Meu filho foi diagnosticado com TDAH, o que fazer?

Atualização sobre o tema "TDAH", com uma reflexão sobre os excessivos diagnósticos desse transtorno no Brasil e no mundo, e a consequente medicalização de crianças sem necessidade.

13 JUL 2015 · Leitura: min.
Meu filho foi diagnosticado com TDAH, o que fazer?

Pais que lidam com crianças excessivamente agitadas ou com problemas de comportamento e de capacidade de concentração na escola geralmente são aconselhados a procurar um especialista, psicólogo ou psiquiatra, para fazer uma avaliação e, se for o caso, iniciar um tratamento.

Nesses casos, a maior chance é de que essas crianças sejam diagnosticadas com Transtorno de Déficit de Atenção com ou sem Hiperativade (TDA/H). E o tratamento mais recorrente é o medicamentoso, com o uso do Metilfenidato ("Ritalina" e "Concerta") e acompanhamento psicoterapêutico.

Essa é a prática mais comum, como demonstra os números sobre o consumo do Metilfenidato no Brasil, que em poucos anos se tornou o segundo maior consumidor mundial deste medicamento. A grande aceitação dos pais em medicar os filhos nestes casos deve-se principalmente à dificuldade de se informar com mais profundidade sobre o tema. Considero dois motivos principais para que isto ocorra:

  • Apesar do amplo debate sobre o tema, com pesquisas realizadas no mundo inteiro e que sugerem importantes divergências de opiniões e resultados sobre o fenômeno TDAH, no Brasil as informações que chegam ao grande público só contam um lado da história. De que o tratamento com o Metilfenidato é seguro e o meio mais eficaz para tratar esse transtorno, que nada mais é que uma patologia de ordem neurológica e de origem genética e comportamental.
  • Também os terapeutas assumem uma postura conservadora sobre o tema, não procurando se informar com mais clareza a respeito das controvérsias que envolvem a questão TDAH. Não é muito difícil encontrar terapeutas que se promovem justamente a partir do tema, focando seu trabalho no atendimento com crianças com suspeitas ou diagnóstico de TDAH. Hoje essa é uma demanda grande, principalmente por conta de pedidos realizados pelas escolas dessas crianças. Infelizmente, a grande maioria dos pais não procuram se informar além daquilo que é transmitido pelo terapeuta ou, quando o fazem, sofrem a dificuldade de encontrar nada além daquilo que já é transmitido por institutos que oferecem suporte sobre o tema, mas que apenas transmitem (quando não são financiados) pesquisas dos próprios laboratórios que fabricam o composto Metilfenidato.

Diante disso, o que fazer? Para não tornar este texto mais um grande aglomerado de informações acadêmicas, preparei algumas perguntas com comentários que considero que devem ser realizadas para que cada um faça seu próprio juízo a partir de reflexões e contestações, afim de optarem pelo melhor tratamento para seus filhos, sem estarem totalmente no escuro, ou com a perspectiva de um só lado da história.

TDAH existe?

Embora pareça uma questão ingênua, tem sido objeto de grande debate no meio acadêmico. TDAH é reconhecido pelo CID (Catálogo Internacional de Doenças), baseado em pesquisas acadêmicas que atestam sintomas semelhantes que caracterizam o transtorno em uma parcela significativa da população. Enquanto conceito, TDAH existe e se fundamenta. Mas é justamente o discurso deste conceito que tem sofrido críticas importantes.

É baseado em alguns critérios de comportamento que se identifica o indivíduo com TDAH. Não existe hoje nenhum exame clínico que possa identificar, neurologicamente, a presença do transtorno. Então a pergunta que se deve fazer também é… A alteração do comportamento é uma deficiência do organismo da pessoa ou ocasionado por sua relação com o ambiente em que vive?

Então como se sabe que uma pessoa tem TDAH?

O diagnóstico começa a partir de um questionário. A recomendação é para que este questionário seja apenas um ponto de partida e que o diagnóstico deve acompanhar outras observações realizadas pelo profissional. Mas, grande parte destes diagnósticos é realizada em 1 ou 2 sessões, o que invalida a recomendação. Se o cliente é criança, também um questionário é enviado para a escola, que responde se a criança balança os pés quando está sentada na carteira ou se frequentemente não presta atenção nas explicações da professora.

Esses questionários são vagos e apresentam comportamentos comuns da infância. E a partir destes critérios, facilita-se muito o diagnóstico deste transtorno, o que explica em parte o número excessivo de crianças medicadas hoje no Brasil. Mesmo profissionais que reconhecem o TDAH como uma patologia real que deve ser tratada com medicamento, estão percebendo que a situação atual é de uma quantidade de crianças diagnosticadas e medicadas muito acima do normal.

Mas existe um problema real de falta de atenção e comportamentos hiperativos?

