Falando sobre o suicídio: uma forma de prevenir e conscientizar

Esperamos que a possibilidade de falar sobre o suicídio seja um dos caminhos de prevenção e conscientização

30 SET 2016 · Leitura: min.
Falando sobre o suicídio: uma forma de prevenir e conscientizar

Falar sobre a morte, por si só, nos causa profundo desconforto e medo. Imagina então falar sobre a morte como uma escolha, quando esta é considerada a única alternativa para livrar-se de uma dor emocional insuportável. É difícil conseguir entender como alguém vê e escolhe a morte como única saída.

O ato suicida é como se fosse o último pedido de ajuda daquele que sofre, quando viver se torna sacrificante e as emoções se tornam insuportáveis. A pessoa já não consegue encontrar sentido na vida. Nessa confusão interna de sentimentos e com uma carga emocional extremamente negativa, alguns comportamentos costumam ser bem característicos, e são grandes indicativos de que algo não está bem.

Porém não existe, comprovadamente, uma única manifestação clara que indique o risco de suicídio, mas sim vários sintomas, comportamentos e sentimentos que podem ser considerados fortes indicativos desse risco. Dentre eles, destacam-se: profunda tristeza, apatia e sentimentos de desesperança; quadro depressivo; isolamento; perda de interesse por atividades rotineiras e indisposição para sair. Mudanças súbitas de humor também podem ser observadas, principalmente momentos de euforia, após um longo período de tristeza.

Além disso, aos contrário do que muitos pensam, os avisos verbais também são preocupantes e merecem total atenção. São alguns deles: "quero morrer"; "não vou fazer falta", "quero sumir", "não vejo saída". Mesmo que em um primeiro momento o ato de tirar a própria vida seja inverídico, partimos da premissa que o apelo não deixa de ser patológico, e precisa ser investigado.

Mas, apesar de emitir vários sinais, muitas vezes as pessoas de convívio próximo não sabem e não entendem os avisos daquele que está sofrendo. Para a pessoa que sofre, restam apenas três alternativas: falar, adoecer ou recorrer ao ato suicida.

Infelizmente o número de pessoas que decidem tirar a própria vida, aumenta ano após ano. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) até 2020 mais de 1,5 milhões de pessoas vão cometer suicídio. Em média, ocorrem 800.000 suicídios por ano no mundo; uma morte a cada 40 segundos. O ato suicida está crescendo principalmente entre os jovens de 15 e 29 anos. Além disso, o número de tentativas é vinte vezes a do suicídio consumado; média de uma tentativa a cada 20 segundos. Segundo dados de 2015, o suicídio é a 4º causa de morte de pessoas entre 15 e 44 anos.

Apesar de algumas pesquisas afirmarem que todos, alguma vez, já pensaram em tirar a própria vida, há alguns fatores de risco que prolongam e sustentam esses pensamentos no sujeito, impulsionando-o efetivamente ao ato. Assim, o suicídio é considerado um desfecho de vários fatores que se acumulam ao longo da vida, e por isso não é considerado consequência apenas de acontecimentos pontuais. O fato é que muitos não procuram e não querem falar sobre essa "carga" negativa acumulada, que lhe causa sofrimento e angústia.

Segundo dados da Cartilha da Associação Brasileira de Psiquiatria, pessoas com alguma doença mental, como depressão, transtorno de humor e transtorno de personalidade, tem maiores chances de cometer suicídio. O diagnóstico de alguma doença crônica não psíquica, como câncer e HIV, também aumentam o risco, exigindo maior atenção dos profissionais que acompanham essas pessoas.

Muitas vezes, pessoas com algum desses quadros clínicos citados acima, estão bem próximas de nós, mas por não termos maiores informações sobre o assunto, ignoramos sintomas, comportamentos ou qualquer sinal de alerta constantemente emitido por elas. Além disso, falar sobre suicídio ainda é considerado tabu.

Porém, com o intuito de disseminar mais informações e falar efetivamente sobre o suicídio, campanhas de conscientização e prevenção estão ganhando cada vez mais força. Desde 2014 é promovido no Brasil o Setembro Amarelo. Durante todo o mês são abertos espaços para debates e divulgação sobre o tema, conscientizando a população sobre o cuidado e atenção sobre manifestações e comportamentos suicidas, principalmente de pessoas próximas, como familiares, amigos ou colegas.

Aumentar as informações sobre o assunto, seja para a população em geral ou para os profissionais da área de saúde mental, amplia o caminho para a prevenção e conscientização, evitando na maioria das vezes, o ato suicida. Mas aqui, é preciso um cuidado especial: manter o equilíbrio das informações.

Não queremos o silêncio, mas menos ainda o sensacionalismo. Por isso, divulgar imagens, ou informações detalhadas de como alguém se suicidou, de nada contribui para o entendimento sobre o assunto. Às vezes, essas informações podem encorajar os mais vulneráveis, que podem encontrar no suicídio a alternativa eficaz para terminar com a dor.

Além dessa promoção e divulgação de informações sobre o tema, talvez o mais importante seja abrir caminhos para que a própria pessoa possa falar sobre o que sente. Apesar de muitas vezes elas sentirem grande dificuldade em falar e expressar seus sentimentos, elas querem sim ser ouvidas. Não à toa, muitos escrevem longas cartas explicando os motivos pelos quais a levaram ao ato suicida, deixando assim o registro de suas palavras para além daquele momento.

Falar neste caso pode ser libertador, e é preciso promover isso antes da pessoa tirar a própria vida. Às vezes, o desabafo em uma sessão com um profissional da área de saúde mental pode ser suficiente para tirá-lo, naquele momento, da mais profunda situação de angústia e sofrimento. Assim, afastado o risco, o acompanhamento constante se faz necessário, e aos poucos a indiferença por viver vai se transformando em um impulso para uma nova vida.

Através da psicoterapia, por exemplo, promove-se um espaço de fala, capaz de estimular a pessoa a fazer uma releitura de sua vida, ressignificando emoções e sentimentos, que antes eram confusos e angustiantes.

É claro que esse processo de fala não é simples, ou prático, e também não garante total anulação dos sentimentos negativos, e o abandono pelo ato suicida. Em casos extremos, a intervenção inicial precisa ser severa, com uso de medicamentos e em alguns casos internação. E só depois do controle da situação, é que se abre espaço para a fala.

Esperamos, contudo, que a possibilidade de falar sobre o suicídio seja um dos caminhos de prevenção e conscientização. E que esse caminho possa fazer com que a pessoa abandone a ideia de que, paradoxalmente, a morte seria a única saída para a vida.

Foto: MundoPsicologos.com

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Escrito por

Daiane Haas Psicóloga e Coach

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