Internet, falta de privacidade e traumas

Mais uma vez, uma jovem brasileira teve sua intimidade exposta na Internet. A história de “Fran” ganhou páginas no Facebook no início de outubro, mas começou mesmo foi no Whatsapp. 

12 NOV 2013 · Leitura: min.
Internet, falta de privacidade e traumas
Mais uma vez, uma jovem brasileira teve sua intimidade exposta na Internet e tudo aconteceu de forma tão agressiva que fica difícil vislumbrar uma rápida recuperação. A história de “Fran” ganhou páginas no Facebook no início de outubro, mas começou mesmo foi no Whatsapp, uma aplicação para celulares que permite o envio de mensagens de texto, fotos e vídeos. Segundo o que foi divulgado pela Internet, o namorado/parceiro da jovem teria enviado a amigos e conhecidos fotos e vídeos da jovem em momentos íntimos, falando de preferências sexuais.

As imagens se alastraram e, em pouco tempo, já era um viral na rede. Inúmeras pessoas começaram a postar fotos imitando a jovem “Fran”, fazendo um sinal de “ok” com os dedos da mão. Outros responderam revoltados à invasão da privacidade da jovem, defendendo o direito da livre expressão e da preservação da intimidade.

Apesar da ampla difusão das imagens e do fato de essas terem sido repassadas sem o consentimento da jovem, o ato não se enquadra na Lei 12.737/12, que ficou conhecida como Lei Carolina Dieckmann. Isso porque o material audiovisual foi repassado ao namorado/parceiro pela própria vítima. Quando, em 2012, fotos nuas de Carolina Dieckmann foram divulgadas na Internet sem autorização, inclusive em servidores de descargas do Exterior, essas foram roubadas por um técnico informático do computador da atriz.

Entretanto, a difamação decorrente da difusão das fotos e vídeos da jovem “Fran” pode sim ser caractarizada como delito, tendo como base a Lei Maria da Pena. Nesse caso, a pena que podem ir de três meses a um ano de detenção, caso o suspeito seja condenado.

Esse episódio serve para evidenciar uma série de problemas que assolam a sociedade atual, como a falta de limites entre vida pública e privada em plataformas sociais, a falta de critério na hora de compartilhar determinado tipo de informação, a ausência de uma lei específica para esse tipo de delito cometido através da Internet e outras ferramentas tecnológicas, entre outras questões importantes. 

Para a vítima, fica sempre o trauma. A psicóloga Ana Cláudia de Souza lembra que o problema do limite entre público e privado é seríssimo. 

"O problema da exposição na internet é o mesmo dos excessos de exposição que ocorria antes, mas agora multiplicado às milhares de pessoas que frequentam a rede. O sujeito precisa aprender regras sociais e precisa aprender a dar-se limites. Se isso não ocorre, a pessoa seguramente terá problemas de várias ordens, psicológicos e nas relações".

Familiares e amigos de vítimas desse tipo de violação da intimidade e privacidade devem estar preparados para ajuda-los a enfrentar as consequências. Ana Cláudia explica que, quando ocorre, o modo de agir é mesmo que em qualquer crime: tomar as providências legais e cabíveis. Entretanto, mais importante do que isso, é ir acompanhando, conversando e se interessando pelas coisas desse indivíduo, numa tentativa de evitar que se chegue a este ponto.

"A família precisa estar preocupada com os jovens desde a tenra infância: orientando, esclarecendo, ensinando. Um jovem que foi bem acompanhado durante o período de desenvolvimento da sua personalidade, já aprendeu limites e então sabe mover-se preservando-se".
Desvios das redes sociais

A Internet de uso comercial caminha para duas décadas de existência no Brasil e, atualmente, quase metade da população já é usuária. Plataformas como o Facebook (que reúne quase 1 bilhão de usuários) são utilizadas para diversos fins, de pessoais a profissionais. Assim como as tecnologias, as redes sociais continuam evolucionando, mas não há como negar que nem todos os avanços são positivos para os usuários.

A falta de privacidade e o uso dado às informações pessoais apareceriam como o calcanhar de Aquiles para negócios como Facebook. O comportamento da “superexposição voluntária” vem sendo objeto de intenso estudo no Brasil, já que somos o país em que gasta mais tempo com as redes sociais. A liberdade para escrever o que não se diria “ao vivo", a agressividade, o anonimato que permite e sustenta situações desagradáveis seriam apenas algumas das manifestações usuais na rede, de acordo com o Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática (NPPI), da PUC de São Paulo.

Outro problema seria a euforia artificial sustentada por uma “espiral da felicidade”, em que o usuário vê amigos felizes e se sente obrigado a estar feliz e curtir a felicidade alheia. Essa corrente seria responsável por sentimentos negativos e sofrimento de boa parte dos usuários.

Seja qual o for o perfil do usuário, mais ativo ou menos, para estar nas plataformas sociais é preciso compartilhar informações. O que será feito com tudo o que é postado nos próximos anos é a grande questão. Há quem acredite que, nos próximos anos, será necessário inclusive pagar para manter as informações pessoas como privadas. E, por isso, defende amadurecimento e perda da inocência na hora de utilizar tais ferramentas.

Foto: por g4ll4is (Flickr)

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Comentários 2
  • Alguem deste imenso IP

    Tudo o que fizer na web é para sempre, como tatuagem. Até mesmo o mais banal dos comentários. É quase impossível apagar uma informação da internet e há muitos sites que rastreiam dentro dos aplicativos, mesmo sem seu consentimento, mesmo protegido por senha.

  • Manuelle Brito

    Olá! Pagar para ter privacidade é um absurdo, porque vivemos em um país corrupto e hipócrita! O que tem que ser feito é penalizar quem agrediu expondo as imagens e a educação é e sempre será a melhor maneira de prevenir os futuros cidadãos.

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