Se suspendermos o conceito de TDAH e observamos o que anda acontecendo com o comportamento das crianças, principalmente em ambiente escolar, estaremos lidando diretamente com o fenômeno sem a preocupação de classifica-lo em alguma patologia. O conceito de Transtorno e Déficit de Atenção direciona o problema na criança e pouco age no ambiente. Atua-se com o intuito de alterar o comportamento da criança por vias medicamentosas com a finalidade de adequá-la aos ambientes que frequenta. Esse é um paradigma. E se deixamos esse paradigma de lado, talvez possamos criar outros olhares sobre o fenômeno.

É fato observado por pais, educadores e terapeutas que hoje existe um número significativo de crianças com alguma dificuldade de adaptação ao ambiente escolar. E isso reflete-se em comportamentos inadequados às normas da escola ou na falta ou dificuldade de prestar atenção no conteúdo transmitido em sala de aula. O cerne da questão aqui não é "qual o problema dessas crianças" mas sim algo mais fundamental como "qual é a demanda dessas crianças?". Pois educar não se trata apenas de adequar e transmitir conhecimento, mas sim de compreender o ser que está ali para ser desenvolvido e torna-lo ético, pleno, íntegro, capaz de se realizar. Concentração, comportamento, interesse, vitalidade, são questão educacionais, e não médicas.

Meu filho foi diagnosticado com TDAH, o que fazer?

Se informe, mas procure questionar as informações que encontrar, observando sempre se existem argumentos contrários ao que está sendo dito. Essa é uma atitude científica e sensata. Para dar um exemplo: Saber quais são os efeitos colaterais é fundamental. No caso do Metilfenidato, facilmente se encontra a informação de que os efeitos colaterais são brandos em relação aos benefícios do uso do medicamento. Existem inúmeras publicações acadêmicas que contestam esse fato.

Medicar ou não medicar?

O pior dos efeitos colaterais do Metilfenidato não é orgânico, mas psicológico: o estigma. Tratar uma criança por conta de um problema psíquico não é como tratar uma doença do corpo. Um apêndice inflamado resolve-se com cirurgia. Já um problema psíquico é um problema da alma, da personalidade, do que se é e do que se pode ser. Portanto, é extremamente delicado para uma criança compreender que sua dificuldade de prestar atenção é um problema dela e que um remédio pode ajudar.

Dificuldade de prestar atenção ou se comportar de forma agitada não são questões que podem ser reduzidas a uma única patologia. São questões do desenvolvimento, da formação do ser. Desenvolver a capacidade de estar atento é uma habilidade essencial no desenvolvimento de um ser humano e está diretamente ligado ao conhecimento de si mesmo. Pois é conhecendo seu próprio processo psíquico, seus anseios, interesses que percebe-se onde se nutrirá energia suficiente para um foco perfeito do que se faz, estuda, se cria.

Para algumas crianças, este não é um aprendizado fácil. E geralmente são as crianças mais criativas e geniais que apresentam comportamento mais difíceis de lidar. Mas, ainda assim, elas precisam passar por isso, serem auxiliadas no sentido de buscarem este centro próprio capaz de possibilitar o autoconhecimento. É assim que encontrarão seus talentos mais genuínos.

Medicar uma criança é reduzir seu aprendizado a uma patologia duvidosa. As dificuldades oriundas de sua educação devem ser bem orientadas mas, sobretudo, enfrentadas com coragem. O ser humano tem toda uma vida para se desenvolver e cada um possuí um ritmo próprio que precisa ser respeitado para que se realize de forma plena. A medicação talvez traga momentos de tranquilidade para os pais e para a criança, mas não ameniza os efeitos colaterais presentes e futuros.

O estigma que o tratamento medicamentoso causa reflete na adolescência e fase adulta com um quadro de dependência psicológica e química para manter o espectro que o efeito do medicamento proporciona. Alguns usuários de metilfenidato não reclamam do tratamento que receberam, mas não se sabe até que ponto possuem consciência do quanto esse estigma transformou suas personalidades. Medicar ou não medicar é uma pergunta que precisa ser respondida com consciência, sabendo dos riscos, sabendo das diferentes perspectivas sobre o tema, e não com a ilusão dos discursos fabricados e superficiais.

Os fenômenos que se traduzem nos sintomas descritos pelo Transtorno de Déficit de Atenção são fatos que necessitam de atenção. Existem muitos terapeutas que procuram meios de auxiliar o desenvolvimento da criança sem a necessidade de medicação. Assim como também educadores sensíveis a estas questões capazes de criar alternativas de ensino que melhor atendam as demandas de crianças que sentem dificuldades com os modelos de sua escola. É preciso persistir na busca se o intento é voltado ao reconhecimento do ser como ele é. Educar exige flexibilidade e paciência.

A recomendação fundamental é: pesquisem, se informem, busquem opiniões diferentes e façam perguntas essenciais para tomarem uma decisão. É o desenvolvimento de seus filhos que está em questão.

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Escrito por

Psicologia e Paideia - Rafael Ladenthin Menezes

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