de decisões e resolução de qualquer conflito que saia do previsto. 

Limites pela saúde e qualidade de vida

Outro ponto primordial que se atrela a essa nova dinâmica das empresas e a necessidade da criação da lei de desconexão do trabalho está diretamente relacionado à realização profissional e satisfação com o trabalho. 

Saúde e qualidade de vida dependem da combinação de inúmeros fatores, considerando os diversos papeis que exercemos em diversos campos de nossa vida: profissão, amigos, lazer, família, hobbies, prática de atividades físicas, dentre muitos outros. 

A partir do momento em que, mesmo em horário de lazer, o profissional é acessado, isso impede a pessoa de desfrutar com qualidade dos outros aspectos de sua vida e de seu papel. Consequentemente, a curto, médio ou longo prazo, o trabalho, embora necessário, será associado a um estímulo nocivo à saúde, já que suas escolhas sobre como organizar seu tempo livre são sempre violadas. 

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O acesso e a obrigatoriedade de estar à disposição estimula que nosso cérebro entenda que está sob aviso, elevando o nível de estresse. Combinando a ausência desses limites, os resultados tendem a evoluir para quadros graves de saúde:

  • desenvolvimento de depressão,
  • ansiedade,
  • síndrome de burnout,
  • problemas cardiovasculares,
  • dores musculares,
  • estafa mental, etc.

Diante de tantos prejuízos em nossa saúde, por instinto de preservação, o desejo de manter distância de seu ambiente de trabalho evolui, e consequentemente, conclui-se que a produtividade e o custo-benefício desta dinâmica envolvem apenas prejuízos. 

Enquanto a lei não chega no Brasil...

Ainda que a legislação trabalhista considere o trabalho remoto como caracterização de horas extras, se a questão for levada ao judiciário, as relações laborais costumam não dar brechas para que você se negue ao que está sendo proposto. Infelizmente, ainda não temos uma lei de direito de desconexão e a reivindicação por questões básicas e pessoais da vida costumam ser mau vistas e confundidas com falta de comprometimento.

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Aqueles que sofrem com essa dinâmica frequentemente se sentem ameaçados pela possível perda de seu emprego. Por esta razão, e até mesmo para prevenção da evolução de quadros psicossomáticos, é indicado que seja iniciada a psicoterapia, para que dentro de suas possibilidades exista acolhimento, fortalecimento emocional e ajustes na rotina sem que prioridades básicas sejam deixadas de lado.

Ainda que exista pressão, sua saúde e bem-estar devem prevalecer diante de qualquer demanda profissional. 

Fotos: MundoPsicologos.com

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Escrito por

Maitê Hammoud

Psicóloga clínica com curso de aperfeiçoamento em psicanálise, é especialista no atendimento de adolescentes, adultos e terceira idade. Seguindo a abordagem psicanalítica e da terapia breve, atua com foco em transtornos emocionais e comportamentais, relacionamentos interpessoais e questões familiares.

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Comentários 3
  • Denis Ferreira

    Realmente,é uma coisa que precisamos dar um tempo as vezes...

  • Karina Matos

    Gostei bastante do conteúdo!

  • Guilherme Dias

    Realmente o assunto do texto tem toda razão! Especialista em Como Resgatar Dinheiro de Consorcio Cancelado, Sao Paulo - SP

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